Nova trégua em Aleppo chega ao fim sem evacuação de civis
4 de novembro de 2016
Forças russas e sírias abrem corredores para evacuação de civis e rendição de rebeldes, mas rotas permanecem desertas durante as dez horas de cessar-fogo. Ataque da oposição fere dois soldados russos e um repórter sírio.
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A trégua humanitária de dez horas em Aleppo, na Síria, anunciada unilateralmente pela Rússia, chegou ao fim na noite desta sexta-feira (04/11) sem a evacuação de civis das zonas sitiadas ou rendição de rebeldes. Também houve relatos de ataques da oposição contra corredores humanitários.
"Não registramos um único civil ou combatente deixando os distritos orientais", informou a organização Observatório Sírio de Direitos Humanos ao fim da trégua. Correspondentes de agências de notícias internacionais também afirmaram não ter visto pessoas usando as rotas de fuga.
A trégua humanitária desta sexta-feira foi anunciada pelo governo russo – aliado da Síria – na última quarta-feira, com intuito de evacuar os civis das áreas sitiadas de Aleppo, bem como permitir que grupos rebeldes se rendam e deixem o bastião, atualmente cercado por forças russas e sírias.
O presidente da Rússia, Vladimir Putin, ordenou a abertura de oito corredores especiais para a passagem ilesa de civis e rebeldes durante o cessar-fogo, que durou de 9h às 19h, no horário local. Seis rotas foram abertas para a partida de civis e para a evacuação de pessoas feridas e doentes.
Outros dois corredores foram destinados à saída de combatentes de grupos armados – "a fim de evitar uma perda sem sentido de vidas", informou o Ministério da Defesa –, sendo um deles no norte, em direção à fronteira com a Turquia, e outro no sudoeste, em direção à cidade síria de Idlib.
De acordo com a imprensa oficial da Síria, durante a trégua, sete morteiros lançados a partir de territórios rebeldes atingiram um dos corredores da zona norte de Aleppo. Dois soldados russos ficaram feridos, mas não correm risco de vida, afirmou o Ministério da Defesa russo. A televisão estatal síria informou que um jornalista sírio pró-governo também foi ferido por estilhaços.
Autoridades das Nações Unidas reiteraram que as condições de segurança no local não eram adequadas para permitir a entrega de ajuda humanitária no leste de Aleppo. "Evacuações médicas só podem acontecer se as partes no conflito tomarem todas as medidas necessárias para fornecer um ambiente propício, o que não aconteceu", afirmou um porta-voz da agência humanitária da ONU.
Aleppo se tornou um dos maiores palcos da guerra civil na Síria. Grupos rebeldes que se opõem ao presidente sírio, Bashar al-Assad, controlam distritos na zona leste da cidade, enquanto forças do governo, com apoio da Rússia, tomam conta da zona oeste – desde julho, elas formam um cerco contra a oposição. A ONU estima que cerca de 275 mil civis permanecem sob controle rebelde.
Tréguas humanitárias como a desta sexta-feira foram organizadas por Moscou e Damasco anteriormente, mas fracassaram em meio à violência. Ambos os lados se acusam mutuamente de impedir que as pessoas deixem Aleppo. A abertura de corredores durante o último cessar-fogo, em outubro, também não foi suficiente para entrega de ajuda humanitária ou para evacuação de civis.
EK/rtr/dpa/ap/afp
A guerra civil na Síria antes do EI
O "Estado Islâmico" inflamou o debate sobre como pôr fim à guerra civil síria. Contudo o grupo só emergiu mais tarde no conflito. Confira alguns momentos dessa guerra que abriram espaço para o avanço dos jihadistas.
Foto: AP
Março de 2011
Enquanto regimes ruem por todo o Oriente Médio, dezenas de milhares de sírios vão às ruas para protestar contra a corrupção, o desemprego elevado e a alta dos preços dos alimentos. O governo da Síria responde com armas de fogo. Até maio, cerca de 400 vidas são ceifadas.
Foto: dapd
Maio de 2011
Sob insistência dos países ocidentais, o Conselho de Segurança da ONU condena a repressão violenta. Nos meses seguintes, os Estados Unidos e a União Europeia impõem embargo de armas, recusa de vistos e congelamento de bens. Com apoio da Liga Árabe, aumenta a pressão para a saída do presidente sírio Bashar al-Assad – embora sem o aval de todos os países-membros da ONU.
Foto: picture-alliance/dpa/J. Szenes
Agosto de 2011
Em 1970 um golpe pusera Hafez al-Assad no poder. Após sua morte, em 2000, o filho Bashar (à dir.) assume a liderança. De início tido como reformista, ele perde apoio ao manter o estado de emergência que há décadas restringe as liberdades políticas, permitindo vigilância e interrogatórios. Assad tem respaldo da Rússia, que lhe fornece armas e repetidamente veta as resoluções da ONU sobre a Síria.
Foto: picture-alliance/dpa/Stringer/Ap/Pool
Dezembro de 2011
A ONU e outras organizações têm provas de violação dos direitos humanos na Síria. Civis e militares desertores começam a se organizar lentamente para combater as forças do governo, que vêm atacando os dissidentes. Até o fim de 2011, essa luta causa mais de 5 mil mortes. Mesmo assim, ainda transcorrem seis meses até a ONU reconhecer que o país está em guerra.
Foto: Reuters/Goran Tomasevic
Setembro de 2012
O Irã finalmente confirma que tem combatentes em solo sírio, fato que Damasco negava há tempos. A presença de tropas aliadas acentua a hesitação dos Estados Unidos e de outras potências ocidentais em intervir no conflito. Os EUA, marcados pelas intervenções fracassadas no Afeganistão e no Iraque, propõem o diálogo como única solução sensata.
Foto: AP
Março de 2013
As mortes beiram 100 mil, e o total de refugiados em países vizinhos como a Turquia e a Jordânia atinge 1 milhão – número que duplicaria até setembro. Em dois anos de guerra, o Ocidente e a Liga Árabe veem fracassar todas as tentativas de um governo de transição, enquanto o conflito transborda para a Turquia e o Líbano. O pior temor é de que Assad se mantenha no poder a todo custo.
Foto: Reuters/B. Khabieh
Abril de 2013
Há muito Assad alega estar combatendo terroristas. Mas só no segundo ano de guerra se confirma que o Exército Livre Sírio inclui extremistas radicais. O grupo Frente al-Nusra declara apoio à Al Qaeda, fragmentando ainda mais a oposição.
Foto: Reuters/A. Abdullah
Junho de 2013
A Casa Branca afirma ter provas de que Assad está atacando civis com o gás tóxico sarin. Mais tarde a informação é corroborada pela ONU. A partir da revelação, o presidente dos EUA, Barack Obama, e outros líderes ocidentais passam a considerar uma intervenção militar. No entanto a proposta da Rússia para que se retirem as armas químicas da Síria acaba por se impor.
Foto: Reuters
Janeiro de 2014
Ao fim de 2013 surgem relatos sobre um novo grupo autodenominado Estado Islâmico do Iraque e do Levante – o futuro EI. Ao tomar terras no norte da Síria e também no Iraque, os jihadistas despertam lutas internas na oposição, causando 500 mortes até o início de janeiro. Esse terceiro e inesperado fator levaria os EUA, França, Arábia Saudita e outras nações à intervir na guerra em meados do ano.