Nova barraca pode melhorar condições de vida em acampamentos de refugiados
Guy Degen (cn)26 de setembro de 2014
Assim como as barracas tradicionais, o Domo é fácil de montar. Só que ele dura mais e é também altamente adaptável a mudanças climáticas e às necessidades das pessoas.
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Muitos acampamentos de refugiados estão localizados em ambientes inóspitos. E, em fuga de desastres naturais ou conflitos, as pessoas deslocadas podem acabar vivendo durante anos, em alguns casos até décadas, em barracas e tendas improvisadas.
"Uma tenda é boa para oferecer socorro por um curto espaço de tempo. Ela é leve e pode ser transportada para qualquer lugar de forma bem rápida. Mas, depois desse tempo, começam os problemas", afirma o designer alemão Daniel Kerber, diretor da organização Morethanshelters (mais que abrigos).
Kerber e sua equipe criaram um novo modelo de moradia para acampamentos de refugiados, chamado Domo, que, assim como as tradicionais barracas, é fácil de montar. Só que o Domo dura mais e é também altamente adaptável a mudanças climáticas e às necessidades das pessoas.
Segundo Kerber, o novo conceito se orienta principalmente pelas necessidades dos refugiados, em vez de simplesmente atender às necessidades das agências humanitárias, preocupadas em organizar rapidamente abrigos emergenciais em larga escala. "Temos que considerar que essas pessoas, de onde quer que elas venham, trazem consigo sua cultura, e dela faz parte um padrão espacial."
Fácil de montar
O Domo foi projetado para pesar o mesmo que uma tenda padrão, ou seja, cerca de 50 quilos. Do lado de fora, ele se parece com um grande iglu. Tem seis lados, recobertos com algodão do lado de dentro. Andar dentro da barraca de 25 metros quadrados é confortável, pois seu teto tem quase três metros de altura.
A estrutura em forma de cúpula possui seis braços dobráveis, que podem ser feitos de madeira compensada, metal ou até mesmo plástico reciclado. "Essa é nossa invenção principal. Tivemos de criar uma estrutura que possa ser montada do nada", conta Kerber. Ele afirma que os braços dobráveis permitem que o Domo seja facilmente montado por duas pessoas, sem a necessidade de ferramentas.
Enquanto as barracas tradicionais dos acampamentos de refugiados precisam ser substituídas a cada seis ou oito meses, a estrutura principal do Domo pode durar até dez anos, assegura Kerber. Só a cobertura externa precisa ser substituída ou ao menos reforçada, dependendo das condições climáticas.
"Uma família africana de 20 pessoas precisa viver separada nos atuais acampamento, pois as barracas comportam no máximo cinco pessoas." Muitas vezes, crianças vivem separadas das mães, afirma. O Domo pode mudar isso.
Vida mais digna
O estresse por viver num acampamento de refugiados é muito alto. O acampamento de Zaatari, por exemplo, para refugiados sírios no norte da Jordânia, é a atual morada de mais de 100 mil pessoas. Desde sua criação, em 2012, ele se tornou uma cidade gigantesca e, diversas vezes, foi cenário de violência. A isso somam-se tempestades de areia e condições climáticas extremas: calor intenso no verão e temperaturas muito baixas no inverno. Kerber afirma que o Domo pode ajudar a aliviar tensões nesses locais.
As barracas, por exemplo, podem ser agrupadas para grandes famílias. E, se os refugiados precisarem morar nesses locais por um longo período, o Domo pode ser transformado em cabana ou, até mesmo, numa casa. Os primeiros testes na Dinamarca, na África do Sul e na Namíbia mostraram que o sistema de fato oferece mais conforto do que o abrigo padrão para refugiados.
Segundo Stefan Tahn, especialista em emergência da agência alemã Technische Hilfswerk que ajudou a construir o campo de Zaatari, o Domo pode mudar a maneira como os funcionários das agências humanitárias veem os acampamentos de refugiados. "Ele é fácil de ser ajustado, e eu acho importante que as pessoas possam ajustar e modificar elas mesmas sua morada", opina Tahn.
O sistema está agora em fase de testes para a certificação. No próximo ano, ele poderá estar liberado para uso em campos de refugiados.
Patrimônio cultural em perigo na Síria
A guerra civil na Síria, que já matou milhares desde 2011, torna-se cada vez mais brutal. Em meio ao conflito, locais considerados patrimônios culturais também têm sido destruídos. A Unesco está tentando protegê-los.
