Novas sanções da UE afetam sobretudo a população iraniana
15 de outubro de 2012A União Europeia (UE) decidiu impor mais sanções econômicas ao Irã nesta segunda-feira (15/10). Entre as medidas, estão a proibição da importação de gás e transações entre o Irã e bancos europeus. Mas, segundo especialistas, essas medidas afetam, principalmente, a população iraniana.
A UE espera que a liderança da república islâmica finalmente ceda quanto o seu programa nuclear, já que os negócios com gás e óleo são as principais fontes de receita de Teerã.
Os 27 ministros de relações exteriores da UE, reunidos em Luxemburgo, acusam o Irã de não estar substancialmente aberto a negociações. Além disso, eles querem garantias de que o país não trabalha na construção de uma bomba nuclear.
Além do embargo - já existente - de importação de petróleo desde julho de 2012, os ministros deram carta branca para a proibição, também, da importação de gás – ainda que os países da UE não comprem gás do Irã no momento.
O vasto pacote de sanções inclui, ainda, a proibição de negócios com 34 empresas iranianas ligadas ao regime, além de transações financeiras entre o Irã e bancos europeus. As exceções serão analisadas e sujeitas a imposições. Somente pagamentos para a compra de gêneros alimentícios, suprimentos médicos ou humanitários serão permitidos.
Irã não se sente pressionado
Porém, até o momento, as sanções internacionais não surtiram o efeito desejado no Irã. Como reação, foi confirmado que o governo não vai desistir do enriquecimento de urânio. Há muito tempo Israel e o Ocidente suspeitam que Teerã, sob a desculpa de pesquisa civil, trabalhe secretamente com armas nucleares. A liderança iraniana nega de forma persistente.
Além disso, o homem mais poderoso do país, o aiatolá Ali Khamenei, informou na última quarta-feira que as sanções não vão desencorajar o país. "Nossos inimigos precisam saber que a república islâmica irá superar todos esses problemas."
Khamenei, como líder político e religioso do Irã, decide todas questões relacionadas ao programa nuclear. Suas afirmações contêm uma mensagem clara para o Ocidente: podem continuar aplicando sanções, mas o Irã não vai desistir do programa nuclear.
Quem é atingido pelas sanções?
De acordo com o especialista em economia iraniana, Hassan Mansour, é a população quem mais sofre com as sanções. Ao mesmo tempo, elas não atingem seu objetivo. "O ocidente acredita que, com o rigor das sanções, a vida do povo iraniano vai se tornar insuportável e, assim, a pressão sobre o governo se tornará maior."
Mas, de acordo com Mansour, isso seria um erro de cálculo: os regimes ditatoriais – entre eles o do Irã – não dão atenção à população. "O povo vai carregar o enorme fardo das sanções. As pessoas não podem mais financiar sua subsistência. E o que faz o chefe de estado Khamenei? Ele não vai retroceder nenhum passo."
A mesma posição é defendida por Mehrdad Emadi, consultor sobre o Irã da União Europeia. São as pessoas mais simples que sofrem as conseqüências, diz ele.
Quanto ao mau desempenho econômico do Irã, ele vê, em primeira linha, a responsabilidade do próprio regime iraniano. A política econômica do governo e a falta de controle das despesas públicas seriam as responsáveis pelos problemas desastrosos.
Sem controle financeiro
Após a eliminação do órgão governamental de gestão e planejamento de controle financeiro em 2007, nenhuma instituição controla mais os gastos do governo. O controle por parte do parlamento também não ocorre. Com isso, o presidente Mahmoud Ahmadinejad pode gastar as receitas do Estado como bem entender.
Seja ajuda financeira ao regime sírio, construção de moradias no "país-irmão" Venezuela ou distribuição de subsídios milionários para empresas incompetentes e leais ao regime, o governo decide livremente onde vai aplicar seus recursos. "Com isso, foi criado um terreno fértil para a corrupção e o nepotismo", frisa Emadi.
Enfraquecimento da economia
No dia 1º de julho de 2012 foram colocadas em prática as sanções da União Europeia contra o setor petrolífero e o Banco Central do Irã. De acordo com dados oficiais do país localizado no Golfo Pérsico, desde então houve prejuízo entre 35% e 45% das receitas.
"Enquanto o governo puder exportar petróleo, ele está em condições de cobrir a miséria econômica com injeções financeiras", disse o especialista em Irã, Emadi. Desde o embargo de petróleo por parte da UE faltam ao Irã os chamados petrodólares.
Apesar das recentes e duras declarações de Khamenei, Emadi analisa os últimos sinais da República Islâmica. Segundo ele, haveria manifestações de interesse pelo recomeço das negociações rompidas com o Ocidente.
A UE também não teria o interesse no aumento do conflito. Se a UE e o Irã se aproximarem, Emadi vê aí a esperança de que esse conflito possa ser resolvido pelo caminho diplomático. "Já está na hora, e a União Europeia é muito séria no seu esforço para parar o programa nuclear do Irã."
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Revisão: Francis França