Novo "Tristão e Isolda" aclamado na abertura de Bayreuth
Rick Fulker (av)26 de julho de 2015
Contrariando as piores expectativas, a encenação da bisneta do compositor convenceu até os mais céticos. E, ao que tudo indica, o "regietheater" vai cedendo o primeiro plano à música no Festival Wagner.
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Uma princesa é sequestrada: Isolda deve se casar contra a própria vontade com Marke, rei de uma terra estranha. Tristão, sobrinho e homem de confiança do monarca, a leva até sua destinação. Isolda ama Tristão, e vice-versa. Uma situação, porém, sem saída: esse amor só poderá se realizar depois da morte.
A música de Richard Wagner sinaliza inequivocamente esse "final feliz" no além. E essa música é reproduzida fielmente em cada apresentação de suas óperas. Já a encenação é outra história. Aqui, os diretores de cena têm – ou melhor, tomam – a liberdade de reinterpretar a ação e situação cênica.
Isso foi o que fez a diretora Katharina Wagner na versão de Tristão e Isolda que abriu neste sábado (25/07) o Festival de Bayreuth 2015. O que ela apresentou é bem deste mundo: depois de cantar o célebre Liebestod – o canto final de "morte de amor" – sobre o cadáver de Tristão, Isolda não morre, mas sim é levada embora pelo rei Marke. O poder terreno vence.
Leitura cuidadosa
No primeiro ato, os cantores se movem desorientados pelo cinzento labirinto de escadas criado pelo cenógrafo Frank Philipp Schlössmann. No espaço negro do segundo ato, barras redondas de metal, lembrando suportes de bicicleta, são erguidos para formar uma grade de prisão onde Isolda e Tristão ficam como presos indefesos, à luz violenta dos projetores. A poção de amor não é bebida, mas derramada. Planeja-se um duplo suicídio; os dois se arranham com as barras de metal.
O terceiro se compõe essencialmente dos sonhos e delírios do Tristão ferido. O palco é ainda mais escuro do que antes, imagens de Isolda aparecem em construções triangulares subitamente iluminadas – no nível do palco, depois flutuando no ar, para de repente desaparecerem de novo. Por uma vez Tristão toca a imagem, ela parece se desfazer no ar, só lhe sobra um vestido na mão.
No fim das contas, é possível encontrar ou compreender tudo a partir do texto e música de Wagner. A cuidadosa montagem de Katharina Wagner não é nenhuma reinterpretação revolucionária.
Contagem de aplausos
Por outro lado, não se cumpriram as piores expectativas do público do Festival de Bayreuth, de que a bisneta do compositor fosse colocar a trama de ponta-cabeça, como em seu Mestres-Cantores de Nurembergue de 2007, sufocar essa história profundamente séria sob um excesso de ideias cênicas. A obra da também diretora do festival, de 37 anos, é antes discreta, incapaz de incomodar muito quem quer que seja.
Como se mede o sucesso de uma estreia operística? Pela duração dos aplausos, quantas vezes os intérpretes retornam ao palco para agradecer ao público. Desse ponto de vista, a nova montagem de Tristão e Isolda é um sucesso. Inegavelmente, só houve umas poucas vaias, misturadas ao aplauso ensurdecedor para o maestro Christian Thielemann e a soprano Evelyn Herlitzius.
A alemã de 52 anos assumiu o papel de Isolda na última hora, ninguém sabe se por necessidade ou como solução de emergência. Seja como for, sua participação foi impecável, e ela ainda se superou no canto final. Mais brilhante ainda, mais preciso na afinação e mais claro na dicção, foi o americano Stephen Gould, como Tristão. São pouquíssimos os tenores que realmente dominam esse papel, mesmo entre os que têm se apresentado no Festival Wagner.
Música de volta ao primeiro plano?
Quanto à direção de cena, se esse Tristão for o anúncio de uma tendência, então os wagnerianos devotos podem estar tranquilos. A direção é oposta às controvertidas ramificações do regietheater, em que o encenador se coloca acima da trama e do texto, para apresentar no palco uma "viagem" totalmente pessoal. São muitos os que não aguentam mais montagens como a presente tetralogia O Anel do Nibelungo de Frank Castorf em Bayreuth.
O atual diretor musical do Festival de Bayreuth, Christian Thielemann, já se queixou várias vezes de que as novas produções dedicam toda a atenção à direção de cena, não à música.
O fato de ele ter sido chamado ao palco cinco vezes, sozinho ou junto com os solistas, parece ter peso simbólico. Já a equipe teatral, incluindo a diretora, só apareceu uma vez, brevemente. A mensagem parece ser que em Bayreuth a música está em boas mãos.
Leipzig, cidade da música
Em 2015, cidade na Saxônia celebra seu milésimo aniversário, tanto como importante centro comercial quanto meca cultural. Músicos influentes moldaram a vida de Leipzig ao longo dos séculos.
