1. Pular para o conteúdo
  2. Pular para o menu principal
  3. Ver mais sites da DW

Nova Lei do Islã gera críticas de muçulmanos na Áustria

Alisson Langley (mp)25 de fevereiro de 2015

Comunidades islâmicas estão proibidas de receber dinheiro de fora, o que desagrada aos muçulmanos. Com atualização de lei de 1912, governo quer "islã com caráter austríaco".

Mesquita no vilarejo alpino de Telfs, na ÁustriaFoto: picture-alliance/chromorange/E. Weingartner

Para a coalizão que governa a Áustria, composta pelo Partido Social Democrata da Aústria (SPÖ) e do Partido Popular Austríaco (ÖVP), a nova Lei do Islã poderia servir de modelo para outros países europeus.

Mas as pessoas diretamente afetadas pela nova lei não escondem a apreensão. "A Áustria já foi vista como modelo de relação com a população muçulmana. Eu espero que isso se mantenha, mas é realmente questionável", diz Carla Amina Baghajati, porta-voz da Confissão Religiosa Islâmica na Áustria (IGGiÖ).

Em questão está a atualização de uma lei de 1912, introduzida pelo imperador Franz Josef 1º, quando ele anexou a Bósnia e Herzegovina ao Império Austro-Húngaro. A lei concedia aos muçulmanos vários dos direitos que católicos, protestantes e judeus já tinham, como educação religiosa específica nas escolas do Estado.

A comunidade islâmica, porém, achava que isso não era o suficiente. Há uma década, ela começou um movimento por mudanças, em parte porque as leis protestantes e judaicas eram mais abrangentes do que a lei para os muçulmanos, que tinha apenas uma página e meia. Além disso, há cada vez mais muçulmanos na Áustria.

Crescimento acelerado

O islã é a religião que mais cresce na Áustria. Em 2013, quase 7% da população se declarava muçulmana – são quase 574 mil pessoas, ante 339 mil em 2001. Estima-se que 12,5% da população em Viena seja muçulmana.

Baghajati lembra que Áustria sempre foi modelo de relação com a população islâmicaFoto: privat

A comunidade abrange uma ampla variedade de etnias e práticas religiosas. A maioria dos muçulmanos é de origem turca e bósnia, mas existem também muitos árabes, persas e chechenos. Os grupos têm variações nas suas práticas religiosas. A comunidade alevita foi reconhecida somente em 2010.

Também há registros de problemas. Conforme estimativas recentes, 190 pessoas provenientes da Áustria, a maioria exilados chechenos, deixaram o país para lutar em grupos extremistas, como o "Estado Islâmico".

Neste ano, a polícia austríaca deteve vários menores de idade por suspeita de envolvimento com o terrorismo. Num caso que chamou a atenção, duas adolescentes viajaram para a Síria em abril do ano passado para se casar com jihadistas.

Esses casos, somados aos recentes ataques em Paris e Copenhague, azedaram as negociações para uma atualização da lei de 1912. "Aos olhos do público, a Lei do Islã se tornou uma lei de segurança pública", sintetiza.

Medidas restritivas

Entre outras coisas, a nova lei dá aos muçulmanos folga do trabalho em dias religiosos sem o risco de qualquer tipo de punição. Eles poderão ter orientação espiritual quando servirem o Exército e também na prisão, em hospitais e casas de recuperação. Eles também terão o direito de receber comida preparada conforme os preceitos da religião.

Kurz defende proibição do financiamento externoFoto: AFP/Getty Images/O. Andersen

Por outro lado, a lei proíbe mesquitas de receberem financiamentos do exterior e também proíbe imãs que recebem dinheiro de fora de pregar na Áustria. A lei também incentiva o ensino da fé muçulmana em alemão e não em outras línguas, como o turco, o que é frequente hoje.

O novo texto também lembra aos muçulmanos que as leis do Estado de Direito precedem as crenças religiosas e dá ao Estado o direito de revogar o reconhecimento de uma comunidade caso ele acredite que ela não segue a lei.

"Nós queremos um Islã com um caráter austríaco", disse o ministro da Integração, Sebastian Kurz, na televisão pública ORF, em outubro passado.

A comunidade muçulmana argumenta que nenhum outro grupo religioso enfrenta restrições quanto ao recebimento de recursos financeiros do exterior. A Igreja Católica recebe recursos do Vaticano, os protestantes, da Alemanha, e os judeus recebem apoio de Israel e dos Estados Unidos.

Influência externa

"[No caso das outras religiões], nós não temos que nos preocupar com a influência de outras nações. Por isso tivemos que ser um pouco mais restritos sobre o financiamento de outros países no caso do Islã", argumenta Kurz.

A porta-voz do Partido Social Democrata, Alexandra Hopf, disse que uma razão para essas restrições é que, ao longo dos últimos cem anos, o islã não se integrou no país como se esperava. O governo da Turquia, por exemplo, continua financiando um grande número de imãs que vivem na Áustria por um período limitado, não aprendem alemão e continuam pregando em turco.

"Existe muita influência política. Nós queremos ver imãs treinados aqui, pregando em alemão, entendendo a nossa cultura", argumenta.

Vai funcionar?

A comunidade islâmica também tem objeções à inclusão da observação de que a lei do Estado precede as leis religiosas – uma formulação que não existe em nenhum outro lugar. "É como se eles acreditassem que a sharia vai tomar conta da Áustria", argumenta Baghajati. "Nós dissemos várias vezes que somos pelo pluralismo, pelo domínio da lei e pela igualdade."

Mas os representantes do governo austríaco dizem que estão orgulhosos da nova lei. "Levou muito tempo. Foi discutido intensamente, e nós estamos orgulhosos disso. Nós acreditamos que ela ancora o Islã no nosso país", diz Hopf.

Baghajati não está tão confiante. Muitos líderes muçulmanos discutiram a possibilidade de levar a lei ao tribunal constitucional da Áustria, mas nenhuma decisão foi tomada.

"A velha lei era significativa para os muçulmanos. Ela nos dava laços emocionais profundos com a Áustria. Depois que essa nova lei for aprovada, eu não estou certa de que os muçulmanos vão continuar sentindo esse mesmo vínculo emocional", diz Baghajati.

Pular a seção Mais sobre este assunto