Em cerimônia de posse, Steinmeier refuta comparações entre governo da Alemanha e nazismo e pede que Erdogan respeite Estado de Direito e liberdade de imprensa. "É preciso lutar pela democracia", diz.
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Ao tomar posse como presidente da Alemanha nesta quarta-feira (22/03), Frank-Walter Steinmeier aproveitou a cerimônia para refutar as comparações entre o atual governo alemão e o nazismo feitas pelo presidente da Turquia, Recep Tayyip Erdogan. Ele também pediu a Ancara a libertação do jornalista turco-alemão Deniz Yücel e convocou a população alemã a "lutar com coragem pela democracia, que atualmente está sendo desafiada no mundo".
"Dê um fim às comparações ao nazismo. Não corte o laço com aqueles que querem uma parceria com a Turquia", disse Steinmeier, em palavras dirigidas ao homólogo turco. "Respeite o Estado de Direito e a liberdade dos meios de comunicação e jornalistas. E liberte Deniz Yücel!"
O correspondente do diário alemão Die Welt está há semanas sob custódia turca. Erdogan chamou o jornalista de "agente e terrorista". E em meio a tensões relacionadas ao cancelamento de comícios de políticos turcos em solo europeu, Erdogan acusou a Alemanha de adotar "medidas nazistas".
Em seu primeiro discurso como presidente empossado, Steinmeier afirmou que ninguém quer olhar com "arrogância e condescendência" para a Turquia e condenou a tentativa de golpe militar do ano passado. Vizinha de Iraque e Síria, a Turquia está localizada numa área turbulenta, disse.
"Nosso olhar é dominado pela preocupação de que tudo aquilo que foi construído ao longo de anos e décadas se decomponha num curto espaço de tempo", afirmou o novo presidente, em referência às relações entre Alemanha e União Europeia com Ancara.
"Capacidade de autocrítica"
Levando em conta movimentos populistas em muitos países, Steinmeier admitiu que "um novo fascínio pelo autoritarismo penetrou profundamente na Europa", afirmando, no entanto, não haver motivo para alarmismo.
"Precisamos não apenas falar de democracia, temos que reaprender a lutar por ela", disse. Segundo ele, basta ver a história alemã para notar que a democracia "não é óbvia e nem está equipada com a garantia de eternidade". De acordo com Steinmeier, a força da democracia reside na capacidade de autocrítica e autoaperfeiçoamento.
"A democracia precisa da coragem em ambos os lados – dos governados e dos governantes", afirmou. É preciso dialogar abertamente sobre erros e problemas. Como exemplo, Steinmeier citou a integração de refugiados, mas também padrões éticos no mundo dos negócios.
Conhecido por ser notoriamente diplomático, Steinmeier garantiu que não será um presidente neutro, mas "partidário da causa democrática". "Patriotismo elucidado e comprometimento com a Europa andam de mão dadas", disse, acrescentando que críticas são justificadas e reformas, necessárias. Mas não pode haver um retorno a ultrapassados egocentrismos nacionalistas, ressaltou.
PV/dpa/epd/kna
Todos os presidentes alemães
O presidente da Alemanha tem apenas funções representativas. Após falar com representantes dos partidos, ele sugere ao Bundestag um nome para a chefia do governo. Ele também ratifica decisões do Parlamento e dá indultos.
Foto: picture-alliance/dpa/B. von Jutrczenka
Frank-Walter Steinmeier
Frank-Walter Steinmeier foi eleito presidente da Alemanha em 12 de fevereiro de 2017 com 931 dos 1.239 votos. Ele nasceu em 05/01/1956 em Detmold e entrou para o SPD em 1975. Ele queria ser arquiteto, mas acabou estudando Direito e Ciências Políticas. Considerado eficiente, discreto e confiável, foi o braço direito do ex-chanceler federal Gerhard Schröder e ministro do Exterior de Angela Merkel.
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Joachim Gauck (de 2012-2017)
O candidato sem filiação partidária recebeu 991 dos 1228 votos logo na primeira votação, em 18 de março de 2012. Tomou posse em 23 de março de 2012. Natural de Rostock, no leste alemão, é conhecido por dizer o que pensa.Gauck estudou Teologia, foi pastor luterano e antes da queda do Muro foi o porta-voz da Aliança 90, união de movimentos sociais que exigia democracia na então Alemanha Oriental.
