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HistóriaFrança

Notre-Dame, um ano após o incêndio

Sabine Oelze ca
15 de abril de 2020

Em 15 de abril de 2019, mundialmente famosa catedral parisiense pegou fogo. Desde então, especialistas preparam intensamente a reconstrução, mas início dos trabalhos ainda está sem data.

Paris Ein Jahr nach Brand Notre-Dame
Um ano após o incêndio, o chumbo é um verdadeiro problema para a reconstruçãoFoto: picture-alliance/dpa/MAXPPP

Há exatamente um ano, em 15 de abril de 2019, o mundo todo pôde assistir um dos principais cartões-postais de Paris, a Catedral de Notre-Dame, ser destruída pelas chamas.

Os bombeiros tentaram desesperadamente salvar o que podia ser salvo. Pouco depois, o presidente da França, Emmanuel Macron, anunciava em discurso na televisão: "Vamos reconstruir a Notre-Dame ainda mais bonita. E quero que ela esteja pronta em cinco anos".

Desde então, arquitetos, engenheiros, arqueólogos e historiadores da arte têm se ocupado em investigar os danos que o incêndio causou na catedral de 850 anos.

Ainda não há avaliação final de danos

Num subúrbio perto de Paris, ao lado de uma pilha de blocos de pedra, vê-se o geólogo Jean-Didier Mertz. Os blocos estão embrulhados em celofane, alguns têm manchas escuras que indicam traços de chumbo. É por isso que não se devem tocá-los ou movê-los, alerta Mertz. Os pedaços vêm de paredes que caíram da famosa Notre-Dame.

Jean-Didier Mertz e sua equipe do Laboratório de Pesquisa de Monumentos Históricos (LRMH), um dos laboratórios de pesquisa mais renomados da França, vêm assessorando e pesquisando a reconstrução da catedral de Notre-Dame desde o incêndio, há um ano.

Eles transportaram os blocos de pedra de Paris para seu laboratório no subúrbio de Champs-sur-Marne, a cerca de 50 quilômetros da capital, para fins de pesquisa. Com sua expertise, Mertz está avaliando agora a condição dos blocos.

Como as pedras suportaram as temperaturas muito elevadas do incêndio? Sofreram danos? Podem ser aproveitadas? "As pedreiras não existem mais", observa o geólogo. "Queremos tentar encontrar novos blocos com materiais idênticos. Além disso, por meio de nossa pesquisa, queremos descobrir qual é a condição das pedras restantes na catedral."

Por esse motivo, Mertz quer saber mais sobre a argamassa usada na época. "Ela tem 850 anos e durou séculos. Queremos descobrir do que é feita para que possamos restaurá-la da mesma forma que foi executada na época."

O interior da catedral após o incêndio de 2019Foto: Getty Images/AFP

Pedras de Notre-Dame

Os geólogos, químicos, engenheiros ou microbiologistas do LRMH trabalham em toda a França. A tarefa deles é proporcionar apoio científico e técnico na preservação e restauração de monumentos históricos.

Os especialistas trabalham em diferentes campos de pesquisa: pedra, madeira, concreto, metal, têxtil. Eles dão recomendações para que a restauração de um edifício seja a melhor possível. Desde o incêndio da Notre-Dame, Mertz e seus colegas têm se ocupado apenas da catedral danificada. Existem primeiros resultados? "Não", lamenta Mertz, "ainda não pudemos entregar os resultados definitivos."

Primeiramente, o LRMH vai elaborar instruções destinadas a ajudar os restauradores a limpar as pedras com cuidado. "Eles não podem simplesmente raspar o chumbo, senão informações importantes serão perdidas."

Toda pedra é valiosa

Atualmente, cerca de 800 paletas dessas pedras estão armazenadas no pátio da Notre-Dame. Nenhum fragmento de entulho de um monumento tão simbólico é jogado fora. Tudo é catalogado, analisado e armazenado.

