Novo ministro da Educação defende diálogo e laicismo
17 de julho de 2020
Quarto titular da pasta sob Bolsonaro, pastor Milton Ribeiro faz discurso de posse conservador, mas acena a críticos do governo e fala em ouvir educadores e no "caráter laico do Estado e do ensino público".
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O novo ministro da Educação, o pastor Milton Ribeiro, defendeu o diálogo e o laicismo ao tomar posse como o quarto titular do ministério no governo do presidente Jair Bolsonaro, nesta quinta-feira (16/07).
Ribeiro se apresentou com um discurso que contrastou com o da extrema direita que apoia o presidente e costuma argumentar que o setor de educação foi tomado pelo "marxismo cultural".
Depois de ressalvar seus valores conservadores e religiosos, Ribeiro afirmou que toda sua formação e compromisso estão "afirmados sobre valores constitucionais, o caráter laico do Estado e do ensino público".
O novo ministro da Educação disse que trabalhará pelo diálogo ao afirmar querer ouvir "acadêmicos e educadores que estão entristecidos com o que vem acontecendo com a educação em nosso país".
Ribeiro declarou ainda que, "olhando para trás, não se pode negar que muitos fizeram enormes contribuições" para a área da educação e que "não estava tudo errado", embora tenha apontado que "havia algumas políticas erradas".
O novo ministro também negou, como publicado por alguns meios de comunicação, que tenha defendido a violência física contra estudantes, prática que avaliou ser "parte de um passado que não queremos de volta".
Ao mesmo tempo, condenou a – segundo ele – violência sofrida por professores por parte de alunos, que atribuiu a "políticas e filosofias de educação equivocadas, que acabaram com a autoridade do professor em sala de aula".
Bolsonaro, que participou da cerimônia por videoconferência, também falou em diálogo. "Certamente, e com um amplo diálogo, seremos capazes de alcançar entendimentos", declarou.
O novo ministro é pastor na Igreja Presbiteriana de Santos, no litoral de São Paulo. Sua nomeação agradou à chamada ala ideológica do governo e aos evangélicos, um dos principais grupos de apoio do presidente.
Segundo o seu currículo acadêmico na plataforma Lattes, Ribeiro é licenciado e mestre em Direito e possui doutorado em Educação. Foi também vice-reitor da Universidade Presbiteriana Mackenzie, em São Paulo.
Quarto ministro em 18 meses
Ribeiro será o quarto ministro a liderar o Ministério da Educação desde o início do atual governo, em janeiro de 2019, além de um que desistiu logo depois de ser indicado, o secretário da Educação do Paraná, Renato Feder.
O antecessor de Ribeiro, Carlos Decotelli, renunciou ao cargo em 30 de junho, cinco dias após ser nomeado, devido a várias polêmicas com o seu currículo, incluindo títulos acadêmicos falsos e acusações de plágio.
Decotelli havia sido nomeado para substituir Abraham Weintraub, que teve uma gestão marcada por polêmicas.
Ao longo do tempo em que integrou o Executivo, Weintraub acumulou desavenças com reitores de universidades e parlamentares, após ter decretado duros cortes na Educação, assim como causou problemas diplomáticos com a China e Israel.
Mais recentemente, entrou em conflito com juízes do Supremo Tribunal Federal (STF), ao defender a prisão dos magistrados, sendo alvo de dois inquéritos que tramitam na mais alta instância do poder judiciário.
Weintraub deve agora assumir um cargo na representação brasileira na direção do Banco Mundial, com sede em Washington, nos Estados Unidos.
Weintraub havia sucedido o colombiano naturalizado brasileiro Ricardo Vélez Rodríguez, que também impôs uma pesada carga ideológica à sua breve gestão de três meses.
Autoridades brasileiras que inflaram seus currículos
"Doutores" sem tese, falsas experiências no exterior. O caso do ministro relâmpago da Educação Carlos Decotelli está longe de ser único. Confira outras autoridades que distorceram informações sobre a formação acadêmica.