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Christian Wulff (2010-2012)
O democrata-cristão ex-governador da Baixa Saxônia foi eleito presidente apenas na terceira votação da Assembleia Federal em 30 de junho de 2010, o que foi interpretado como derrota ao governo de Angela Merkel. Pressionado por acusações de ter se favorecido no cargo, ele renunciou em 17 de fevereiro de 2012.
Foto: picture-alliance/dpa
Horst Köhler (2004-2010)
Horst Köhler, ex-diretor-geral do FMI, foi candidato dos partidos cristão-democrata e social-cristão, e dos liberais. Eleito a 23 de maio de 2004 e tomou posse em 1º de julho. Foi reeleito em 23 de maio de 2009, mas renunciou em 31 de maio de 2010 em consequência das críticas aos seus comentários sobre as ações militares e os interesses comerciais da Alemanha no Afeganistão.
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Johannes Rau (1999-2004)
Johannes Rau assumiu o cargo no dia 1º de julho de 1999. Ele fora eleito a 23 de maio daquele ano, com 51,8% dos votos do colegial eleitoral. Político de grande destaque no Partido Social Democrata (SPD), Johannes Rau foi governador de um dos mais importantes estados da Alemanha, a Renânia do Norte-Vestfália.
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Roman Herzog (1994-1999)
Roman Herzog ocupou o cargo durante um mandato, depois de ser eleito com 52,7% dos votos do colégio eleitoral. Anteriormente, Herzog ocupara um dos cargos mais importantes do país: foi presidente do Tribunal Constitucional Federal, a Corte Suprema da Alemanha.
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Richard von Weizsäcker (1984-1994)
O sexto presidente da República Federal da Alemanha teve dois mandatos. Já na sua primeira eleição, ele obteve 80,9% dos votos. Sua reeleição em 1989, com 86,2% dos votos, foi quase uma consagração: somente Theodor Heuss, o primeiro presidente alemão, obteve maior votação em 1954. Richard von Weizsäcker, político destacado da União Democrata Cristã (CDU), foi prefeito de Berlim Ocidental.
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Karl Carstens (1979-1984)
Ex-presidente do Parlamento federal, Karl Carstens foi candidato do seu partido, a União Democrata Cristã (CDU), sendo eleito com 51,2% dos votos a 23 de maio de 1979. Ele foi o primeiro dos chefes de Estado da República Federal da Alemanha a ser eleito no dia 23 de maio – o Dia da Constituição. Desde então, tornou-se uma tradição que os presidentes alemães sejam eleitos nessa data.
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Walter Scheel (1974-1979)
Walter Scheel destacou-se como ministro do Exterior, antes de ser eleito presidente, com 51,3% dos votos, a 15 de maio de 1974. O político do Partido Liberal Democrata (FDP) desempenhara papel importante nas negociações para a formação da coalizão de governo entre seu partido e o Partido Social Democrata (SPD).
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Gustav W. Heinemann (1969-1974)
Conservador e religioso, Gustav W. Heinemann abandonou a União Democrata Cristã (CDU) por discordar da sua política de rearmamento da Alemanha, transferindo-se para o Partido Social Democrata (SPD). Em 5 de março de 1969, Heinemann foi eleito presidente alemão com 50% dos votos. A mais baixa votação já recebida por um chefe de Estado alemão do pós-guerra.
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Heinrich Lübke (1959-1969)
Para o seu primeiro mandato, o político conservador da União Democrata Cristã (CDU) foi eleito a 1º de julho de 1959, com 50,9% dos votos. Sua reeleição se deu a 1º de julho de 1964. Ele recebeu então 69,3% dos votos do colégio eleitoral.
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Theodor Heuss (1949-1959)
O primeiro presidente da República Federal da Alemanha teve dois mandatos seguidos, de 1949 até 1959. Sua primeira eleição foi em 12 de setembro de 1949, com 52% dos votos. A reeleição foi em 17 de julho de 1954 e Heuss obteve 88,2% dos votos! Theodor Heuss é o mentor do liberalismo alemão no pós-guerra. Ele ajudou a fundar o Partido Liberal Democrático (FDP).<br> Edição: Roselaine Wandscheer