Novo orçamento faz da Alemanha maior contribuinte europeu
23 de dezembro de 2005Após a reunião de cúpula, realizada em Bruxelas nos dias 17 e 18 de dezembro, o alívio foi grande entre os chefes de Estado e de governo europeus, pelo consenso orçamentário aprovado para o período entre 2007 e 2013. Muitos consideravam que o encontro estaria fadado ao fracasso.
Por seu papel intermediador, a chanceler federal alemã, Angela Merkel, foi saudada como a nova estrela da política européia e todos ficaram contentes com o resultado.
Entretanto, segundo projeções de analistas da Comissão Européia, entende-se cada vez mais o porquê da alegria dos outros países-membros.
Com o acordo, a Alemanha se tornará o maior contribuinte línquido da União Européia, tanto em relação à soma total das contribuições quanto ao poder econômico.
A conta de cada um
Em 2004, a maior potência econômica européia, a Alemanha, pagou também a maior contribuição (8,5 bilhões de euros) aos cofres da UE. Comparada ao Produto Nacional Bruto (PNB), esta quantia representa somente 0,33% do total.
Em termos percentuais, a Holanda e a Suécia pagam muito mais. Isto vai mudar no próximo período financeiro, conforme os acordos firmados em Bruxelas.
Com o novo orçamento, a Alemanha pagará, em média, 0,42% do PNB. A conta da Itália e da França também vai aumentar, porém a Holanda e a Suécia serão aliviadas.
Devido ao corte parcial do chamado "cheque britânico", o desconto que o Reino Unido recebia para a sua contribuição por não se beneficiar muito da política agrícola, os britânicos deverão pagar 0,32% do seu Produto Nacional Bruto à União Européia. O "cheque britânico" lhes permitia descontar cerca de metade desta índice.
O barato saiu caro
Comparando à proposta orçamentária inicial da União Européia, a Alemanha deverá economizar, entretanto, 600 milhões de euros no período financeiro até 2013, bem menos do que o atual ministro das Finanças, Peer Steinbrück, teria desejado.
Todos os anos, os países da UE recebem restituição das verbas não utilizadas pela Comissão Européia. Com a entrada dos novos países do Leste europeu, estas restituições diminuirão, e este é o principal motivo do aumento da contribuição alemã, afirma Thomas Steg, um porta-voz do governo alemão.
Ele comenta que, devido à diminuição das restituições, a contribuição alemã será menor do que o governo esperava, porém maior do que se pagou no passado. Segundo informações da mídia, a conta alemã subirá, em 2007, para 10,4 bilhões de euros anuais.
Será que Merkel se enganou?
Na noite do acordo, a chanceler federal Angela Merkel havia dado a impressão de que a contribuição alemã iria diminuir com a nova proposta orçamentária, mas não quis citar números. "Acredito que, no final das contas, resultará uma pequena melhora para nós", comentou Merkel aos jornalistas presentes em Bruxelas.
Políticos da coalizão entre social-democratas e a CDU/CSU defenderam a posição de Angela Merkel. Segundo Wolfgang Thierse (SPD), vice-presidente do Parlamento alemão, "os alemães não teriam nada a ganhar, se perdurasse a crise européia".
O especialista financeiro da aliança CDU/CSU, Steffen Kampeter, afirmou que "qualquer outro tipo de acordo teria saído mais caro para a Alemanha". Comparando com a propostas luxemburguesas, o novo orçamento aliviará a Alemanha em cerca de um bilhão de euros, afirma o especialista.
A mosca da sopa
Esta opinião não é partilhada, todavia, por especialistas financeiros dos partidos da oposição. Segundo o site Spiegel Online, a porta-voz para assuntos políticos e financeiros do Partido Verde no Parlamento, Christine Scheel, disse que "Merkel foi festejada por seu resultado maravilhoso, mas ele se torna uma mosca na sopa, se resulta em um aumento da contribuição alemã".
Entretanto, conhecendo-se Angela Merkel e sabendo-se que a maior ganhadora com a adesão dos países do Leste europeu à União Européia é a Alemanha, talvez a mosca na sopa seja só ilusão de ótica.