Família Bolsonaro emplaca indicações de amigos no governo enquanto filho do vice-presidente triplica salário após promoção em banco público. Pelo Twitter, presidente ironiza críticas.
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Cinco dias antes do primeiro turno da eleição presidencial de 2018, Jair Bolsonaro afirmou que "o desaparelhamento do Estado" e "o fim das indicações políticas" eram remédios para "salvar o Brasil". A promessa de acabar com o empreguismo e dar preferência para pessoas de perfil técnico foi repetida em entrevistas e na propaganda do então candidato no horário político na TV.
Mas, menos de duas semanas após o seu início, o governo Bolsonaro já vem registrando a mesma prática que foi corriqueira em governos do PT e do MDB: a nomeação de apadrinhados políticos e amigos para cargos burocráticos, alguns deles estratégicos e bem remunerados. Entre os indicados estão amigos do próprio presidente e de seus filhos, da primeira-dama e até o filho do vice-presidente.
A promoção relâmpago
O caso que chamou mais atenção envolve Antonio Hamilton Rossell Mourão, filho do vice-presidente da República, Hamilton Mourão. Funcionário de carreira do Banco do Brasil, Mourão Filho foi indicado poucos dias depois da posse do pai a um cargo de assessor especial pelo novo presidente do banco, Rubem Novaes. A nomeação triplicou o salário de Mourão Filho, que ganhava cerca de 12 mil reais por mês na função de assessor empresarial. Com a nova função, seu salário passou para 36,3 mil reais.
O vice-presidente defendeu a nomeação e sugeriu que seu filho não havia subido mais na carreira anteriormente por "perseguição" de gestões anteriores justamente por causa do parentesco. Só que segundo o jornal conservador Gazeta do Povo, Mourão Filho recebeu oito promoções durante gestões petistas. O jornal também apontou que em seu atual cargo, de assessor empresarial, Mourão Filho teria que galgar mais três postos antes de chegar a assessor da presidência do banco sem a necessidade de indicação.
Várias contas de extrema direita de apoio a Bolsonaro nas redes sociais tentaram minimizar a indicação. A tática envolveu divulgar um currículo para supostamente atestar a qualificação de Mourão Filho e até mesmo a disseminação de uma versão mentirosa de que o ocupante anterior do cargo era um petista que ganhava 100 mil reais por mês.
No entanto, mesmo com esse esforço, a nomeação repercutiu mal entre grupos conservadores, como o Movimento Brasil Livre (MBL), e militantes de direita.
"Filho de Vice-Presidente nomeado pra cargo público com salário de 37 mil? Essa não é a 'Nova Era'. Essa é a 'Era Sarney', escreveu no Twitter o apresentador conservador Danilo Gentilli.
As indicações dos filhos
A primeira crise pública do governo Bolsonaro envolveu a indicação de um apadrinhado político. Alecxandro Carreiro não tinha qualquer experiência em comércio exterior, mas foi nomeado no início do mês para a presidência da estratégica Agência Brasileira de Promoção de Exportações e Investimentos (Apex), um serviço ligado ao Itamaraty para promover exportações brasileiras e atrair investimentos externos. Além disso, segundo a imprensa brasileira, ele mal falava inglês, um requisito para o cargo, e tinha como credenciais acadêmicas passagens por universidades mal avaliadas pelo Ministério da Educação (Mec).
Carreiro conseguiu o cargo ao ter seu nome incluído em uma indicação conjunta apresentada por deputados do PSL e chancelada por um dos filhos do presidente, o senador eleito Flávio Bolsonaro (PSL-RJ). A indicação causou mal-estar entre os funcionários da Apex. A situação piorou ainda mais quando Carreiro começou a demitir vários funcionários antigos para, por sua vez, nomear aliados, sem qualquer período de transição.
Mas Carreiro acabou não durando nem dez dias no cargo. Nesta quarta-feira (09/01), o ministro das Relações Exteriores, Ernesto Araújo, anunciou no Twitter que Carreiro havia pedido demissão. No entanto, Carreiro apareceu para trabalhar no dia seguinte e despachou normalmente, se recusando a abandonar o cargo a não ser que Bolsonaro tomasse a decisão. A confusão – amplamente noticiada – só foi encerrada no final do dia, quando o presidente anunciou a saída definitiva de Carreiro do cargo e a escolha de outro nome.