Mesmo que Mertz ainda não possa dizer se as pedras que está examinando serão usadas na reconstrução da Notre-Dame, ele afirma já ter aprendido muito ao longo desse trabalho. "Houve algumas surpresas arquitetônicas. Descobrimos que no cruzamento do transepto, onde o arquiteto Viollet-le-Duc construiu a flecha [torre central em forma de agulha] no século 19, arcos duplos foram instalados para apoiar o edifício."

Investigar esses segredos faz o coração dos pesquisadores bater mais rápido. Mas a reconstrução não se volta apenas para o passado, mas também para o futuro.

Exposição ao chumbo

Um ano após o incêndio, o chumbo é um verdadeiro problema para a reconstrução. As placas do telhado de cinco milímetros de espessura, que derreteram durante o incêndio, pesavam mais de 200 toneladas. Além disso, outras 250 toneladas vieram da flecha principal revestida inteiramente de chumbo e projetada pelo arquiteto restaurador Eugène Viollet-le-Duc no século 19.

Enquanto as chamas ainda ardiam, tudo o que pôde ser transportado foi retirado da catedral e levado a salvo. Os vitrais também foram removidos nove dias após o incêndio. Um trabalho árduo. Afinal, havia quase mil metros quadrados de vitrais na Notre-Dame.

Claudine Loisel, química e especialista do departamento de pintura de vitrais do LRMH, estava lá e acompanhou de perto os trabalhos. "Os vitrais estão bem", diz Loisel, aliviada. "A nave abobadada serviu ao seu propósito, resguardando as janelas das chamas como um escudo protetor", explica. "E os bombeiros seguiram exatamente o plano de emergência. Isso evitou um choque térmico, ou seja, uma mudança rápida de temperatura na superfície das janelas."

Missa de Páscoa no interior esvaziado da CatedralFoto: picture-alliance/dpa/L. Marin

Vitrais da catedral praticamente intactos

Os vitrais também estão contaminadas por chumbo. A camada preta sobre o vidro é tão venenosa que Loisel precisa usar um traje de proteção com máscara facial e óculos ao realizar seus exames.

Em seu pequeno escritório, veem-se plantas baixas da catedral na tela do computador. À DW, Loisel relatou sua alegria ao adentrar a catedral um dia após o incêndio. "Quando vimos que os vitrais podiam ser facilmente removidos da alvenaria, que tudo permanecia coeso, que nada foi destruído, e o vidro não se partiu em mil pedaços, ficamos muito felizes."

Os vitrais foram salvos. Mas, e as paredes da Notre-Dame? Repetidas vezes houve rumores de que a estática teria sofrido com o incêndio, e que a catedral corria o risco de desabar.

O maior problema ainda é a desmontagem dos andaimes. Eles foram armados antes do incêndio para restaurar a flecha principal. A agulha de Viollet-le-Duc caiu, mas os andaimes permaneceram. Para poder desmontá-los, os arcos botantes tiveram que ser reforçados com vigas de madeira.

Projetos ousados para a nova Notre-Dame

Os perfis metálicos dos andaimes se amontoaram no calor das chamas. Por muitos meses, o tempo atrapalhou a desmontagem. E agora, com a crise do coronavírus, todo o trabalho está parado.

Num prazo máximo de cinco anos, Macron havia prometido aos franceses reconstruir a Notre-Dame ainda mais bonita do que antes. Nesse contexto, alguns renomados arquitetos apresentaram seus próprios projetos: Notre-Dame com teto de vidro, Notre Dame com piscina na coberta, Notre-Dame com jardinagem urbana no telhado.

Nenhuma dessas sugestões será implementada. Um concurso de arquitetura será anunciado apenas em junho de 2020 ‒ a menos que a crise da covid-19 também invalide essa data.

"Ninguém precisa se preocupar com a possibilidade de se construir uma piscina, um teatro ao ar livre, um teto transparente ou algo semelhante na Notre-Dame. Acredito que a catedral vai ser reerguida com muito respeito por seu significado e sua história e vai ressuscitar com um novo brilho", disse Aline Magnien, diretora do LRMH.

A reconstrução está programada para começar em 2021. Para tal, foram disponibilizados quase 1 bilhão de euros de cerca de 320 mil doadores. Mas, atualmente, ninguém pode precisar a data do início dos trabalhos.

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