Foto: picture-alliance/dpa
Emprego para "sopradores municipais"
Em 1479 o conselho de Leipzig contratou instrumentistas de sopro como "stadpfeifer". Diariamente os "sopradores municipais" tocavam na frente da prefeitura, dando um ar de corte real à cidade, e acompanhavam festas e os cultos nas igrejas. Além de salário fixo, tinham um traje de verão e um de inverno, moradia na Stadtpfeifergasse e uma casa de banho comunitária "com fornos sobre pés de pedra".
Foto: gemeinfrei
800 anos do coro de São Tomás
Invariavelmente associado ao compositor Johann Sebastian Bach, o renomado coro da Igreja de São Tomás foi fundado em 1212, sendo considerado um dos mais antigos do mundo. Hoje, seus cantores realizam turnês mundiais e são celebrados como astros do rock. Seu cotidiano é ditado por um cronograma de ensaios rigoroso e um estrito regime de internato.
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J.S. Bach: "kantor" e gênio musical
Em 1723 Johann Sebastian Bach foi apenas a terceira opção na escolha do "kantor" (diretor musical) da Igreja de São Tomás. Por sua vez, ele se queixava da "estranha e pouco inclinada à música" magistratura de Leipzig. Tais circunstâncias não impediram o gênio natural da Turíngia de alcançar a absoluta perfeição musical nos 27 anos que passou na cidade – hoje palco do famoso Festival Bach.
Foto: Bach-Archiv Leipzig
Ópera de longa tradição
Em 1692 o príncipe eleitor Johann Georg 3º decretou a construção de uma casa de ópera, para oferecer 15 récitas durante cada uma das três feiras anuais de comércio. Georg Philipp Telemann e Johann David Heinichen estiveram entre os compositores mais assíduos da Ópera de Leipzig, que se tornaria um importante reduto do romantismo musical. O atual prédio na Augustusplatz foi inaugurado em 1960.
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Orquestra Gewandhaus
"Res severa verum gaudium": "Alegria verdadeira é coisa séria". Em letras de pedra, a citação do filósofo romano Sêneca decora a sede da Gewandhausorchester. Fundada em 1743, a orquestra mudou-se em 1781 para o antigo salão de exposições dos comerciantes de têxteis. Daí o nome, que significa "casa de vestimentas". A atual sala de concertos da Gewandhaus, em frente à Ópera, foi inaugurada em 1981.
Foto: picture-alliance/F. Gentsch
Mendelssohn: mestre da leveza musical
Em 1835 a direção da Gewandhaus desejava um maestro progressista para a orquestra. Felix Mendelssohn-Bartholdy era considerado moderno, entre outros motivos, por reger com batuta, e não, como era hábito, com um rolo de papel de música. Seus concertos fizeram enorme sucesso. Na casa da Goldschmidtstrasse nº 12, onde o compositor morou até a morte, em 1847, aos 38 anos, fica o Museu Mendelssohn.
Foto: Archiv Mendelssohn-Haus
Robert Schumann: compositor e jornalista
Leipzig foi também lar de outro grande compositor, Robert Schumann. Aos 18 anos, ele começou a estudar piano com Friedrich Wieck. Suas ambições a uma carreira de virtuose se desfizeram após uma lesão no dedo, e ele se voltou para a composição. Em 1834, fundou a revista "Neue Zeitschrift für Musik", consagrando-se como um dos primeiros jornalistas musicais do mundo.
Foto: ullstein bild
Clara Schumann: estrela do piano
Friedrich Wieck iniciou a filha Clara na arte pianística. Aos 12 anos ela se apaixonou por Robert Schumann. O romance desencadeou anos de disputa entre os dois homens, só resolvida com a decisão judicial que permitiu o casamento de Robert e Clara. Ela sobreviveu o compositor em 40 anos. Antigo ponto de encontro de celebridades musicais, a residência Schumann, na rua Inselstrasse, é hoje um museu.
Foto: ullstein bild - Granger Collection
Primeiros passos de Wagner
Richard Wagner nasceu em 1813 em Leipzig, onde também frequentou a escola – quando não matava aula para secretamente aprender música. O compositor escreveu suas primeiras obras na cidade natal, que negligenciou longamente seu filho famoso. Até seu bicentenário, em 2013, quando foi inaugurada uma estátua realizada pelo escultor Stephan Balkenhol.
Foto: picture-alliance/dpa
Segunda era de ouro para a Gewandhaus
"Ele é como um mago diante da orquestra": assim o compositor Piotr Tchaikovsky louvava o maestro Arthur Nikisch. Meio século após a era Mendelssohn, o húngaro inaugurara uma segunda época de ouro para a Gewandhaus de Leipzig. Nikisch assumiu a direção musical da orquestra em 1895, aos 40 anos, permanecendo até a morte, em 1922.
Foto: picture-alliance/Imagno/Wiener Stadt- und Landesbibliothek
Masur: comprometido com a revolução pacífica
Em 1970, Kurt Masur foi nomeado regente titular da Gewandhaus. Sete anos depois, iniciava a construção da terceira sede da orquestra, e permaneceu no cargo por 26 anos. Em outubro de 1989 começaram em Leipzig os maiores protestos contra o governo socialista na história da Alemanha Oriental. O maestro se destacou como principal defensor de negociações pacíficas entre manifestantes e regime.