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Novo movimento de esquerda mira alemães desiludidos

4 de setembro de 2018

Grupo Aufstehen surge como reação ao crescimento de tendências de extrema direita e almeja unir a esquerda. Líder Sahra Wagenknecht vê riscos à coesão social e diz que democracia não está funcionando na Alemanha.

Sarah Wagenknecht
"Estou cansada de ceder as ruas ao movimento anti-islã Pegida e à AfD", disse Sarah Wagenknecht ao lançar movimento de esquerdaFoto: picture-alliance/dpa/B. v. Jutrcenka

Uma das principais líderes do partido A Esquerda, Sahra Wagenknecht, lançou oficialmente nesta terça-feira (04/09) o movimento político suprapartidário Aufstehen ("erguer-se" ou "levantar-se"), com o objetivo de fazer um contraponto a tendências de extrema direita na sociedade alemã.

"A situação não anda justa. Não no nosso país, não na Europa e tampouco no grande palco da política mundial. O lucro prevalece sobre o bem comum, a violência sobre o Direito internacional, o dinheiro sobre a democracia", diz o manifesto divulgado no site do movimento. "Estamos nos levantando por justiça, coesão social, paz e desarmamento."

"A destruição da coesão social, a insatisfação crescente e a sensação de impotência criam terreno fértil para o ódio e a intolerância", prossegue o texto.

Wagenknecht declarou, durante a cerimônia de lançamento o movimento, que os alemães não se sentem mais representados por aqueles que estão no poder. "Num país onde, apesar do crescimento econômico, 40% das pessoas têm rendimentos líquidos menores do que há 20 anos, a democracia não está mais funcionando", afirmou.

"Estou cansada de ceder as ruas ao movimento anti-islã Pegida e aos direitistas da Alternativa para a Alemanha [AfD]", disse Wagenknecht, em referência à marcha do partido populista de direita e do movimento "Patriotas europeus contra a islamização do Ocidente") na recente onda de protestos xenófobos na cidade de Chemnitz.

"A Alemanha está mudando para uma direção que muitos não desejam", destacou. Ela avalia que o clima no país está pesado, com tendência a ficar mais agressivo, e que a coesão social está se perdendo. O movimento tem como um de seus objetivos enfraquecer a AfD.

Segundo Wagenknecht, o Aufstehen conta com mais de 80 fundadores, incluindo políticos do A Esquerda, do Partido Social-Democrata (SPD) e do Partido Verde, além de artistas, escritores e acadêmicos. Entre suas principais figuras estão o ex-líder verde Ludger Volmer e a prefeita de Flensburg, Simone Lange (SPD). Wagenknecht disse que o movimento já registrou mais de 100 mil apoiadores.

Oskar Lafontaine, marido de Wagenknecht e ex-líder do A Esquerda, disse que os acontecimentos em Chemnitz ocorrem por razões mais complexas do que o recente fluxo migratório para a Alemanha. "O descontentamento cresce não apenas pela questão dos refugiados, mas também em razão da desintegração da sociedade, de cortes nos gastos com o bem-estar social e da insatisfação que aumenta continuamente", afirmou.

O Aufstehen afirma não ter o objetivo de se tornar um partido político, mas de viabilizar uma aliança que permita formar novas maiorias políticas. "Há na população maiorias que almejam novas políticas para o desarmamento e a paz, rendimentos mais altos, melhorias na previdência social, impostos mais justos e mais segurança", afirma o manifesto do grupo.

"Rejeitamos qualquer tipo de racismo, antissemitismo e xenofobia, motivo pelo qual consideramos que o governo da chanceler federal Angela Merkel lida de modo irresponsável com os desafios da migração."

Antes do lançamento, a parlamentar havia dito que a intenção seria replicar o sucesso de outros movimentos de esquerda, como o do senador Bernie Sanders, nos EUA, ou do líder do Partido Trabalhista britânico, Jeremy Corbyn. Ela não esconde que o objetivo também é reunir forças para viabilizar um futuro governo de esquerda.

Wagenknecht, porém, enfrenta resistência dentro do próprio partido, onde é uma das poucas vozes a criticar a chegada em grande número de imigrantes ao país. Muitos de seus correligionários não viram com bons olhos sua proposta para limitar a imigração no país, crítica também compartilhada por alguns membros do SPD e do Partido Verde. Uma das líderes de A Esquerda, Katja Kipping, declarou que não deseja se associar ao Aufstehen.

Apesar de Wagenknecht defender limites para a imigração, o manifesto do Aufstehen defende a concessão de refúgio para aqueles que são perseguidos e a ajuda a refugiados por motivos de guerra ou climáticos.

Apesar da resistência dominante no SPD, um grupo de políticos do partido divulgou um comunicado apoiando o Aufstehen e pedindo que outros membros da esquerda alemã se unam ao movimento para "criar uma sociedade mais justa e sustentável".

Uma pesquisa realizada pelo Instituto Civey, divulgada nesta terça-feira, indica que 62% dos alemães não creem no sucesso do movimento. Menos de um quinto (19,8%) dos 5 mil entrevistados (19,8%) acredita que o Aufstehen poderá se estabelecer como uma força política no país.

RC/afp/rtr/dpa

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