Sucata eletrônica da Europa vai parar em lixões na África Ocidental
20 de fevereiro de 2012 O mercado de eletroeletrônicos cresce e, com ele, a quantidade de sucata acumulada. Só que o lixo não fica nos países industrializados. De acordo com o estudo "Where are WEEE in Africa?“, do Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (PNUMA), a quantidade de lixo eletrônico acumulado na África Ocidental é crescente. WEEE significa "Waste electronic and electrical equipment", em outras palavras: sucata.
O problema não é novo. Já em 2003, a União Europeia (UE) adotou uma diretriz sobre resíduos de equipamentos eletroeletrônicos, segundo a qual a quantidade de substâncias nocivas nos aparelhos deve ser reduzida e estes devem ser reciclados na própria Europa. Até agora, a iniciativa não apresentou grande sucesso.
No início de 2012, o Parlamento Europeu aprovou uma alteração na política de lixo eletrônico de 2003. De acordo com um comunicado de imprensa, deve haver no futuro um controle mais rígido sobre carregamentos ilegais de sucata. Os exportadores precisarão comprovar que o produto, de fato, pode ser consertado ou reutilizado no exterior.
Vestígios de ouro, coltan e cobre
Nos países analisados pelo estudo da ONU – Gana, Benim, Costa do Marfim, Libéria e Nigéria – existem, segundo os pesquisadores, entre 650 mil e um milhão de toneladas de sucata doméstica. A quantidade aumenta com as importações ilegais de lixo eletrônico vindo da Europa.
Equipamentos ainda em funcionamento são exportados juntamente com aparelhos defeituosos, que mais tarde vão parar em depósitos de lixo nas grandes cidades africanas. Lá, milhares de pessoas buscam por vestígios de ouro, coltan ou cobre. Especialmente a queima de cabos elétricos tem efeitos devastadores para a saúde e o meio ambiente.
Um vendedor de sucata na capital de Gana, Acra, diz estar doente há muito tempo. "A queima dos fios de cobre obviamente não é boa para mim. Mas é o meu trabalho. Eu não sei para onde mais eu poderia ir."
Muitas pessoas trabalham com a reciclagem informal. Eles escavam montanhas de aparelhos celulares, computadores e laptops e extraem matérias-primas valiosas de dentro dos aparelhos. Geralmente há apenas quantidades mínimas de ouro, prata ou cobre.
Os catadores de lixo são geralmente migrantes de países vizinhos. Eles são chamados de "scavengers" (saqueadores). Com frequência, se encontram crianças trabalhando na coleta e desmontagem da sucata. Algumas delas têm apenas cinco anos de idade, segundo o estudo da ONU.
Através da queima do lixo, elas inalam fumaça tóxica. E não é apenas o ar, a água potável também é contaminada, pois os depósitos de lixo liberam substâncias tóxicas que penetram no solo, como explica o ativista e jornalista ganês Emmanuel Dogbevi. "Eles não sabem de onde vem a água que bebem em casa. Mesmo a água fervida pode estar contaminada.“ Por meio da água, as substâncias tóxicas entram na cadeia alimentar. "O risco afeta a todos", diz Dogbevi.
A maior parte do lixo vem da Europa
Gana é o segundo maior importador de aparelhos eletrônicos novos e usados na África. Em 2010, o país produziu cerca de 40 mil toneladas de sucata eletroeletrônica, segundo o estudo da ONU. O maior exportador, Nigéria, tem 85% de suas importações oriundas da Europa, principalmente do Reino Unido.
Nos países industrializados, a reciclagem de sucata eletrônica é um problema de custo. Os países até podem recuperar matérias-primas valiosas como coltan ou cobre, mas a chamada "urban mining" (mineração urbana), isto é, a reciclagem, não compensa aos olhos de muitos países industrializados, pois a quantidade é muito pequena. A solução mais barata é despachar a sucata ilegalmente para a África, onde pode ser vendida por comerciantes criminosos.
Em 2009, cerca de um terço dos equipamentos importados como reutilizáveis estava, na verdade, com defeito. O material foi jogado em depósitos de lixo nas cidades de Acra, Tema ou Kumasi. De acordo com o Greenpeace, os aparelhos são entregues como usados e supostamente ainda em estado de bom funcionamento, mas, no fim das contas, constatam-se que são inutilizáveis.
Esperança por solução
Em Gana, ainda não existe uma solução legal para o problema. O jornalista Dogbevi escreve frequentemente sobre o problema da reciclagem de sucata eletrônica em Gana. Ele gostaria de ver mais engajamento social para pressionar o governo. Para isso, seria preciso alertar a população, mas muitos de seus colegas já lhe deram as costas. "Infelizmente, eu cheguei a um ponto em que não sei mais o que poderia ser feito para convencer as autoridades a agir.“
A alteração na diretriz da UE pode representar um vislumbre de esperança para pessoas como Dogbevi. Além de estipular um controle mais rígido do comércio de lixo eletrônico, o documento prevê que até 2016 a maioria dos Estados-membros da UE deve reciclar 45 toneladas de sucata para cada 100 toneladas de eletroeletrônicos vendidos. Para algumas categorias, a taxa de reciclagem deve chegar a 80%.
Para simplificar a reciclagem, os métodos de produção devem ser melhorados. Além disso, a ideia é que a Europa recupere, de fato, matérias-primas valiosas por meio do processamento de equipamentos quebrados.
Para que a diretriz se torne parte da legislação da UE, o Conselho Europeu ainda precisa aprová-la formalmente. Depois disso, os Estados-membros da UE têm 18 meses para assimilar a diretriz em suas legislações nacionais.
Autores: Claudia Zeisel / Isaac Kaledzi (ff)
Revisão: Marcio Damasceno