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Noite de violência no Brasil ganha manchetes na Alemanha

Roberto Crescenti21 de junho de 2013

Principais jornais do país destacaram também a dimensão dos protestos em várias cidades brasileiras, a reunião de emergência da presidente Dilma Rousseff, "ação brutal" da polícia e violência nas manifestações.

Foto: Reuters

Na manhã desta sexta-feira (21/06), os meios de comunicação da Alemanha continuaram dando prioridade aos protestos no Brasil contra o alto custo de vida, os gastos excessivos com eventos esportivos internacionais, como a Copa das Confederações e a Copa do Mundo de futebol de 2014, corrupção e falta de infraestrutura.

A violência em várias mobilizações mais de 100 cidades do país na quinta-feira, a morte de um jovem na cidade paulista de Ribeirão Preto e a reunião de emergência convocada pela presidente Dilma Rousseff foram os principais assuntos de destaque na imprensa do país.

Em sua página online, a revista Der Spiegel, principal semanário do país, mencionou que os gastos excessivos do governo com a Copa das Confederações e Copa do Mundo "despertaram a ira dos brasileiros": "Eles reclamam que o custo de vida aumentou com os investimentos maciços" nesses eventos. "Além disso, a carga tributária no país aumentou muito nos últimos anos, sem melhorias em escolas, hospitais ou ruas. Outra reivindicação é o combate à corrupção", diz o texto da revista.

A Spiegel também destacou as "centenas de feridos" nos protestos pelo Brasil na quinta-feira. A morte de um manifestante em Ribeirão Preto, atropelado por um motorista cujo carro atravessou barreiras de proteção, também foi destaque.

Violência e protesto pacífico

Assim como os demais órgãos de imprensa alemães, a Spiegel deu ênfase à violência dos protestos, em especial no Rio de Janeiro, onde lojas foram saqueadas e carros queimados. Segundo a revista, excessos foram cometidos pela polícia, o que resultou em 44 feridos no Rio (relatos da imprensa internacional falam em mais de 60 feridos), enquanto em Brasília cerca de 120 manifestantes ficaram feridos por disparos de balas de borracha ou tiveram dificuldades para respirar por causa do uso de gás lacrimogêneo pela polícia.

A reportagem também mencionou que, em São Paulo, 100 mil pessoas tomaram as ruas em um protesto "majoritariamente pacífico."

Além de iniciar o texto sobre as manifestações com menção aos "violentos confrontos" entre polícia e manifestantes, o website do jornal Die Welt deu destaque para a reunião de emergência convocada pela presidente Dilma Rousseff e para o cancelamento de sua viagem ao Japão.

Os protestos, com mais de um milhão de participantes em mais de 100 cidades pelo país, "saíram do controle", diz o texto do jornal, que também relatou sobre a tentativa de invasão ao ministério das Relações Exteriores na capital federal, Brasília.

"No Rio de Janeiro, um pequeno grupo de manifestantes jogou pedras na polícia, que revidou com gás lacrimogêneo e balas de borracha. Os manifestantes ficaram em pânico e tentaram fugir para as ruas adjacentes. Depois disso, a polícia também usou gás lacrimogêneo contra a massa pacífica de manifestantes", relatou o jornal, citando a agência noticiosa France Presse.

O Die Welt também citou, como excesso das atitudes da polícia, o exemplo de um jornalista da Rede Globo de televisão, que foi atingido na cabeça por uma bala de borracha.

Imprensa alemã destaca a violência da polícia contra os manifestantesFoto: Reuters

"Os 20 centavos foram apenas o início"

A manchete do jornal Frankfurter Allgemeine Zeitung (FAZ) foi "Um milhão de pessoas nas ruas". O texto da edição online do jornal diz que os manifestantes exigem melhores condições na saúde, na educação e querem o fim da corrupção.

O artigo diz ainda que "a polícia atuou de forma brutal contra os manifestantes" e cita a declaração de uma colega do jornalista ferido: "A polícia perdeu completamente o controle e não tem capacidade para lidar com manifestações desse tipo."

O FAZ cita também uma declaração do historiador da Universidade do Rio de Janeiro, Francisco Carlos Teixeira, que disse que a agenda dos manifestantes é ampla, mas que "o 'não' à corrupção" é, para a maioria, a principal causa dos protestos. O diário também mencionou a morte do manifestante em Ribeirão Preto e a revolta pelos gastos do governo com os megaeventos esportivos.

A "noite de violência" foi destaque do jornal Süddeutsche Zeitung, segundo o qual os protestos ganharam uma "nova dimensão". O jornal utilizou um tom mais dramático do que os demais ao afirmar que as condições em muitas cidades eram de "guerra civil".

De acordo com o jornal, no Rio de Janeiro, a maioria se reuniu pacificamente, mas quando os policiais intervieram com granadas de gás os protestos viraram uma "batalha nas ruas". O Süddeutsche Zeitung, assim como o FAZ, também classificou a ação da polícia como "brutal", tanto no Rio de Janeiro como em Brasília.

A manchete do website do Tagesschau, o principal noticiário da TV alemã, afirmava “Spray de pimenta em alta” no Brasil, com destaque também para a violência nos protestos do Rio de Janeiro.

A reportagem menciona ainda que frases como "os 20 centavos foram apenas o início" podiam ser lidas em diversos cartazes nas manifestações, que faziam referência ao aumento de tarifas de transporte público em São Paulo, catalisador dos protestos inicialmente locais e que tomaram proporções nacionais.

O Tagesschau cita ainda a declaração de um manifestante que menciona "o sistema partidário, a corrupção, a impunidade" como motivos de revolta da população. Como o FAZ, o website destacou também a indignação com os gastos com a Copa do Mundo e a reunião de emergência convocada pela presidente Dilma Rousseff.

"Samba contra gás lacrimogêneo e cassetetes", titulou o jornal semanal Die Zeit. A página online do jornal descreve que mesmo os manifestantes mais pacíficos foram vítimas da truculência dos policiais. O personagem do texto, Ronaldo Silva, de 31 anos, estaria tentando abandonar o vício em drogas e faz parte de um grupo de terapia ligado à Igreja evangélica. Ronaldo carregava um cartaz com os dizeres "Não à Violência" e foi citado afirmando que "nós, da favela, somos aqueles que não aparecem nos cartões postais, somos muitos e não estamos nada bem."

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