Segundo diversos jornais brasileiros, o estopim para a saída de Carreiro foi uma crise entre ele e Letícia Catelani, diretora-executiva da Apex. Catelani, por sua vez, foi nomeada para o cargo, que tem salário de 43,6 mil reais, no dia 7 de janeiro por indicação de outro filho do presidente, o deputado Eduardo Bolsonaro (PSL-SP).
Ativista de direita e dona de uma importadora, ela chegou a ser expulsa da Executiva Nacional do PSL em 2018 após atritos com outros dirigentes. Desde então, vinha se aproximando ainda mais do chanceler Araújo e do deputado Eduardo. Em julho de 2018, em uma reportagem da revista Época sobre empresários que apoiavam Bolsonaro, Catelani disse: "Não me vitimizo, acredito na meritocracia."
Os amigos do casal presidencial
Não foram apenas os filhos do presidente que emplacaram apadrinhados no governo. Uma amiga da primeira-dama, Michelle Bolsonaro, foi anunciada recentemente para cuidar da Secretaria Nacional das Pessoas com Deficiência, ligada ao novo Ministério da Mulher, da Família e dos Direitos Humanos. Priscila Gaspar é deficiente auditiva e atuou como interprete de libras durante a campanha de Bolsonaro. Ela também frequenta com a primeira-dama a Igreja Batista Atitude, no Rio de Janeiro.
Já o próprio presidente Bolsonaro indicou um amigo para o cargo de gerente executivo de Inteligência e Segurança Corporativa da Petrobras. Carlos Victor Guerra Nagem é funcionário da Petrobras há 11 anos, mas antes dessa indicação nunca havia ocupado cargo comissionado na estatal. No seu currículo também constam passagens pela Escola Naval e duas candidaturas malsucedidas a deputado e vereador no Paraná em 2002 e 2016. Em uma dessas campanhas, contou com o apoio do próprio Bolsonaro, que apareceu em um vídeo afirmando que Nagem era seu "amigo particular".
O presidente da Petrobras, Roberto Castello Branco, negou em entrevista ao jornal Folha de S.Paulo que a indicação de Nagem para o novo cargo tenha motivação política.
Após a repercussão do caso, o presidente da República e um de seus filhos foram às redes sociais rebater as críticas e atacar a imprensa, que destacou a amizade entre Jair Bolsonaro e o indicado.
Numa mensagem no Twitter, o presidente listou parte do currículo de Nagem e disse: "Apesar de brilhante currículo, setores da imprensa dizem que é apenas 'amigo de Bolsonaro'". Logo depois, disse "Peço desculpas à grande parte da imprensa por não estar indicando inimigos para postos em meu governo!"
Um de seus filhos, o vereador Carlos Bolsonaro, também escreveu: "Está decretado pela mídia: Bolsonaro não pode convidar pessoas que ele conheça, capacitadas e obedientes da lei para seu governo! Só inimigos e estocadores de vento!"
Curiosamente, o presidente também apagou parte do teor de uma mensagem em que defendeu Nagem. Na noite de quinta-feira, ele havia publicado no Twitter uma imagem com o currículo do amigo e escrito "A seguir o currículo do novo Gerente Executivo de Inteligência e Segurança Corporativa da Petrobras: a era do indicado sem capacitação técnica acabou, mesmo que muitos não gostem. Estamos no caminho certo!"
Pouco mais de quarenta minutos depois, apagou a mensagem e publicou uma nova versão sem o trecho que falava de indicados sem capacitação técnica. "A seguir o currículo do novo Gerente Executivo de Inteligência e Segurança Corporativa da Petrobras, mesmo que muitos não gostem, estamos no caminho certo!", escreveu o presidente na nova publicação.
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Com diplomação, presidente eleito conclui primeira fase da transição e já tem o gabinete formado. Durante a campanha, ele prometeu reduzir número de ministros de 29 para 15, mas acabou com 22. Veja quem são.
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Redução modesta
Durante a campanha, Jair Bolsonaro prometeu reduzir o número de ministérios de 29 para 15. Mas, durante a transição, o presidente voltou atrás e promoveu uma redução bem menor do que a prometida. Ao todo, há 22 pastas no novo governo. Entre os ministros, há filiados do DEM, PSL e MDB, além de dez com laços militares, dois discípulos de Olavo de Carvalho e apenas duas mulheres.
