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Novo caso de estupro coletivo abala Índia

23 de agosto de 2013

Vítima era fotojornalista e estava em área pobre de Mumbai. Caso evoca recente onda de crimes que levou a endurecimento de leis contra violência sexual. Governo promete punição severa para agressores.

Foto: Reuters

Uma fotojornalista de 22 anos foi estuprada por cinco homens na noite de quinta-feira (22/08), numa área de mata no sul da metrópole indiana de Mumbai, divulgou a polícia local. O caso traz à memória o estupro e morte de uma universitária, em dezembro último, que indignou o país, suscitando protestos de massa e redundando no endurecimento da legislação relativa à violência sexual.

No crime mais recente, a vítima e um colega haviam sido incumbidos por uma revista de fotografar em Lower Parel, bairro que já foi zona de manufaturas têxteis, mas que se transformou dramaticamente na última década. Hoje, tanto shopping centers e restaurantes da moda quanto condomínios de alto luxo dividem o espaço com fábricas abandonadas e favelas.

Por volta das 19h (hora local) os dois profissionais foram confrontados por cinco homens. Depois de terem inicialmente oferecido ajuda na obtenção da permissão para fotografar o interior de um prédio isolado em ruínas, os homens tornaram-se agressivos, acusando o rapaz de 21 anos de haver participado de um crime local.

Quando ele negou envolvimento, os criminosos amarraram-lhe as mãos com um cinto e o imobilizaram, levando a fotógrafa para outro local do terreno, onde a estupraram. A mulher está hospitalizada, apresentando quadro estável. A polícia se recusou a revelar para quem exatamente ela trabalhava na ocasião do ataque.

Suspeitos e primeiras reações

înício do processo contra estupradores do ônibus em Nova Délhi, em janeiro de 2013Foto: AFP/Getty Images

Segundo as autoridades, nesta sexta-feira um suspeito preso em Mumbai identificou os demais quatro agressores. Apesar de divulgar seus retratos falados, a polícia preferiu não citar nomes nem detalhes, para não colocar os suspeitos, que teriam envolvimento com tráfico de drogas, em alerta.

No sul da cidade, cerca de mil pessoas, inclusive membros das associações locais de jornalismo, se reuniram em protesto silencioso. Algumas portavam tarjas pretas, outras levavam cartazes com dizeres como "Parem com o estupro" e "Cidade da vergonha".

A ocorrência também foi discutida no Parlamento indiano. A oposição acusou o governo de não fazer o suficiente para a proteção feminina. Em respostam, o ministro indiano do Interior, Ratanjit Pratap Narain Singh, informou que Nova Délhi recomenda "a mais severa" punição para quem seja considerado culpado do crime.

Série de casos chocantes

Contando 14 milhões de habitantes, a metrópole financeira de Mumbai, capital do estado de Maharashtra, é considerada a cidade mais segura da Índia. No entanto, o estupro em Lower Parel se alinha numa longa lista, num país com tradição de minimizar e silenciar a violência sexual contra mulheres.

Em dezembro de 2012, seis homens, entre os quais um menor de idade, violentaram com brutalidade extrema uma estudante de fisioterapia de 23 anos, num ônibus, na capital Nova Délhi. A vítima morreu dias depois. Seu namorado presenciou o crime, sendo amarrado e espancado com barras de ferro. Os estupradores adultos respondem a processo, estando sujeitos à pena de morte.

Em janeiro de 2013, no estado de Punjab, uma mulher de 29 anos, mãe de dois filhos, declarou ter sido estuprada por diversos homens quando viajava de ônibus, a caminho de encontrar sua família. Seis acusados foram detidos.

No mês seguinte, após uma dramática perseguição, a polícia da capital conseguiu libertar uma jovem de 24 anos. Quatro homens a haviam sequestrado e submetido a abuso sexual.

Em março, seis homens assaltaram uma suíça e seu companheiro, no estado de Madhya Pradesh, e estupraram a mulher. O casal de turistas estava visitando a região, de bicicleta e com barracas de acampamento. A administração local foi duramente criticada na época, por sua primeira reação ter sido responsabilizar as próprias vítimas. Os criminosos foram sentenciados à prisão perpétua.

Leis mais rigorosas

Estupro de menina de 5 anos em abril reavivou protestosFoto: Reuters

No mesmo mês, reagindo à pressão crescente da população, o governo aprovou um conjunto de leis rigorosas, prevendo penas de prisão mais longas para o crime de estupro, e tornando voyeurismo, perseguição persistente (stalking), ataques com ácido e tráfico de mulheres puníveis pela legislação criminal.

Ainda assim, no final de abril, dois homens, de 19 e 22 anos, foram acusados de sequestrar uma menina de cinco anos, mantendo-a num porão em Nova Délhi, onde a torturam e estupraram por dois dias. A criança foi libertada depois que vizinhos escutaram seu choro.

Após o novo crime em Mumbai, a autora Shobhaa De expressou a descrença da população indiana nas autoridades, ao comentar, amarga, no Twitter: "Mais um estupro coletivo. Mais uma vítima. Apenas mais um dia para a nossa grande nação".

A ativista indiana dos direitos femininos Vrinda Grover confirmou que muitas de suas compatriotas vivem no medo. "Nós temos um problema muito arraigado, pois vivemos numa sociedade profundamente misógina", declarou, ressalvando, porém, não se tratar de um problema exclusivo do país: em proporção à população total o número de estupros na Alemanha, por exemplo, seria superior ao da Índia.

AV/ap/dpa/epd

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