1. Pular para o conteúdo
  2. Pular para o menu principal
  3. Ver mais sites da DW

Novo líder alemão critica ações militares de Israel em Gaza

26 de maio de 2025

Chanceler federal da Alemanha, Friedrich Merz diz "não compreender mais que objetivo Israel espera alcançar" em Gaza. Mas seu governo, apesar de apelos, descarta deixar de fornecer armas a Israel.

O chanceler federal da Alemanha, Friedrich Merz
Após atritos de vários países europeus com Israel, o líder da Alemanha, chanceler federal Friedrich Merz, também resolveu direcionar críticasFoto: Michael Kappeler/dpa/picture alliance

Em mais um sinal da insatisfação crescente de vários países europeus com o governo israelense, o chanceler federal da Alemanha, Friedrich Merz, afirmou nesta segunda-feira (26/05) não enxergar justificativa para a escala atual dos ataques executados por Israel na Faixa de Gaza.

Por outro lado, o governo alemão evitou traduzir as críticas em ações, apontando que não pretende parar de vender armas para os israelenses.

"Prejudicar a população civil a tal ponto, como tem sido cada vez mais o caso nos últimos dias, não pode mais ser justificado como uma luta contra o terrorismo do Hamas", disse Merz à emissora pública alemã WDR.

Merz acrescentou ainda que não "compreende mais" o que Israel espera alcançar em Gaza após um ano e meio de operações militares no enclave palestino. "Não compreendo mais o que o exército israelense está fazendo na Faixa de Gaza, com que objetivo a população civil está sendo afetada a tal ponto", disse Merz.

As falas de Merz ocorrem em meio à insistência dos israelenses em manter um bloqueio quase total à entrada de ajuda humanitária à Faixa de Gaza e à continuidade de pesadas operações militares que envolvemevacuações em larga escala de civis palestinos e bombardeios. Nos últimos dias, o noticiário sobre a guerra foi dominado por relatos de mortes de civis e de como as cargas de alimentos que receberam permissão dos israelenses para entrar no enclave têm sido insuficientes.

Todos esses episódios já levaram os governos de países como Espanha, França e Reino Unido a criticar Israel e até mesmo a afirmar que a Europa tem que repensar suas parcerias com o país do Oriente Médio. A Espanha, por exemplo, foi ainda mais longe, defendendo publicamente um embargo à venda de armas para Israel e acusando o país de estar executando um "genocídio" contra os palestinos.

Já a Alemanha, país que mantém uma aliança estreita com Israel, tem sido mais comedida nas críticas. Na sua entrevista à WDR, o próprio Merz reconheceu isso, admitindo que, por "razões históricas", a Alemanha sempre é mais cautelosa em suas críticas.

"Mas se as linhas forem ultrapassadas, quando o direito humanitário internacional estiver realmente sendo violado, então a Alemanha, o chanceler alemão, também deve dizer algo sobre isso", disse Merz. O chanceler federal acrescentou que pretende conversar nesta semana com o primeiro-ministro de Israel, Benjamin Netanyahu, para dizer-lhe que "não exagere".

O conflito entre palestinos e israelenses voltou a se intensificar após Israel romper em março um cessar-fogo e lançar novas operações militares na Faixa de Gaza. A guerra atual no enclave eclodiu em 7 de outubro de 2023, quando o grupo Hamas, que controlava Gaza, lançou uma ofensiva terrorista contra Israel, matando 1.200 pessoas e sequestrando mais de 200.

Em mais de um ano e meio de conflito, o número total de mortos na Faixa de Gaza desde o início da contraofensiva israelense em outubro de 2023 já passa de 54 mil, segundo o Ministério da Saúde de Gaza, controlado pelo grupo terrorista Hamas.

Apesar das críticas, Alemanha descarta parar de fornecer armas

Apesar das críticas públicas de Merz, membros do governo alemão descartaram propostas como a da Espanha para barrar a venda de armas para Israel. Pelo contrário, o governo alemão se opõe abertamente a qualquer boicote desse tipo. Em 2023, as entregas de armas para Israel aumentaram acentuadamente, atingindo 326,5 milhões de euros, ou seja, dez vezes mais do que em 2022. Isso incluiu 3 mil armamentos antitanque portáteis e 500 mil cartuchos de munição para armas pequenas.

Nesta segunda-feira, paralelamente ao comentário de Merz, o ministro das Relações Exteriores da Alemanha, Johann Wadephul, disse que a Alemanha tem "a obrigação de ajudar Israel" a garantir a sua segurança e o direito à sua existência como Estado, "o que implica fornecer armas".

"Ninguém está dizendo que a situação atual é aceitável e que pode ser tolerada por mais tempo. Nem mesmo a Alemanha", disse Wadephul após uma reunião em Madri com seu homologo espanhol, José Manuel Albares.

No entanto, Wadephul enfatizou que a segurança de Israel é uma "razão de estado" para a Alemanha, citando um princípio que, embora não exista oficialmente na Constituição alemã, é regularmente invocado por grande parte da classe política do país europeu para justificar o apoio aos israelenses e as relações estreitas com Israel, que recentemente completaram 60 anos. Essa política está ligada à responsabilidade histórica da Alemanha com Israel após o Holocausto na Segunda Guerra Mundial, na qual 6 milhões de judeus foram mortos.

Mas há também sinais de insatisfação com a continuidade nesse fornecimento de armas. Nesta segunda-feira, um grupo de deputados do Partido Social-Democrata (SPD) da Alemanha, legenda que é parceira de coalizão do governo do conservador Merz, pediu publicamente que as vendas sejam interrompidas, citando preocupações com o direito humanitário e o crescente sofrimento dos civis em Gaza.

"As armas alemãs não devem ser usadas para espalhar catástrofes humanitárias e violar o direito internacional", disse Adis Ahmetovic, porta-voz de política externa da bancada parlamentar do SPD, em uma entrevista à revista alemã Stern. "É por isso que estamos pedindo ao governo do [primeiro-ministro Benjamin] Netanyahu que concorde com um cessar-fogo e retorne à mesa de negociações."

jps/ra (dpa, AFP, ots)