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Paulo Guedes
Guru econômico e ministro anunciado ainda durante a campanha, Paulo Guedes comanda o superministério da Economia, formado pela junção das pastas da Fazenda, do Planejamento e da Indústria e Comércio Exterior. O economista é investigado pelo Ministério Público Federal (MPF), suspeito de ter cometido fraudes na captação de recursos de fundos de pensão de estatais entre 2009 e 2013.
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Onyx Lorenzoni
Deputado federal do DEM, Onyx Lorenzoni articulou a campanha de Bolsonaro desde 2017 e foi indicado para assumir a Casa Civil. Em sua carreira política, já foi deputado estadual no Rio Grande do Sul e, desde 2003, tem mandatos na Câmara. Após ser citado na delação da JBS, ele admitiu ter recebido caixa dois de campanha, e está sendo investigado pela Procuradoria-Geral da República.
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Sérgio Moro
Juiz federal que foi responsável pela Lava Jato em primeira instância, Sérgio Moro comandará o Ministério da Justiça. Seu decisão de entrar para a política causou polêmica. Foi ele quem condenou Lula pela primeira vez em 2017, o que marcou o início dos problemas do ex-presidente em registrar sua nova candidatura ao Planalto em 2018. Fato que ajudou Bolsonaro a assumir a liderança nas pesquisas.
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Marcos Pontes
Astronauta que chegou a ser cotado para vice da chapa do PSL, Marcos Pontes chefiará o Ministério da Ciência Tecnologia. Formado em engenharia aeronáutica pelo Instituto Tecnológico de Aeronáutica, Pontes se tornou o primeiro astronauta brasileiro da história e foi enviado ao espaço pela Missão Centenário, em 2006, durante o governo do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Ele é filiado ao PSL.
A deputada federal Tereza Cristina (DEM) comandará o Ministério da Agricultura. Engenharia agrônoma e empresária, Tereza Cristina foi presidente da Frente Parlamentar da Agropecuária e indicada pela bancada ruralista para o cargo. Ela defende a aprovação do projeto lei que flexibiliza as regras para a fiscalização e aplicação de agrotóxicos no país.
Foto: imago/Fotoarena/A. Mauricio
Ernesto Araújo
Diplomata de carreira, Ernesto Araújo assumirá o Ministério das Relações Exteriores. Discípulo de Olavo de Carvalho, ele atuou no Itamaraty em várias áreas, porém, nunca chefiou uma embaixada. Araújo mantinha um blog no qual fez campanha para Bolsonaro, chamou o PT de "Partido Terrorista" e disse querer libertar o mundo da "ideologia globalista". Admira Donald Trump e nega o aquecimento global.
Foto: Getty Images/AFP/S. Lima
Luiz Henrique Mandetta
Deputado federal do DEM (MS), Luiz Henrique Mandetta ficou com o comando do Ministério da Saúde. Médico ortopedista e ligado a Lorenzoni, ele era crítico do Programa Mais Médicos. Entre 2005 e 2010, Mandetta foi secretário municipal de saúde de Campo Grande. A passagem pelo cargo lhe rendeu um inquérito por suspeita de fraude em licitação, tráfico de influência e caixa dois.
Foto: Agência Brasil
Fernando Azevedo e Silva
O general da reserva Fernando Azevedo e Silva foi escolhido para o Ministério da Defesa. Natural do Rio, ele deixou o Alto Comando do Exército em 2018 e passou a assessorar o presidente do STF, Dias Toffoli. Azevedo e Silva foi chefe do Estado-Maior do Exército e comandante da Brigada Paraquedista, onde serviu ao lado de Bolsonaro. Chefiou ainda operações na Missão de Paz da ONU no Haiti.
Foto: Tomaz Silva/Agência Brasil
Ricardo Vélez Rodríguez
Escolha do colombiano antipetista Ricardo Vélez Rodríguez para assumir o Ministério da Educação foi indicação de Olavo de Carvalho. Nascido em Bogotá e naturalizado brasileiro, Vélez Rodríguez é formado em filosofia e mostrou apoiar várias das bandeiras defendidas por Bolsonaro, como a expansão de escolas militares no país e o combate a uma suposta predominância de ideias esquerdistas no ensino.
Foto: Agência Brasil
Tarcísio Gomes de Freitas
O ex-diretor do Dnit Tarcísio Gomes de Freitas chefiará o novo Ministério da Infraestrutura, que deve englobar a atual pasta de Transportes, Portos e Aviação Civil. No governo Temer, Freitas foi secretário de Coordenação de Projetos do Programa de Parceria em Investimentos e consultor legislativo da Câmara dos Deputados. O engenheiro civil iniciou a carreira no Exército e atuou no Haiti.
