Estreantes na política e de carona na onda bolsonarista, ex-militares, empresários, ex-juízes e um jornalista estão na disputa em oito estados. Quase todos são favoritos e devem impor derrotas a velhos grupos políticos.
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O segundo turno das eleições para governador deve impor novas derrotas a clãs políticos tradicionais e ver mais uma vez a ascensão de novatos na política registrada nas eleições nacionais do dia 7 de outubro.
No próximo domingo, os eleitores de 13 estados e do Distrito Federal vão escolher seus novos governadores. Em oito dessas disputas, novatos com pouca ou nenhuma experiência política –em vários casos filiados a partidos nanicos – aparecem na liderança das pesquisas ou empatados com o líder.
Neste grupo de estreantes há três empresários, um jornalista, dois ex-juízes, um bombeiro e um policial. Eles disputam o pleito com governadores que buscam se reeleger, senadores e deputados. Três desses outsiders são filiados ao PSL de Jair Bolsonaro. Apenas seis das 14 disputas para governador contrapõem grupos políticos tradicionais.
O caso mais chamativo é o do Rio de Janeiro, onde o ex-fuzileiro naval e ex-juiz federal Wilson Witzel (PSC) surpreendeu no primeiro turno ao conseguir 41% dos votos válidos, graças, em grande parte, por associar seu nome com a candidatura presidencial de Bolsonaro. Antes do resultado, Witzel vinha sendo ignorado pela imprensa e outros políticos. Com 61% das intenções de voto, segundo o último Datafolha, ele deve derrotar o ex-prefeito Eduardo Paes (DEM), um veterano da política carioca.
Em Minas Gerais, o ex-governador Antônio Anastasia (PSDB), outra figura conhecida nacionalmente, aparece bem atrás de outro estreante, o empresário Romeu Zema, filiado ao nanico Novo, que foi criado há três anos. Segundo o Datafolha, Zema tem 71% das intenções, contra 29% do tucano. No primeiro turno, Zema já havia deixado para trás o atual governador Fernando Pimentel (PT), que disputava a reeleição. Assim como Witzel no Rio, Zema também colou sua imagem em Bolsonaro.
No Distrito Federal, 11 candidatos se apresentaram para a disputa ao governo no primeiro turno. O empresário Ibaneis Rocha (MDB), que disputa sua primeira eleição, terminou na liderança. Ele agora é o favorito na disputa isolada com o atual governador Rodrigo Rollemberg. O empresário tem 75% das intenções, contra 25% do governador, de acordo com o Datafolha.
Em Santa Catarina, o bombeiro Comandante Moisés (PSL), que nunca exerceu cargo eletivo, aparece com 59% das intenções de voto, de acordo com o Ibope. Está à frente do deputado Gelson Merísio (PSD), que já presidiu a Assembleia Legislativa do Estado e que aparece com 41%. Foi em Santa Catarina que Bolsonaro obteve seu melhor desempenho no primeiro turno em todo o país: 65,8% dos votos válidos no estado.
Em Rondônia, outro militar estreante na política aparece liderando as pesquisas. O coronel reformado da PM Marcos Rocha (PSL) tem 63% das intenções de votos válidos na disputa com o ex-deputado e ex-senador Expedito Júnior (PSDB).
No estado de Roraima, mais um filiado do PSL aparece como favorito. O empresário Antonio Denarium tem 62% das intenções de voto. Seu oponente é José de Anchieta Júnior (PSDB), que já governou o estado entre 2007 e 2014 e agora aparece com 38% das intenções.
Em Mato Grosso do Sul, o atual governador Reinaldo Azambuja (PSDB) está sendo desafiado pelo ex-juiz Odilon (PDT), conhecido no estado por sua atuação contra cartéis de traficantes que agem na fronteira com o Paraguai. Por enquanto, Odilon aparece tecnicamente empatado no limite da margem de erro com Azambuja. Tem 47% das intenções contra 53% do atual governador.
Por fim, no Amazonas, um jornalista sem experiência política aparece na liderança. Wilson Lima (PSC), ex-apresentador da TV "A Crítica", tem 65% das intenções de votos válidos. Ele disputa com o veterano Amazonino Mendes (PDT), que está em seu quarto mandato como governador.
Além de estarem desafiando veteranos, todos esses oito novatos têm em comum o fato de apoiarem, em maior ou menor grau, a candidatura de Jair Bolsonaro. A força do presidenciável também se fez sentir mesmo nas candidaturas de políticos de grupo tradicionais. Em Santa Catarina, Rondônia, Mato Grosso do Sul e Amazonas, ambos os candidatos na disputa declararam apoio ao presidenciável.
