Novo filme de Tarantino colhe vaias e aplausos em Cannes
22 de maio de 2019
Apesar de trazer uma concentração de estrelas hollywoodianas, estreia mais esperada do Festival de Cinema oscila entre o pastiche e a homenagem à Sétima Arte, valorizando imagens em detrimento de diálogos.
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Com Era uma vez em Hollywood, o diretor americano Quentin Tarantino voltou ao tapete vermelho, na noite desta terça-feira (21/05) em Cannes, 25 anos depois de ganhar a Palma de Ouro com seu filme Pulp Fiction, em 1994.
A estreia do novo filme de Tarantino foi uma das mais esperadas da 72ª edição do Festival de Cinema Cannes, aumentando o glamour na Croisette com sua concentração de estrelas do Olimpo hollywoodiano.
Leonardo DiCaprio e Brad Pitt protagonizam o filme que retrata Hollywood no final dos anos 1960. DiCaprio interpreta um ator de faroeste (Rick Dalton), receoso por sua notoriedade estar diminuindo. Pitt faz o papel de seu dublê (Cliff Booth), amigo e motorista.
Embora tenha como pano de fundo os assassinatos de Charles Manson, muito do filme de Tarantino procura resgatar o esplendor de uma Hollywood do passado. Margot Robbie (no papel de Sharon Tate), James Marsden, Dakota Fanning, Al Pacino, Kurt Russell e o recentemente falecido Luke Perry completam o estrelado elenco.
Antes da estreia de Era uma vez em Hollywood em Cannes, Quentin Tarantino pediu em carta divulgada na última segunda-feira que ninguém revelasse nada que pudesse impedir os espectadores de desfrutar plenamente seu novo projeto.
"Adoro cinema. Vocês adoram cinema, É uma viagem para descobrir uma história pela primeira vez. Desejo compartilhar Era uma vez em Hollywood com a audiência do festival", afirmou Tarantino, que lembrou também que sua equipe trabalhou duro para criar "algo original".
"Só peço que as pessoas evitem revelar algo que possa impedir outros espectadores de ter a experiência de ver o filme da mesma forma", disse a mensagem lida antes da sessão para jornalistas e críticos.
Segundo a revista Spiegel, as preocupações de Tarantino são justificáveis, já que seu novo filme possui "somente um ponto alto". Mas isso não se nota durante a maior parte dos 159 minutos da película, escreveu a publicação alemã, já que "por duas horas, Tarantino oferece diversão ilimitada e sem sentido, com imagens fluindo uma após a outra."
"Era uma vez em Hollywood oscila entre o pastiche e a homenagem, Tarantino celebra o trabalhado de outros diretores e tem prazer em elevar estrelas e filmes a cânone. Vê-se um fluxo maravilhoso de imagens, como muitas ensolaradas filmagens externas nas cores irradiantes do final dos anos 1960", explicou a Spiegel, acrescentando "que nunca antes num filme de Tarantino os diálogos ficaram tão em segundo plano em favor das imagens."
Era uma vez em Hollywood é o primeiro filme de Tarantino não produzido por Harvey Weinstein. Depois que o diretor cortou laços com o megaprodutor envolvido nos escândalos de assédio sexual, o projeto atraiu o interesse da maioria dos estúdios. A Sony Pictures conseguiu o filme, disponibilizando um orçamento de 95 milhões de dólares.
Segundo a Spiegel, o diretor de 56 anos anunciou que faria dez filmes em sua vida. "Este é o seu nono, mas o que deve vir depois disso não é claro, porque Era uma vez em Hollywood parece um 'best of': tanto no sentido de uma compilação de sucessos quanto de clímax de carreira."
Em Cannes, a película colheu vaias e aplausos. De acordo com a Spiegel, esse é um bom resumo crítico do nono filme de Tarantino.
CA/efe/ap/ots
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De clássicos como "King Kong" e "Oito e meio" ao sucesso recente de "Ave, César!", há quase um século o próprio processo de produzir filmes tem se provado tema fascinante para cineastas e público.
Foto: picture-alliance/dpa/dpaweb/UIP
"Cantando na chuva" (1952)
O famoso musical enfoca a Hollywood da década de 20, na transição do filme mudo para o sonoro, quando a súbita pressão para representar com a voz representou o ocaso para diversos astros e estrelas do cinema. As sequências cantadas e dançadas com Gene Kelly (foto), Debbie Reynolds e Donald O'Connor são um forte tributo ao gênero musical da época.