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Gustavo Canuto
Servidor efetivo do Ministério do Planejamento, Gustavo Henrique Rigodanzo Canuto comandará o novo Ministério do Desenvolvimento Regional. Servidor sem filiação partidária, Canuto é formado em engenharia da computação e direito e já atuou na Secretaria Geral da Presidência da República, na Agência Nacional de Aviação Civil (Anac) e na Secretaria de Aviação Civil.
Foto: Fabio Rodrigues Pozzebom/Agência Brasil
Osmar Terra
Ex-ministro do governo Temer, Osmar Terra assumiu o novo Ministério da Cidadania e Ação Social. Médico, Terra é deputado federal pelo MDB desde 2001. Já foi prefeito de Santa Rosa (RS) e secretário de Saúde do RS. Terra poderá ser um dos ministros que trará dor de cabeça a Bolsonaro. O deputado apareceu na superplanilha da Odebrecht, que indicaria propinas pagas a políticos.
Foto: Viola Jr/Camara dos Deputados
Marcelo Álvaro Antônio
Deputado do PSL Marcelo Álvaro Antônio assumirá o Ministério do Turismo. Integrante da frente parlamentar evangélica, ele foi o candidato mais votado em Minas Gerais, reeleito para o segundo mandato neste ano. Antes de ser deputado, Antônio foi vereador de Belo Horizonte. Antônio é o segundo filiado do PSL escolhido por Bolsonaro para integrar seu governo.
Foto: Agência Brasil/Valter Campanato
Bento Costa Lima Leite de Albuquerque Júnior
O almirante Bento Costa Lima Leite de Albuquerque Júnior chefiará o Ministério de Minas e Energia. Ele atuou como diretor-geral de Desenvolvimento Nuclear e Tecnológico da Marinha, foi observador do Brasil na Força de Paz das Nações Unidas em Sarajevo, na Bósnia-Herzegovina, e comandante de submarinos.
Foto: Getty Images/AFP/H. Retamal
Damares Alves
Pastora evangélica e assessora do senador Magno Malta (PR), Damares Alves foi escolhida para chefiar o Ministério da Mulher, Família e Direitos Humanos. A advogada trabalha há mais de 20 anos no Congresso. Ela já declarou que a mulher nasceu para ser mãe, se posicionou contra o feminismo e políticas voltadas a diminuir a discriminação de homossexuais. É contra a legalização do aborto e das drogas.
Foto: Agência Brasil/V. Campanato
Ricardo de Aquino Salles
Advogado e criador do Endireita Brasil, Ricardo de Aquino Salles será o ministro do Meio Ambiente. Salles foi secretário estadual do Meio Ambiente no governo de Geraldo Alckmin. É réu por improbidade administrativa, acusado de esconder alterações em mapas do zoneamento ambiental do rio Tietê, numa ação que teria favorecido mineradoras. Foi ainda diretor da Sociedade Rural Brasileira.
Foto: Imago/Fotoarena
Ministérios dentro do Planalto
Além da Casa Civil, outros três ministérios funcionam dentro do Planalto. Ex-presidente do PSL e aliado próximo de Bolsonaro, Gustavo Bebianno será o chefe da Secretaria-Geral. O general reformado que comandou a Missão ONU para a Estabilização no Haiti Augusto Heleno ficou com o Gabinete de Segurança Institucional. Já o general Carlos Alberto dos Santos Cruz ficará com a Secretaria de Governo.
Foto: Getty Images/AFP/M. Pimentel
AGU e CGU
A Advocacia-Geral da União (AGU) ficará sob o comando do advogado André Luiz de Almeida Mendonça, que, ao longo da carreira, atuou em áreas de transparência e combate à corrupção. O Ministério da Transparência e Controladoria-Geral da União (CGU) continuará a ser chefiado por Wagner Rosário (foto). O servidor de carreira ocupa o cargo desde junho de 2017, indicado pelo ex-presidente Michel Temer.
Foto: Agência Brasil/Marcelo Camargo
Roberto Campos Neto
O chefia do Banco Central ficou com o economista Roberto Campos Neto, neto do ex-ministro do Planejamento Roberto Campos, que comandou a pasta entre 1964 e 1967, durante a ditadura militar. Próximo de Paulo Guedes, já atuou no banco Santader, no banco Bonzano Simonsen e na gestora de fundos Claritas.