1. Pular para o conteúdo
  2. Pular para o menu principal
  3. Ver mais sites da DW

"Nova Síria" deverá ser muito mais perigosa para Israel

8 de setembro de 2017

Israelenses temem a nova relação de forças no país vizinho, onde Irã e Hisbolá ganham influência, e respondem com ataques aéreos. Mas mudanças na região dificilmente terão seu curso interrompido.

Veículo blindado com as bandeiras da Síria e do Hisbolá
Dupla ameaça para Israel: um veículo blindado com as bandeiras da Síria e do Hisbolá Foto: Reuters/O. Sanadiki

"A Síria voltará, isso é claro." O presidente Bashar al-Assad sairá vencedor da guerra civil que já dura quase sete anos, e talvez já em breve. Todas as suposições de que ele – e com ele todo o Estado sírio – iriam cair mostraram estar erradas. A Síria continuará existindo como Estado, embora numa forma diferente da atual. "O que poderá ficar claro em breve é que a Síria se tornou um protetorado do Irã."

Esse cenário foi traçado por um consultor de segurança israelense não identificado para a revista online Al-Monitor. Segundo ele, o país mudou radicalmente no decorrer da guerra civil. Ao final haverá algo totalmente novo: "Uma Síria aliada ao Iraque e ao Irã – e ambos, por sua vez, têm relações com o Líbano do [líder do Hisbolá] Hassan Nasrallah". Essa nova situação terá graves consequências para Israel: "A nova Síria será muito mais perigosa do que a antiga".

A preocupação de Israel com as relações de força militar no país vizinho ficou clara na noite desta quarta (06/09) para quinta-feira. Os israelenses atacaram uma suposta fábrica de produtos químicos na vila de Masyaf, no noroeste da Síria, a apenas cerca de 30 quilômetros da fronteira com o Líbano.

"Outro grau de intervenção"

Recentemente, o Exército israelense anunciou que, nos últimos cinco anos, realizou ao menos cem ataques contra depósitos ou comboios que carregavam armas destinadas à milícia Hisbolá. O ataque mais recente, porém, difere dos anteriores, afirmou ao jornal Jerusalem Post o ex-major-general Yaakov Admiror. "É um outro grau de intervenção", disse. Pela primeira vez, Israel atacou não apenas um depósito, mas uma instalação oficial síria que era usada para produzir armas químicas, mísseis e munições.

O ataque aconteceu poucos dias depois da visita de Nasrallah a Damasco. O Jerusalem Post cita forças de segurança israelenses que não descartam que todo o complexo seria repassado ao Hisbolá. Israel considerava essa transferência tão perigosa que o ataque ocorreu apesar de haver uma base aérea russa nas proximidades. Israel também já contava com uma dura reação verbal de Damasco. Logo após a intervenção, os militares sírios alertaram para "efeitos perigosos dessa ação agressiva sobre a segurança e estabilidade da região".

Reação a nova situação diplomática

Os riscos que Israel assume com o ataque evidenciam as enormes mudanças nas condições de segurança para o Estado judeu. Elas resultam não apenas do avanço dos combatentes do Hisbolá até as Colinas de Golã e, em alguns casos, até mesmo dentro de território israelense – a situação política também é ameaçadora.

A Rússia, de acordo com o jornal Haaretz, tem como objetivo principal implementar um cessar-fogo em toda a Síria o quanto antes. Essa situação gera alguns comportamentos contraditórios: por um lado, a Rússia se opõe à classificação do Hisbolá como organização terrorista no Conselho de Segurança da ONU. Por outro, ninguém em Moscou se incomodou com os ataques que Israel realizou contra a milícia libanesa. A razão é óbvia: a Rússia quer se concentrar apenas na Síria e não tem nenhum interesse em criar tensões adicionais com Israel.

Ao mesmo tempo, os russos dependem do Irã na Síria. Sem Teerã, um cessar-fogo dificilmente pode ser alcançado. É por isso que a Rússia atende às exigências do Irã, principalmente a de estabelecer uma presença permanente na Síria. Porém, a Síria é também o palco onde a Rússia responde às atuais tensões com os Estados Unidos. Para destacar sua influência na região, Moscou sabota todas as iniciativas e sugestões diplomáticas e políticas que vêm de Washington.

Israel sem seu aliado tradicional

Isso significa também que os EUA não servem como mediadores para Israel, escreve o jornal Haaretz. "Pela primeira vez, um presidente americano colocou Israel numa posição na qual o país deve dividir seu planejamento estratégico entre duas potências rivais." Nesse cenário, Israel vira um personagem secundário num jogo complexo. "Nesse jogo, a Rússia tenta destruir o prestígio dos Estados Unidos. Por isso, Moscou deverá lidar de uma forma especialmente áspera com os interesses israelenses."

Dessa forma, Israel está sem o aliado confiável e sobretudo influente que os Estados Unidos sempre foram. E mais: está sozinho. Assim, enquanto nenhuma das superpotências parar o Irã, Israel teme que poderá, na melhor das hipóteses, retardar uma situação dada como inevitável: a militarização da Síria pelo Irã. E, como se isso já não bastasse, do lado de Teerã está o Hisbolá.

Kersten Knipp Jornalista especializado em assuntos políticos, com foco em Oriente Médio.
Pular a seção Mais sobre este assunto