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PolíticaReino Unido

Novas renúncias no governo elevam pressão sobre Johnson

6 de julho de 2022

Três novas demissões agravam crise no governo do Reino Unido, um dia após dois importantes ministros entregarem seus cargos em reação a mais um escândalo envolvendo o premiê.

Boris Johnson
Johnson está mergulhado em sua crise mais profunda desde que venceu as eleições de 2019Foto: Dan Kitwood/REUTERS

Um dia após as surpreendentes renúncias de Rishi Sunak como ministro das Finanças e de Sajid Javid do Ministério da Saúde, três novas demissões se somaram à debandada de membros do gabinete do primeiro-ministro britânico, Boris Johnson, do Partido Conservador, aprofundando a crise no governo do Reino Unido.

Dois secretários de Estado e uma assessora do Ministério dos Transportes entregaram seus cargos nesta quarta-feira (07/06).

Os secretários de Estado do Tesouro e da Infância, os deputados John Glen e Will Quince, respectivamente, além da assistente parlamentar do Ministério dos Transportes, deputada Laura Trott, anunciaram suas renúncias, alegando descontentamento com os escândalos que afetam o chefe de governo.

Em sua carta de demissão ao primeiro-ministro, Quince indicou que estava deixando o Executivo com "grande tristeza" depois que Johnson admitiu – depois de ter inicialmente negado – que sabia que o deputado Chris Pincher havia sido investigado no passado por comportamento inadequado em relação a homens e, mesmo assim, nomeou-o como "deputy chief whip" (cargo responsável por garantir que parlamentares do partido no poder votem segundo a orientação das lideranças).

Já Glen afirmou que deixava seu cargo devido ao que classificou como "falta de critérios" de Johnson ao nomear Pincher, o que tornou "impossível" que ele seguisse como secretário de Estado.

Por sua vez, Laura Trott destacou em sua conta do Facebook que a confiança na política é de "grande importância”, mas que nos últimos meses essa confiança "se perdeu".

Além de Sunak e Javid, considerados figuras-chave do Executivo britânico, outros deputados que ocupavam cargos de menor responsabilidade renunciaram na segunda-feira, incluindo Bim Afolami, que exercia o cargo de vice-presidente do Partido Conservador, e Andrew Murrison, que deixou o cargo de enviado comercial para o Marrocos.

Também dois secretários particulares do Partido Conservador, Jonathan Gullis e Saqib Bhatti, renunciaram nesta terça.

Crise mais profunda desde 2019

O primeiro-ministro está mergulhado em sua crise mais profunda desde que venceu as eleições gerais de 2019.

Há um mês, ele superou uma moção de desconfiança em seu partido, mas saiu com poder enfraquecido da votação, que mostrou insatisfação de 41% dos parlamentares conservadores com sua gestão e com a série de escândalos que o afetam.

Segundo a mídia do Reino Unido, os parlamentares conservadores contrários a Johnson querem modificar as regras do influente Comitê de 1922 – que reúne os deputados do partido sem pastas – para convocar uma segunda moção de censura contra o primeiro-ministro. Sob as regras atuais do comitê, Johnson não poderia enfrentar outra moção de desconfiança por 12 meses.

Nesta quarta-feira, durante uma sessão de questionamentos na Câmara dos Comuns, Johnson disse que não irá renunciar ao cargo. "O trabalho de um primeiro-ministro em circunstâncias difíceis, quando você recebeu um mandato colossal, é continuar", disse Johnson. "E é isso que irei fazer."

Acusações contra Chris Pincher

Na segunda-feira, foram divulgadas pela imprensa britânica seis novas acusações de comportamento impróprio do ex-deputado do Partido Conservador Chris Pincher, dias depois de ele ter sido suspenso pelo partido por ter "apalpado" dois homens.

As novas acusações contra Pincher, reveladas pelos jornais Independent, Mail on Sunday e Sunday Times, incluem outros três casos em que o político protagonizou "avanços não desejados" sobre outros deputados, como um ocorrido num bar do Parlamento e outro no seu próprio gabinete, há mais de uma década.

Na semana passada, o jornal The Sun revelou que Pincher estava bebendo no clube Carlton, um dos mais antigos e exclusivos da capital britânica, quando assediou dois convidados. Pincher renunciou, alegou que tinha "bebido demais" e disse que estava envergonhado.

Deputado diz que Johnson sabia das acusações

Após as acusações contra Pincher virem à tona, o governo britânico inicialmente alegou que Johnson não estava ciente do comportamento do colega de partido no passado. Mas o argumento desmoronou nesta terça-feira, quando um ex-colaborador de Johnson revelou que o chefe de governo foi informado em 2019, quando era ministro das Relações Exteriores, que Pincher já havia se envolvido nesse tipo de incidente.

O líder do Partido Trabalhista, de oposição, Keir Starmer, disse em um comunicado: "Depois de toda a sujeira, escândalo e fracasso, está claro que este governo está entrando em colapso".

O caso de Pincher junta-se a outros semelhantes no Partido Conservador nos últimos meses. Em meados de maio, um deputado suspeito de estupro foi preso e depois libertado sob fiança. Em abril, outro legislador renunciou por ver pornografia em seu celular. E um ex-deputado foi condenado em maio a 18 meses de prisão por agredir sexualmente uma menina de 15 anos.

Além disso, Johnson enfrenta uma investigação parlamentar sobre se ele mentiu em sua defesa sobre o chamado "Partygate", as festas realizadas na residência oficial de Downing Street durante a pandemia de coronavírus.

A crise política soma-se, ainda, às dificuldades que o país enfrenta para se adaptar à saída da União Europeia (UE) em 2020.

Novos ministros

Horas após as renúncias, foram anunciados os novos titulares das pastas. O até então ministro da Educação, Nadhim Zahawi, será o novo chefe das Finanças, enquanto o chefe de gabinete, Steve Barclay, substituirá Javid no comando do Ministério da Saúde.

Em meio às trocas, a chefe do Ensino Superior, Michelle Donehan, assumirá a pasta da Educação, segundo comunicado governamental.

Uma fonte de Downing Street revelou à agência de notícias EFE que Zahawi ameaçou deixar o governo e se unir aos "rebeldes" caso Johnson não aceitasse colocá-lo nas Finanças. A intenção inicial do premiê era escolher a ministra das Relações Exteriores, Liz Truss.

No fim, Zahawi, de 55 anos, venceu a queda de braço, segundo a imprensa local, e ficará com uma das pastas mais importantes do governo, automaticamente sendo cotado a sucessor de Johnson. O nome de Zahawi se popularizou no Reino Unido a partir de novembro de 2020, como ministro de Vacinação e grande responsável pela eficaz campanha de imunização contra a covid-19 no país.

Barclay, de 50 anos, é um dos colaboradores mais leais de Johnson, que o colocou à frente do departamento do gabinete para tentar organizar o funcionamento interno de Downing Street.

Donelan, de 38, torna-se ministra pela primeira vez, após dois anos como responsável pelas universidades no governo e sete anos como deputada. 

md/bl (EFE, AP, AFP, Reuters)

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