Também chama a atenção o isolamento de Fernando Haddd (PT) em todos os 14 estados que vão ter segundo turno para governador. Só três dos 28 candidatos declaram apoio ao petista.
Entre os estados com disputas isoladas que envolvem velhos grupos políticos estão Amapá, Rio Grande do Norte, São Paulo, Rio Grande do Sul, Pará e Sergipe. No páreo estão só veteranos e partidos bem estabelecidos, como o PSDB, DEM, PT, PSB, PDT, MDB e PSD.
No Rio Grande do Sul, o atual governador Ivo Sartori (MDB) tenta quebrar a sina que envolve os ocupantes do Palácio Piratini no estado. Desde que o mecanismo da reeleição foi criado, em 1997, nenhum chefe do executivo gaúcho foi reconduzido para mais um mandato consecutivo. Por enquanto, Sartori tem 41% das intenções e está atrás do tucano Eduardo Leite, que tem 59%. Apesar de ser filiado ao PSDB e ter sido prefeito de Pelotas, Leite, de apenas 33 anos, também se vendeu como uma espécie de "novidade" nas eleições para se contrapor ao veterano Sartori. Ambos apoiam Bolsonaro na disputa presidencial.
Já no Amapá, a disputa pelo segundo turno envolve dois velhos inimigos políticos: os ex-governador João Capiberibe (PSB) e o atual governador Waldez Góes (PDT). No Rio Grande do Norte, o PT tenta conquistar mais um governo estadual com a candidata Fátima Bezerra. A senadora disputa o governo com Carlos Eduardo (PDT), ex-prefeito de Natal e membro da família Alves, uma oligarquia tradicional do estado. No Sergipe, a disputa envolve o atual governador e um deputado federal que é filho de um ex-governador.
No Pará, Helder Barbalho (MDB), filho do senador Jader Barbalho (MDB), aparece como favorito, com 58% das intenções, à frente de Márcio Miranda (DEM), que já foi presidente da Assembleia Legislativa do estado. Em São Paulo, o ex-prefeito João Doria (PSDB) disputa o segundo turno com o atual governador Márcio França (PSB).
Treze candidatos se apresentaram para disputar o Planalto. O líder das pesquisas acabou fora da corrida, e vários nomes tentam contornar isolamento partidário. Veja os principais episódios da disputa.
Foto: Reuters/A. Machado
Bolsonaro é eleito presidente
Em segundo turno, os brasileiros elegeram Jair Bolsonaro (PSL) como presidente. Após uma campanha eleitoral polarizada, o militar reformado de extrema direita recebeu 55,13% dos votos, contra 44,87% de Fernando Haddad (PT). Com bandeiras do Brasil e vestidos nas cores verde e amarelo, eleitores comemoram pelo país. No discurso da vitória, Bolsonaro prometeu um governo constitucional e democrático.
Foto: picture-alliance/AP Photo/S.Izquierdo
TSE abre investigação contra Bolsonaro
A pouco mais de uma semana do segundo turno, o Tribunal Superior Eleitoral abriu uma ação para investigar suspeitas de compra de disparos de mensagens antipetistas no WhatsApp por parte de empresários aliados a Bolsonaro. O pedido de investigação foi feito pelo PT, após uma reportagem do jornal "Folha de S. Paulo". A PF também abriu inquérito para investigar a disseminação em massa de "fake news".
Foto: Reuters/R. Moraes
Bolsonaro e Haddad vão ao segundo turno
Numa das eleições mais polarizadas da história, em 7 de outubro os brasileiros levaram ao segundo turno os dois candidatos que, segundo sondagens, são também os mais rejeitados: Bolsonaro (PSL) e Haddad (PT). Favorito no Sul e Sudeste, o ex-militar teve 46% dos votos válidos contra 29% do petista, que foi o mais votado em oito estados do Nordeste e no Pará. Em terceiro, Ciro Gomes (PDT) teve 12%.
Foto: Reuters/P. Whitaker/N. Doce
Bolsonaro cresce nas pesquisas
Já líder nas pesquisas, o candidato do PSL ampliou sua vantagem no início de outubro, ultrapassando pela primeira vez a marca de 30% em sondagens do Ibope e do Datafolha. Ao longo da semana que antecedeu as eleições, o ex-capitão foi subindo e, na véspera do pleito, cruzou a barreira de 40% dos votos válidos. Após ser esfaqueado, a campanha do candidato se concentrou nas redes sociais.
Foto: Reuters/P. Whitaker
A troca de Lula por Haddad
Após meses de suspense e com aval de Lula, Fernando Haddad foi oficializado candidato à Presidência pelo PT em 11 de setembro, a menos de um mês do primeiro turno, após se esgotarem as chances de o ex-presidente concorrer. Preso e virtualmente inelegível pela Ficha Limpa, Lula era líder nas pesquisas de intenção de voto. O desafio agora será transferir votos para o ex-prefeito.