Foto: Daniel Leal-Olivas/AFP/Getty Images
Não há sociedade sem cultura
Por mais de quatro milênios, influências babilônicas, egípcias, persas, gregas e romanas cruzaram caminhos na Síria. Hoje, locais culturais preciosos estão sendo danificados enquanto a guerra civil se desenrola. A Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (Unesco) está preocupada com o patrimônio cultural do país.
Foto: by-sa-Longbow4u
Centro histórico de Aleppo
Em 2013, a Unesco afirmou que seis locais classificados como Patrimônio Mundial na Síria estavam em perigo, entre eles o centro histórico de Aleppo. A história da cidade é antiga: sua localização no mar Mediterrâneo lhe rendeu menções em documentos que datam do século 19 a.C.
Foto: Getty Images
Mercado em chamas
A Unesco também incluiu o centro histórico de Aleppo em sua lista de Patrimônio Mundial por causa de seu antigo "souk", o maior mercado coberto no Oriente Médio. O bazar ocupa uma área de cerca de 350 hectares com diversas ruas e centenas de lojas. No entanto, nem o muro de cinco quilômetros que cercava o centro histórico foi capaz de proteger o mercado, que queimou durante um combate em 2012.
Foto: AFP/Getty Images
Cidadela ocupada
Durante a guerra civil, locais culturais têm sido usados como bases estratégicas. Entre eles está a Cidadela de Aleppo, uma fortaleza no topo de uma montanha perto da Cidade Velha. O Império Selêucida – uma dinastia após Alexandre, o Grande – ergueu o complexo no século 4 a.C. Gregos, romanos, persas, bizantinos e otomanos também construíram templos ali.
Foto: picture alliance/Bildagentur Huber pixel
Cidade Velha de Damasco
A Cidade Velha de Damasco, habitada pelos últimos 4 mil anos, também está na lista da Unesco. Antes do levante contra o regime de Bashar al-Assad, o local – cheio de mercados, restaurantes, igrejas e mesquitas – era uma das principais atrações da Síria. Bombas explodiram ali em junho de 2013, a primeira vez em que a área foi atingida como parte de um grande ataque.
Foto: REUTERS
Arco Monumental sob fogo
A cidade oásis de Palmira também corre risco. O Arco Monumental ainda está de pé, mas algumas escavações arqueológicas foram saqueadas. Palmira é um dos marcos arquitetônicos da Síria. Avenidas, com suas colunas de ordem coríntia, o arco do tempo do imperador Séptimio Severo e as paredes do Templo de Baal agora estão todas marcadas por buracos de bala.
Foto: Louai Beshara/AFP/Getty Images
A batalha por Krak dos Cavaleiros
O Krak dos Cavaleiros (Krak des Chevaliers, em francês), um castelo preservado na região de Homs, também está no meio da zona de conflito. Cruzados indo para Jerusalém chegaram ao local em 1099. O estado atual do castelo é incerto. O Exército de Libertação Sírio estaria utilizando o local como uma base. Soldados do governo, no entanto, teriam tomado o controle do castelo em março de 2014.
Foto: Fotolia/Facundo
As ruínas do anfiteatro de Bosra
O anfiteatro de Bosra já foi considerado um dos teatros romanos mais bem preservados no mundo. No século 12, ele foi convertido em uma fortaleza árabe. Em tempos modernos, músicos e orquestras de todo o mundo elogiaram sua acústica especial. O combate, porém, parece ter deixado o local em ruínas.
Foto: Fotolia/waj
"Cidades mortas" em perigo
As chamadas "cidades mortas" da Síria continuam em perigo. Essas pequenas vilas no norte do país têm diversas casas da era Bizantina. Alguns prédios antigos em Jerada também estavam bem preservados até o início da guerra civil. Desde que o combate começou, entretanto, algumas partes das construções pegaram fogo e também foram saqueadas.
Foto: Creative Commons/Bertramz
Saques em museus
Os museus da Síria também correm perigo. Muitos deles estão no meio de zonas de combate – como o museu em Idlib, que abriga a maioria dos inestimáveis tabletes de argila Ebla. Desde 2011, várias peças valiosas foram retiradas de museus em Damasco e Aleppo para serem armazenadas em um cofre do Banco Central sírio. No entanto, a maioria dos museus não consegue se defender dos saques.