Foto: picture-alliance/dpa/M. Correa
O "projeto Harvard" de Witzel, governador do Rio
Eleito em 2018, o ex-juiz de direita Wilson Witzel ostentava em seu currículo Lattes que havia passado parte de um doutorado na prestigiada Universidade Harvard, nos EUA. Chegou inclusive a apontar o nome de um orientador americano. O problema: ele nunca havia pisado na instituição. Flagrado, Witzel afirmou que tinha "programado a experiência", mas que foi obrigado a adiá-la após ser eleito.
Foto: Getty Images/M. Pimentel
Equivalência de diploma do prefeito Crivella vira "doutorado"
Em 2016, o site da campanha do bispo da Universal Marcelo Crivella informava que ele tinha doutorado por uma universidade sul-africana. A assessoria afirmou que foi um erro de tradução e admitiu que ele tinha apenas pedido na Universidade de Pretória a equivalência do seu diploma de graduação. Parecia ter acabado aí, mas em 2019 o site da prefeitura do Rio passou a dizer que ele tinha um mestrado.
Foto: picture-alliance/AP Photo/L. Correa
A "mestre" Damares, ministra da Mulher, Família e Direitos Humanos
A ministra ultraconservadora do governo Bolsonaro já se apresentou em eventos como "mestre em educação" e "mestre em direito da família". Ao ser questionada por jornalistas sobre onde teria feito esses cursos, Damares Alves afirmou que não tinha títulos acadêmicos. Segundo ela, a palavra "mestre" é normalmente aplicada em igrejas para aqueles "que se dedicam ao ensino bíblico".
Foto: Agência Brasil/V. Campanato
O "mestrado em Yale" de Salles, ministro do Meio Ambiente
Em 2019, o site Intercept Brasil apontou que Ricardo Salles assinou um artigo num jornal em 2012 como se tivesse um mestrado em direito público na prestigiada Universidade Yale, dos EUA. Ao longo de anos, a informação foi repetida por diversos veículos de imprensa. No entanto, o ministro nunca obteve qualquer título na instituição. Salles afirmou que o erro original partiu de sua assessoria.
Foto: Agência Brasil
O "mestrado" e "doutorado" da ex-presidente Dilma
Em 2009, a então ministra Dilma Rousseff ganhou visibilidade como possível candidata à sucessão de Lula. Isso também trouxe mais luz sobre seu currículo. Em seu Lattes, ela indicava um mestrado e doutorado na Unicamp. Mas ela nunca obteve os títulos. Admitiu que nunca apresentou dissertação e tese. Disse que não havia conseguido conciliar os estudos com sua carreira em diferentes governos.
Foto: picture-alliance/AP Photo/E. Peres
A "doutora" Cármen Lúcia, ministra do STF
Em 2006, Cármen Lúcia foi apresentada como "doutora" em sabatina para a aprovação do seu nome ao STF. A informação constou no site do Supremo até 2009. Mas era outro caso de alguém que cursou disciplinas sem entregar a tese. O erro ainda seria reproduzido por vários veículos, mas, diante de menções ao título, a ministra passou a apontar que não é doutora, como numa entrevista ao Roda Viva em 2016.
Foto: Reuters/A. Machado
O "doutor" Celso Amorim, ex-ministro das Relações Exteriores
Em 2002, ao ser indicado ministro, Celso Amorim foi anunciado como doutor pela London School of Economics. A informação constava até no seu currículo no Itamaraty. Ele chegou a assinar artigos como "doutor". Em 2009, a revista "Exame" revelou que ele nunca havia concluído o doutorado – outro caso de alguém que cursou as disciplinas, mas não defendeu a tese e, portanto, não obteve o título.
Foto: AFP/Getty Images/E. Sa
O jogo dos sete erros no currículo de Decotelli, ministro relâmpago da Educação
Havia expectativa de que Carlos Decotelli imprimisse normalidade ao MEC após a gestão tumultuada de Abraham Weintraub. Mas as credenciais acadêmicas do novo ministro logo passaram ser questionadas. Ele dizia que tinha um doutorado, mas foi desmentido – nunca defendeu a tese. Ainda exagerou sobre ter completado um pós-doutorado na Alemanha. E foi acusado de plágio na dissertação de mestrado.