Foto: Agencia Brasil/R. Rosa
Ataque a Bolsonaro
O candidato do PSL foi esfaqueado durante um ato de campanha em Juiz de Fora, um ataque que prometia mudar os rumos da corrida presidencial. Seus adversários condenaram a agressão, e alguns chegaram a mudar o tom da campanha. Não houve, contudo, um impacto decisivo sobre o eleitorado. Ele segue líder das intenções, mas com percentual praticamente igual. A rejeição a ele, por outro lado, aumentou.
Foto: picture-alliance/dpa/Agencia O Globo/A. Scorza
O "plano B" do PT
Com Lula virtualmente inelegível, a escolha do seu vice passou a ser encarada como um trampolim para um candidato substituto. No início de agosto, o PT acabou indicando Fernando Haddad, que desde o início do ano era cotado como "plano B". Manuela D'Ávila (PCdoB) ficou com a curiosa posição não oficial de "vice do vice", assumindo a posição com Lula candidato ou não.
Foto: Agência Brasil/F.Rodrigues Pozzebom
A novela dos vices
A fase de convenções começou no fim de julho sem que a maioria dos pré-candidatos tivesse um vice. Bolsonaro teve três convites recusados até fechar com o general Mourão (PRTB). Henrique Meirelles (MDB) e Ciro Gomes (PDT) se contentaram com nomes do próprio partido. Alckmin teve convite recusado pelo empresário Josué Alencar, cuja família é ligada a Lula, antes de optar por Ana Amélia (PR).
Foto: Agência Brasil/F.Frazão
Os candidatos isolados
A jogada de Alckmin com o "centrão" acabou isolando outros candidatos. Jair Bolsonaro (PSL) tentou negociar com o PR, mas teve que se contentar com o nanico PRTB. Ciro Gomes (PDT) também viu suas investidas no grupo naufragarem. Marina Silva (Rede) e Ciro também não conseguiram apoio do PSB, que ficou neutro numa manobra do PT. Os três terminaram a fase de convenções com pouco apoio e tempo de TV.
Alckmin fecha com o "centrão"
Em julho, o tucano Geraldo Alckmin ainda patinava nas pesquisas, mas criou um fato novo na campanha ao conseguir o apoio do "centrão", as siglas que costumam emprestar seu apoio a governos em troca de cargos e verbas. Ao se aliar com PR, PP, PSD, DEM e SD, Alckmin passou a dominar 44% da propaganda eleitoral na TV. Sua coligação também recebe 48% do novo fundo de campanhas.
Foto: Getty Images/AFP/E. Sa
Candidaturas descartadas
A eleição de 2018 parecia destinada a superar o número de candidatos de 1989, quando 22 disputaram. Em abril, 23 manifestavam interesse em concorrer, entre eles o presidente Michel Temer, o presidente da Câmara, Rodrigo Maia, e o ex-presidente Fernando Collor. Mas eles logo desistiram ou foram abandonados por seus partidos. Outros aceitaram ser vices. Em agosto, só 13 permaneciam na corrida.
Foto: Marcelo Camargo/Agência Brasil
Os "outsiders" saem de cena
A possibilidade de Lula ficar de fora e o sentimento antipolítico entre a população sinalizavam que esta seria a eleição dos "outsiders". O ex-ministro do Supremo Joaquim Barbosa e o apresentador Luciano Huck chegaram a ser incluídos em pesquisas. O empresário Flávio Rocha anunciou candidatura. Em julho, todos já haviam desistido, e a disputa ficou restrita a velhos nomes da política.
Foto: Imago/ZUMA Press/M. Chello
Lula é condenado e preso
Quando anunciou, em 2016, a intenção de disputar a eleição, Lula se tornou o líder nas pesquisas. Em janeiro, porém, sua situação se complicou após uma condenação em segunda instância que o deixou virtualmente inelegível. Em abril, foi preso. Com a possibilidade de a candidatura ser barrada, o PT passou a ter dificuldades em formar alianças, e o desfecho do pleito ficou ainda mais imprevisível.
Foto: Reuters/L. Benassatto
Entra em cena o fundo de campanhas
Diante da proibição das doações por empresas, o Congresso criou em outubro de 2017 um novo fundo de R$ 1,7 bilhão para financiar candidaturas, já definindo a capacidade financeira de várias campanhas. Quase 60% do valor ficou concentrado em seis legendas: MDB, PT, PSDB, PP, PSB e PR, deixando candidatos à Presidência de pequenas e médias siglas com menos recursos na largada.