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Nova Zelândia fará investigação sobre ataque em Christchurch

25 de março de 2019

Inquérito avaliará influência que acesso a armas, atuação de agências de inteligência e uso de mídias sociais tiveram sobre atentados, que deixaram mais de 50 mortos.

A investigação incluirá a agência doméstica de espionagem e o Serviço de Inteligência de Segurança da Nova Zelândia
A investigação incluirá a agência doméstica de espionagem e o Serviço de Inteligência de Segurança da Nova ZelândiaFoto: picture-alliance/AP Photo/M. Baker

A primeira-ministra da Nova Zelândia, Jacinta Ardern, anunciou a abertura de uma investigação judicial do mais alto nível para avaliar se polícia e serviços de inteligência do país poderiam ter evitado os ataques a duas mesquitas em Christchurch, que deixaram 50 pessoas mortas em 15 de março.

"É importante que nada deixe de ser investigado para que se descubra como esse ato de terrorismo ocorreu e como poderíamos tê-lo impedido", afirmou.

O acusado pelo atentado, um extremista australiano de 28 anos, comparecerá a uma audiência em 5 de abril. Ele não estava em nenhuma lista de monitoramento de agências governamentais na Nova Zelândia ou na Austrália.

Ardern disse que um dos principais focos da investigação será avaliar as agências de segurança locais e se elas prestaram atenção nas questões certas ou deixaram de notar determinadas pistas. A agência doméstica de espionagem, o Serviço de Inteligência de Segurança, e seu equivalente internacional, o Escritório Governamental de Comunicações de Segurança, serão algumas das agências avaliadas.

A investigação também incluirá uma análise sobre as possibilidades que o suspeito teve de obter uma arma e o papel das mídias sociais no massacre. Arden afirmou ser inaceitável que um vídeo do ataque – transmitido ao vivo pelo Facebook – tenha continuado disponível em algumas plataformas após o ataque. 

A apuração dos fatos será realizada sob a forma de "Comissão Real", a mais alta forma de investigação no país. Esse tipo de comissão corre independentemente dos trâmites do governo e é presidida por um juiz de um alto tribunal neozelandês, contando com o poder de exigir que testemunhas se pronunciem e que organizações submetam documentos por ela requisitados. Contudo, os tribunais do país ou o governo podem decidir se seguem ou não suas recomendações.

O gabinete da primeira-ministra já havia decidido realizar uma investigação, mas não decidira o nível. Segundo Arden, comissões reais são reservadas normalmente para temas da mais grave importância pública, o que claramente é o caso do massacre de Christchurch. Detalhes sobre a investigação, como duração, serão definidos nas próximas duas semanas.

Os membros da comunidade muçulmana da Nova Zelândia receberam bem a iniciativa.

"O anúncio de uma investigação é uma ótima medida e a coisa certa a fazer. Espero que seja uma investigação inclusiva e que haja oportunidade para a comunidade islâmica contribuir", disse o ativista Guled Mire.

As agências de inteligência da Nova Zelândia sofreram críticas por focarem muito em supostas ameaças de muçulmanos extremistas e radicais de esquerda e não teriam avaliado em profundidade suficiente possíveis ameaças de grupos nacionalistas e supremacistas brancos.

O analista de segurança Rhys Ball, ex-funcionário do serviço de inteligência da Nova Zelândia, disse que a investigação deve incluir a alfândega, a polícia e o serviço de imigração. "Eu sei que o extremismo de direita sempre foi considerado um problema potencial e foi monitorado de tempos em tempos e investigado", disse Ball. "Pode haver algumas falhas, podem ter havido pistas perdidas, mas é justo que você aplique esse escrutínio a todas as agências envolvidas", disse.

Também em reação aos atentados em Christchurch, a Nova Zelândia anunciou na semana passada que fuzis de assalto e armas semiautomáticas como as usadas no ataque serão proibidas no país.

Serão banidos ainda os carregadores de alta capacidade e peças utilizadas para transformarem alguns fuzis em semiautomáticos.

PJ/ap/rtr/afp/dpa

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