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11 de Setembro

11 de setembro de 2011

Celebração dos dez anos dos atentados de 2001 encontra Estados Unidos divididos entre contrição, ressentimento e necessidade de esquecer. Além das 3 mil vítimas, muitos lamentam as liberdades perdidas.

Torre Sul do WTC, 11 de setembro de 2011, 9h59, hora local
Torre Sul do WTC, 11 de setembro de 2011, 9h59, hora localFoto: Dirk Eusterbrock

Os indícios de que estejam planejados para este domingo (11/09) atentados em Nova York ou Washington são "plausíveis", porém "ainda não confirmados", advertiu oficialmente o governo norte-americano. Isso significa que as medidas de segurança em ambas as cidades foram reforçadas, complementando as já tomadas para a data: há dez anos atentados terroristas destruíram as Torres Gêmeas do World Trade Center, parte do Pentágono e um avião de passageiros na Pensilvânia.

Em Nova York, ruas e metrôs estão interditados, e é proibido estacionar em volta do Ground Zero. Auxiliados por cães farejadores, policiais patrulham meios de transportes e vias. Agentes de segurança estão postados diante de diversos edifícios.

Ainda assim, é grande a atividade na área do gigantesco canteiro de obras. As pessoas fazem compras ou instalam-se nos bancos diante do Millenium Hilton, com vista direta para o Ground Zero, de onde se pode apreciar o avanço da construção do futuro One World Trade Center. Numa outra esquina, vendem-se rosas de madeira nas cores nacionais, vermelho, branco e azul: o lucro será revertido para os familiares dos bombeiros mortos no atentado. "Os negócios vão bem", assegura a vendedora Stacy.

Duas belas jovens, uma delas trajando shorts cor-de-rosa bem curtos, fotografam-se mutuamente, rindo, diante de uma faixa com o nome de todas as quase 3 mil vítimas. A dois metros delas, um rapaz faz um círculo em torno de um dos nomes, como tantos outros antes dele. "Você salvou tanta gente", escreve, enquanto enxuga as lágrimas dos olhos. Em geral, veem-se muitos homens crescidos com os olhos vermelhos de choro, parte deles com camiseta de policial ou bombeiro.

Alegria e luto lado a lado

Na Trinity Church, na próxima esquina, realiza-se uma leitura de poesias em memória das vítimas do atentado. E no jardim da pequena igreja – construída em 1766 e que resistiu incólume ao desmoronamento dos dois arranha-céus –, reúnem-se para um churrasco muitos dos que prestaram primeiros socorros na ocasião.

Eles trocam lembranças entre si, falam como a igreja foi para eles um oásis de descanso. Ali conseguiam reunir forças, tomar um café, ouvir palavras carinhosas de apoio antes de ter que "sair para o inferno", como expressa Charles Kaczorowski. Durante dez meses, ele trabalhou nos destroços das torres, e agora quer agradecer aos que o apoiaram na igreja.

Conhecido aqui como "Charlie K", ele trabalha hoje, como na época, na Secretaria de Design e Urbanismo da cidade de Nova York, na função de gerente. "Eu vejo a coisa assim: sobrevivi ao Vietnã, ao primeiro ataque contra o WTC, ao 11 de Setembro, ao Ground Zero. Estou preparado para tudo, mas confio inteiramente que a polícia municipal faz um trabalho extraordinário em Nova York, e me sinto seguro." Seu único temor é, no máximo, "que um pombo faça alguma coisa na minha cabeça".

"Esquecer, jamais"


Nancy Scales Tarascio tampouco tem medo. Ela é um dos 334 familiares que neste domingo leem no Ground Zero os nomes das vítimas fatais dos atentados terroristas ocorridos dez anos atrás – não só o de Nova York, como o do Pentágono e o do voo 93 em Shanksville, Pensilvânia. O irmão de Nancy, coronel David Scales, perdeu a vida no Pentágono, aos 44 anos.

"Não devemos esquecer jamais, pois é muito doloroso saber que lá fora há gente que deseja a nossa morte." Toda a nação foi atacada, e é preciso lembrar-se disso a cada dia, exige. Ela não compreende os que sugerem que se deixe o acontecido finalmente para trás.

"É óbvio que elas não sentiram a dor." Além disso, acrescenta, o país se modificou desde o atentado. "Tudo está diferente, desde o 11 de Setembro, temos que pensar em tantas coisas, veja só as medidas de segurança reforçadas."

Em prol das liberdades

Mas também há nova-iorquinos que evitam a cidade nestes dias, e ajudantes que preferem ficar em casa. O capitão Scott Fried é um deles. O socorrista de 52 anos era chefe de operações de uma unidade do Corpo de Bombeiros de Nova York no Brooklin, e coordenou a atuação de 120 colegas em 11 de setembro de 2001.

Já no dia seguinte, ele veio pela primeira vez ao Ground Zero, mais tarde foi encarregado do resgate, preservação e identificação das partes dos cadáveres. "Foi muito cansativo e na época estávamos todos muito tensos", recorda. Ao chegar a 1.500 horas de trabalho no sítio da catástrofe, ele parou de contar.

Neste fim de semana, Fried não está na cidade, preferindo permanecer com a família em Long Island. Normalmente, ele já evita o Ground Zero. Em 2005, esteve na zona, a serviço, e as emoções todas voltaram a aflorar. "De repente, o medo, a raiva tomaram conta de mim, me senti perdido." Ele já era socorrista há 30 anos, mas o 11 de Setembro mudou sua vida.

Neste meio tempo, aposentou-se e se concentra na família. Também o país mudou, e isso deixa o ex-capitão irado: "Tivemos que abrir mão de muitas liberdades". Ele não consegue entender os que querem impedir a construção de uma mesquita nas vizinhanças dos Ground Zero. "Aquilo, na época, era um bando de fanáticos, por isso não há motivo para se renunciar à liberdade de religião e opinião", afirma.

Para além da política


Por algumas horas neste domingo, controvérsias como a da construção da mesquita estarão esquecidas. Durante a celebração central, no Ground Zero, estão programados seis minutos de silêncio: dois pela queda das aeronaves sobre as torres, dois pelo desmoronamento destas, um minuto pelo atentado contra o Pentágono e um pela queda do voo 93 em Shanksville.

O presidente Barack Obama teve presença confirmada na cerimônia, assim como George W. Bush, então chefe de Estado. Cada um deve ler um texto, mas sem fazer discurso. Trata-se de um dia de recordação e homenagem, em que a nação se encontra mais unida, e os ferrenhos debates políticos, os profundos fossos entre republicanos e democratas ficam esquecidos. Pelo menos por um dia.



Autoria: Christina Bergmann (av)
Revisão: Marcio Damasceno

Dez anos depois, o Memorial 11 de Setembro ocupa o lugar onde estavam as torres do World Trade CenterFoto: dapd
Scott Fried esteve entre os ajudantes da primeira horaFoto: Scott Fried
Nancy Tarascio lamenta o país mudadoFoto: DW
Novo One World Trade Center deverá estar pronto em 2003Foto: dapd
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