Foto: picture-alliance/Mary Evans Picture Library/Ronald Grant Archive
"King Kong" – original e remakes
Com um macaco-monstro e efeitos especiais icônicos, a versão de 1933 de "King Kong" foi um marco da história do cinema. Seguiram-se várias refilmagens, destacando-se as de 1976, com Jessica Lange e Jeff Bridges, e 2005 (foto), dirigida por Peter Jackson. O misto de história de amor bestial e thriller acompanha uma equipe cinematográfica à Ilha da Caveira, onde se depara com o colossal gorila.
Foto: Presse
"Bancando o águia" (1924)
Essa comédia muda foi possivelmente a primeira produção a revelar aos espectadores os bastidores da indústria cinematográfica. Em sonho, o projecionista Buster assume o papel do detetive Sherlock Holmes, resolve um caso e conquista o amor da mocinha. De volta à realidade, ele imita seu herói cinematográfico. "Sherlock Jr." é considerada uma das obras mais importantes do americano Buster Keaton.
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"O artista" (2011)
Também em "O artista", dois atores se encontram na transição para o filme sonoro. Rodado em preto-e-branco, com entretítulos e diálogo esparso, ele é uma homenagem à era do cinema mudo e uma declaração de amor à sétima arte. A produção francesa recebeu cinco Oscars e três Globos de Ouro, entre vários outros prêmios.
Foto: picture-alliance/dpa
"Crepúsculo dos deuses" (1950)
Em seu drama, Billy Wilder conta a história do cineasta fracassado Joe Gillis (William Holden) e da ex-diva das telas Norma Desmond (Gloria Swanson). O resultado é um retrato impiedoso da assim chamada "fábrica dos sonhos" Hollywood. O diretor evitou o quanto pôde revelar a trama a seus produtores, para evitar que o fizessem abrandar o tom crítico de seu "Sunset Boulevard" (título original).
Foto: AP
"O desprezo" (1963)
Jean-Luc Godard também retratou a comercialização do cinema nessa produção ítalo-francesa. Brigitte Bardot representa a esposa do roteirista Paul Javal (Michel Piccoli), cuja relação sucumbe à ganância e desconfiança, nas engrenagens da indústria cinematográfica hollywoodiana.
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"Ed Wood" (1994)
Em preto-e-branco, Tim Burton retratou aqui um outro cineasta americano. Ambicioso e profundo admirador do gênio Orson Welles, porém desprovido de talento e verba, Edward D. Wood Jr. (Johnny Depp, dir. embaixo) produziu nos anos 50 uma série de filmes B com elementos de ficção científica e horror. Martin Landau recebeu o Oscar de melhor ator coadjuvante pelo papel do ex-Drácula Bela Lugosi.
Foto: picture-alliance/United Archives
"O estado das coisas" (1982)
Um diretor igualmente enfrenta dificuldades financeiras neste filme do alemão Wim Wenders. Filmando em locação em Portugal, Friedrich Munro (Patrick Bauchau) decide ir pessoalmente para Los Angeles, quando as verbas e o material fotográfico esperados não chegam. Wenders inseriu diversas alusões a outros filmes e cineastas, como Friedrich Murnau, Fritz Lang e Roger Corman.
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"Deu a louca nos astros" (2000)
Escrita e dirigida por David Mamet, a comédia "State and Main" acompanha um caótica produção cinematográfica. Chegando a Vermont para filmar "O velho moinho", a equipe constata que cidade não tem mais um moinho. Aí a atriz principal súbito exige um cachê muito mais alto, o roteirista sofre bloqueio criativo, o protagonista passa a flertar com uma adolescente local (Julia Stiles, na foto).
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"8 1/2" (1963)
Clássico do cinema de autor, "Oito e meio", de Federico Fellini, gira em torno do cineasta Guido Anselmi (Marcello Mastroianni), em meio a uma crise existencial acompanhada de bloqueio criativo. Claudia Cardinale (foto) representa a inalcançável Mulher Ideal. Portador dois Oscars, o filme é considerado uma obra prima do cinema autorrreferencial.
Foto: picture-alliance/dpa
"Boogie Nights: Prazer sem limites" (1997)
A ascensão e queda do astro pornô Dirk Diggler (Mark Wahlberg, esq.), discípulo e "galinha dos ovos de ouro" do diretor Jack Horner (Burt Reynolds), é pretexto para o também roteirista Thomas Paul Anderson traçar uma crônica do cinema pornográfico americano no fim da década de 70, às vésperas do ocaso de uma época áurea.
Foto: picture alliance / United Archives
"Ave, César!" (2016)
A comédia de Ethan e Joel Coen celebra a Hollywood dos anos 50, período em que a indústria cinematográfica sente a ameaça da competição pela televisão. Ao desaparecer misteriosamente do set de filmagens de um épico romano, o ator em decadência Baird Whitlock (George Clooney) representa um problema para Eddie Mannix, um produtor disposto a empregar drásticos para sanar os problemas do estúdio.