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Nova sigla populista de esquerda surpreende na Alemanha

11 de junho de 2024

Em sua primeira eleição, Aliança Sahra Wagenknecht conquistou mais votos do que liberais, que estão no governo. Ao misturar políticas sociais com pauta de costume, BSW quer mudar cenário partidário alemão.

Sahra Wagenknecht discursa
"Acho que isso nunca aconteceu na história da Alemanha", afirmou a líder do BSW, Sahra WagenknechtFoto: Bernd von Jutrczenka/dpa/picture alliance

A Aliança Sahra Wagenknecht (BSW) surpreendeu em seu primeiro teste. A recém-fundada sigla populista de esquerda conquistou 6,2% dos votos da Alemanha nas eleições europeias, ficando à frente de legendas consolidadas, como o Partido Liberal Democrático (FDP), que compõe a atual coalizão de governo e recebeu 5,2% dos votos, e A Esquerda, antiga sigla da política que dá nome ao grupo e amargou 2,7%.

"Acho que isso nunca aconteceu na história da Alemanha", comentou a líder do partido, Sahra Wagenknecht, no domingo (09/06) após o resultado das eleições. Ela se refere ao fato de sua aliança ter conquistado um bom resultado em sua primeira eleição pouco depois de sua fundação.

Wagenknecht é bem conhecida na Alemanha e já foi o rosto do partido A Esquerda, de que se desligou em 2023, para logo em janeiro fundar a aliança que leva seu nome. O sucesso da legenda em seu primeiro teste se deve principalmente à esquerdista, que se dispôs a mudar o cenário partidário alemão com uma abordagem política que ainda é vaga.

"Vamos mudar a política na Alemanha", gritou Wagenknecht a seus apoiadores no domingo. A BSW foi especialmente bem recebida no Leste alemão, onde conquistou 13% dos votos, ficando no terceiro lugar geral, atrás da ultradireitista Alternativa para Alemanha (AfD) e dos conservadores da União Democrata Cristã (CDU).

Partido de uma mulher só

"A BSW preencheu um vazio ao defender uma política social de esquerda e uma política de direita na pauta social", avalia o cientista político Jan Philipp Thomeczek, da Universidade de Potsdam. A legenda, por exemplo, luta pelo aumento do salário-mínimo e das aposentadorias na Alemanha, porém, é contra a proteção climática e o acolhimento de refugiados.

Wagenknecht considera "altamente problemática" a cultura de boas-vindas para refugiados, adotada em 2015 pela então chanceler federal, Angela Merkel. "Isso sobrecarrega o nosso país", afirmou a esquerdista.

Thomeczek destaca que a receita política pregada pela BSW é nova na Alemanha, ainda mais somada a uma abordagem populista. Segundo o pesquisador, a retórica de Wagenknecht contra "quem está lá em cima" faz dela uma "defensora" da classe média. Ele lembra que a esquerdista afirma com frequência que os partidos governistas são perigosos, burros, mentirosos ou hipócritas.

"Estamos aqui para quem perdeu a fé na democracia", disse Wagenknecht no dia seguinte às eleições europeias, acrescentando que seu partido é para os "desesperados".

Sahra Wagenknecht aguarda o resultado das eleições europeias ao lado do marido, Oskar LafontaineFoto: Bernd von Jutrczenka/dpa/picture alliance

Wagenknecht rejeita uma coalizão com a AfD. Sua sigla e a ultradireita, porém, têm posições semelhantes em relação à Rússia. A BSW é contra o envio de armas para Ucrânia e contra as sanções impostas a Moscou pela invasão ao país vizinho. A legenda defende uma solução diplomática para o conflito. Essas opiniões são populares no Leste alemão.

A personalização do novo partido também não tem precedentes, segundo Thomeczek. "Todo mundo conhece a Sahra Wagenknecht, o que é incomum. Ela polariza. Ela tem muitos críticos, mas também muitos fãs."

Jovem comunista

Durante a juventude, Wagenknecht era comunista. Nascida em 1969 em Jena, Turíngia, de mãe alemã e pai iraniano, ela passou praticamente toda a vida no partido atualmente chamado A Esquerda – desde sua versão original, Partido Socialista Unitário da Alemanha (SED), que governava a antiga República Democrática Alemã (RDA). Ela moldou a imagem de A Esquerda por muitos anos – principalmente em disputas internas.

Wagenknecht é casada com o ex-presidente do Partido Social Democrata (SPD) Oskar Lafontaine, que saiu brigado da legenda e foi para A Esquerda. Nos últimos meses, auxiliou Wagenknecht na fundação da BSW.

Poucos eleitores da AfD

Antes das eleições, analistas previam que a BSW ia conquistar votos entre eleitores da AfD, devido a sobreposições em seus programas. No entanto, as análises do instituto Infratest Dimap não confirmam essa previsão: só cerca de 160 mil votos de ex-leitores dos populistas de direita foram para a legenda.

Assim, não se concretizou a promessa da BSW de conquistar quem votava na AfD basicamente por protesto, não por convicção. A BSW atraiu principalmente eleitores social-democratas, cerca de 520 mil, e do antigo partido de Wagenknecht, A Esquerda, aproximadamente 410 mil.

Após o sucesso em sua estreia, a Aliança Sahra Wagenknecht espera agora obter bons resultados nas eleições de três estados do Leste: Brandemburgo, Saxônia e Turíngia, no terceiro trimestre de 2024. Pesquisas indicam que a BSW pode conquistar mais de 10% dos votos, com chances de até participar de alguma coalizão de governo. A meta de longo prazo é alcançar um bom resultado nas eleições parlamentares de 2025.

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