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Ciência e medicina

Carl-Josef Kutzbach (jl)21 de março de 2007

Pesquisadores da Universidade de Tübingen estão testando um chip que, implantado no fundo do globo ocular, pode ajudar deficientes visuais.

A possibilidade de diferenciar claro e escuro anima deficientes visuaisFoto: Bilderbox

À noite, todos os gatos são pardos. Essa sabedoria popular é comprovada pela constatação científica de que a parte do olho responsável pelo reconhecimento da cor é menos sensível do que a parte com que diferenciamos claro e escuro. É por isso que muitos predadores, como alguns felinos, só vêem em preto-e-branco, mas em compensação enxergam também quando está muito escuro. Ver a vida em preto-e-branco não é uma desvantagem tão grande quanto parece: mesmo os televisores antigos só transmitiam imagens bicolores.

Atrás do olho humano existem, em uma área de mais ou menos uma moeda de 2 euros, mais de 100 milhões de bastonetes, responsáveis pela diferenciação de luminosidade. E, a cada um milhão de estímulos visuais que recebemos, apenas 40 atingem o cérebro: isso quer dizer que o olho não funciona apenas como um aparelho óptico, mas também como um processador de dados.

Por essa razão, pareceu viável tentar ajudar com uma prótese eletrônica (chip) os deficientes visuais em que os nervos oculares não processam corretamente para o cérebro os estímulos visuais – como é o caso da doença retinose pigmentar (cegueira noturna).

As pesquisas em neuroftalmologia já estão trabalhando na busca desse tipo de cura desde 1995 e, em março de 2007, o professor Eberhart Zrenner, da Universidade de Tübingen, divulgou os primeiros resultados bem-sucedidos da pesquisa.

Os pacientes ainda não conseguem reconhecer rostos, mas apesar disso o avanço é significativo: eles já conseguiram localizar objetos e descrever as fontes luminosas. Foi um estudo piloto, com começo e fim definidos: 30 dias. Antes de os voluntários se submeterem ao implante, ficou bem claro que o chip seria retirado depois das quatro semanas de testes.

O olho eletrônico pode custar caro

Mulher acompanha um cego para atravessar a ruaFoto: BilderBox

O chip implantado em sete pacientes no segundo semestre de 2006 é feito de silício e possui, numa superfície de 3x3mm, 1500 fotocélulas que passam as informações de claridade para as células dos nervos ópticos, independentemente umas das outras. Dessa forma, ele substitui, no caso da retinose pigmentar, as células mortas da visão e permite identificar a claridade num ângulo de até 12 graus.

A fonte de energia para o funcionamento dos chips vem de um aparelho portátil, do tamanho de um gravador cassete. Mais tarde, com os avanços tecnológicos e as produções em série, espera-se ser possível uma fonte de energia sem fio. Além disso, uma ligação suplementar sob o couro cabeludo e que vai até o olho permite testes para adequar a quantidade de energia à sensibilidade dos nervos ópticos. Essas conquistas foram atingidas em setembro do ano passado, e então foram possíveis os testes nos pacientes.

Os pacientes foram capazes de reconhecer onde estavam as janelas, lâmpadas ou lustres, e até mesmo quando pratos de cor clara eram colocados sobre uma mesa escura. As cirurgias têm um tempo de duração muito longo e exigem do cirurgião um trabalho minimalista.

A técnica ainda não é capaz de solucionar problemas de degeneração da mácula ocular ou de glaucomas. Em longo prazo, pode-se até pensar em soluções para esse tipo de cegueira. Estima-se que, nos próximos anos, se possa chegar a um faturamento em torno de 100 milhões de euros com esta tecnologia.

Walter Wrobel, diretor da Retina Implant, uma empresa criada a partir das universidades, acredita que nos próximos anos sejam feitos, no mundo todo, cerca de três mil implantes de retina a um preço de 25 mil euros cada uma. "Como se trata de um trabalho científico que demanda especialização, os preços não podem ser baixos", explica. Mas um cachorro para cegos custa, com todos os treinamentos, cerca de 30 mil euros. Com o novo implante, ele passa a ter concorrência.

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