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Nova guerra do gás entre Ucrânia e Rússia ameaça Europa

Azad Safarov | Oleksandr Holubov | Markian Ostaptschuk md
11 de março de 2018

Disputa envolvendo contratos de distribuição pode vir a prejudicar fornecimento a países europeus. Nações dos Bálcãs seriam as principais afetadas, afirmam especialistas.

Operário checa equipamento em gasoduto ucraniano
Operário checa equipamento em gasoduto ucranianoFoto: picture-alliance/dpa/epa/R. Pilipey

A nova briga entre a Rússia e Ucrânia por causa de gás está preocupando a União Europeia (UE). Com base na experiência de conflitos semelhantes, em 2006 e 2009, quando o gás deixou de fluir através da Ucrânia, Bruxelas se ofereceu para ajudar na solução da disputa. Há preocupação também em Berlim. "É do interesse da UE, assim como da Rússia e da Ucrânia, que estes dois países se revelem parceiros confiáveis ​​no fornecimento do gás europeu e que a segurança do fornecimento permaneça sem interrupção", disse o porta-voz do governo alemão, Steffen Seibert.

No final de fevereiro, o tribunal de arbitragem da Câmara de Comércio de Estocolmo determinou que a gigante do gás russa Gazprom pague à companhia ucraniana Naftogaz uma compensação de 2,56 bilhões de dólares porque a Rússia enviou menos gás através do gasoduto ucraniano do que o acertado contratualmente. As autoridades ucranianas já começaram a confiscar ativos da Gazprom na Ucrânia.

A Gazprom anunciou que recorrerá do veredicto. Antes, o grupo russo havia anunciado a rescisão de todos os contratos com a Naftogaz. O lado ucraniano respondeu que a Gazprom não pode rescindir o fornecimento e o trânsito de gás antes de 2019.

Alemanha não está ameaçada

A Rússia reagiu muito rapidamente à sentença do tribunal de Estocolmo, ameaçando parar o fornecimento de gás, segundo a especialista alemã em energia Claudia Kemfert. "Certamente há também motivos políticos. Mais uma vez, o gás é usado como arma política, algo que já vimos há muitos anos", lamenta Kemfert.

O analista Jörg Forbrig, do German Marshall Fund of the United States (GMF), enfatiza, nesse contexto, que ninguém está interessado em outro conflito entre a Ucrânia e a Rússia. "A guerra da Rússia contra a Ucrânia ainda não foi resolvida, apesar de todos os esforços da Alemanha. O que Berlim menos precisa agora é que esse conflito se espalhe para o setor de energia e afete diretamente a Europa", afirma Forbrig.

O gás russo é muito importante para a Alemanha. Mas a maioria do fornecimento para o país não chega através de gasodutos ucranianos. Nos últimos anos, a maior parte do gás consumido na Alemanha foi fornecida pelos gasodutos Nord Stream, do Báltico, e Yamal-Europa, através da Bielorrússia e da Polônia. "A linha através da Ucrânia tem um papel secundário, pelo menos para os consumidores e o mercado alemães", explica Forbrig.

No ano passado, a Alemanha consumiu um recorde de 53 bilhões de metros cúbicos de gás russo. O gás russo tem uma participação de 40% da quantidade consumida. Segundo Forbrig, uma parte considerável dessa demanda é coberta também com fornecimentos da Noruega e da Holanda.

Briga entre gigante do gás russo Gazprom e a ucraniana Naftogaz afetaria principalmente o Leste Europeu

Bálcãs

Graças à diversificação do fornecimento de gás e às instalações de armazenamento existentes, uma suspensão do fornecimento vindo através da Ucrânia não atingiria a Alemanha. Conflitos anteriores de gás entre a Ucrânia e a Rússia mostraram que os países dos Bálcãs é que são os mais afetados: Bulgária, Romênia, Sérvia, Bósnia-Herzegovina e Macedônia. "Esses países são quase que completamente abastecidos com o gás russo que é fornecido através da Ucrânia", diz Forbrig. E esses países não possuem outros meios para obter gás russo.

A Eslováquia também é fortemente dependente do oleoduto ucraniano, de acordo com Forbrig. Mas na Europa Central, as linhas estão agora bem interligadas. "A Eslováquia e também a Áustria podem obter o gás russo ou outro gás de outros lugares da região. Existem formas de compartilhar gás", diz Forbrig.

Risco para a Gazprom

Especialistas ucranianos estão convencidos de que uma nova guerra de gás entre Kiev e Moscou não causaria nenhum problema para a população da UE. "Apenas cerca de metade do escoamento do gás russo ocorre pela Ucrânia", afirma o especialista Oleksandr Khartshenko, do Centro de Pesquisa de Energia da Ucrânia.

Ele avalia que outros fornecedores de gás e linhas conectadas poderiam salvar os países da Europa Oriental e do Sudeste Europeu de alguns inconvenientes por alguns meses. "As recentes medidas tomadas pela Gazprom mostraram aos europeus que os esforços deles, realizados desde 2009, para diversificar o fornecimento de gás para a UE não foram em vão", diz Khartshenko.

Mykhajlo Hontshar, do centro de estudos globais Strategy 21, de Kiev, acredita que as tentativas de se parar o escoamento de gás pela Ucrânia, apesar das obrigações contratuais, só prejudicariam a Gazprom, porque não há alternativas suficientes ao gasoduto ucraniano. Por isso, apesar do desejo de se punir a Naftogaz, não haverá uma nova guerra do gás, afirma o especialista, acrescentando que Moscou sabe que isso prejudicaria a credibilidade da Gazprom como um fornecedor confiável de gás natural perante seus clientes europeus. "E o Ministério da Energia russo também sabe disso", diz Hontshar.

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