Novo referendo na Escócia é "muito provável", diz premiê
16 de outubro de 2016
Diante do Brexit, primeira-ministra escocesa afirma que novo voto sobre separação do país do Reino Unido deverá acontecer, "muito provavelmente", nos próximos três anos. Escoceses abrem escritório comercial em Berlim.
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Após o voto a favor da saída do Reino Unido da União Europeia (UE), a primeira-ministra escocesa, Nicolas Sturgeon, afirmou em entrevista à emissora ITV, neste domingo (16/10), que considera "muito provável" que um novo referendo sobre a independência da Escócia possa acontecer nos próximos três anos.
"Tudo que aconteceu desde a votação do Brexit me convenceu ainda mais da necessidade desse passo", afirmou Sturgeon neste domingo. Já na última quinta-feira, a premiê escocesa havia anunciado a apresentação de um projeto de lei sobre o referendo na próxima semana.
Na noite de sábado, Sturgeon discursou no encerramento do congresso do governista Partido Nacional Escocês (SNP, na sigla em inglês): "Eu nunca duvidei que, um dia, a Escócia será um país independente", afirmou Sturgeon em Glasgow. "E, hoje, acredito nisso mais do que nunca."
Em seu discurso, Sturgeon relatou que irá trabalhar para que a Escócia continue a ter acesso ao mercado comum europeu, mesmo que Londres deixe a UE. "A Escócia deve ser capaz de escolher um futuro melhor e eu garantirei que o país tenha uma chance", assegurou a chefe de governo. Ao mesmo tempo, ela admitiu que uma independência do Reino Unido traz consigo "seus próprios desafios".
Diante da perspectiva do Brexit, a primeira-ministra escocesa declarou em Glasgow estar "aberta a negociar" com a União Europeia e a definir estratégias para estreitar laços com o resto do bloco. Sturgeon anunciou ainda no sábado a criação de uma representação comercial escocesa em Berlim, assim como a contratação de novos funcionários, com o objetivo de impulsionar as exportações para o continente europeu.
"O crescimento da nossa economia está agora ameaçado não só pela perspectiva de perdermos o lugar no mercado único, uma situação desastrosa, mas também pela profundamente perigosa e humilhante mensagem sobre os trabalhadores estrangeiros que os 'tories' [conservadores] estão enviando", disse a primeira-ministra.
"Agora, mais do que nunca, devemos dizer aos nossos amigos europeus que a Escócia está aberta ao diálogo", declarou.
Sturgeon tem defendido a necessidade de proteger os interesses da Escócia na sequência da vitória dos adeptos do Brexit no referendo britânico de 23 de junho. Nessa consulta, 52% dos súditos da rainha votaram a favor da saída da UE, mas, na Escócia, 62% dos eleitores votaram pela permanência no bloco europeu. Na votação sobre a separação da Escócia do Reino Unido, em 2014, 55,3% dos escoceses optaram pelo "não" e 44,7%, pelo "sim".
CA/rtr/afp/lusa
Doze curiosidades sobre a Escócia
A Escócia vai mesmo se separar do Reino Unido? Antes do referendo, vale lembrar algumas peculiaridades dos escoceses, passando por Harry Potter, o "Ginger Pride" e um brasão um tanto quanto diferente.
Foto: Lisa Maree Williams/Getty Images
O unicórnio
Se a Escócia optou ou não pela independência só será conhecido nesta quinta-feira (18/09), mas uma coisa já é certa: o país tem lá suas peculiaridades. A começar pelo brasão: desde o século 12, o animal mítico é estampado nos escudos de líderes escoceses. Este unicórnio se encontra no Palácio de Holyrood, em Edimburgo.
Foto: picture-alliance/dpa/U. Gerig
Uma capital modesta
Glasgow pode até ser um pouco maior, mas Edimburgo, que fica mais ao norte, é a capital da Escócia. Também é lá que fica o Parlamento, que em 1999 se reuniu como uma representação popular independente pela primeira vez em quase 300 anos.
Foto: picture-alliance/dpa
Sons e cores do Fringe
O clima fica animado em Edimburgo na época do Fringe, o maior festival cultural do mundo. Ao longo de 25 dias de agosto, os melhores comediantes e atores são atraídos para a capital, onde mais de 2,5 mil apresentações acontecem em palcos, salas ou simplesmente nas ruas.
Foto: Danny Lawson/PA Wire/picture alliance/empics
Muito além de Harry Potter
Apesar de Hogwarts, a famosa escola de magia dos livros de J.K. Rowlings, ficar na Escócia, a literatura escocesa oferece mais do que isso. Um exemplo é "O médico e o monstro", famoso romance de Robert Louis Stevenson. No entanto, o título de "pai" da literatura escocesa é de Robert Burns, um poeta do século 18 cujo aniversário, no dia 25 de janeiro, é celebrado ainda hoje pelos escoceses.
Foto: Lisa Maree Williams/Getty Images
Meu nome é Bond
...James Bond. Por duas décadas, o papel do agente 007 foi incorporado pelo escocês de carteirinha Sean Connery. Atualmente, outros nomes escoceses fazem sucesso nas telonas dos cinemas, como Ewan McGegor, Robbie Coltrane, James McAvoy, Robert Carlyle e Gerard Butler.
Foto: AFP/GettyImages
Murray para a Escócia?
Quando ele ganha, é britânico; quando perde, é escocês. Mas Andy Murray sofre derrotas com pouca frequência. Em 2013, o tenista foi o primeiro britânico a vencer o Torneio de Wimbledon desde Fred Perry. Nos Jogos Olímpicos de Londres, em 2012, conquistou duas medalhas para o Reino Unido. E se vier a independência? "Eu jogarei para a Escócia", diz Murray.
Foto: Julian Finney/Getty Images
Nos gramados
Os times de futebol escoceses não são tão conhecidos como os de Londres ou de Manchester. Mas o Celtic Football Club constantemente representa o país nas competições europeias. E a seleção nacional possui fãs excepcionais: o "Exército Xadrez" é famoso pelo uso de "kilts" e pela alta cantoria – mas também pelo elevado consumo de álcool.
Foto: Getty Images
Consequências da resistência ao álcool
Os escoceses bebem quase um quinto a mais de álcool que seus vizinhos do sul, afirma um estudo feito em 2012. E isso tem efeitos colaterais significativos: em algumas partes de Glasgow, a expectativa de vida chega a ser tão baixa quanto na Faixa de Gaza. A pobreza relativamente elevada em alguns bairros também traz consigo um número mais elevado de doenças cardíacas e outros males.
Foto: Getty Images
Os Strathearn
Um estudo diz que os escoceses são o povo mais qualificado da Europa. Há 15 universidades no país, e até o príncipe William escolheu uma para sua formação: a St. Andrews University, onde ele estudou História da Arte e Geografia e ainda teve tempo livre para conhecer a futura mulher, Kate, hoje Duquesa de Cambridge. Na Escócia, aliás, o casal é conhecido como o Conde e a Condessa de Strathearn.
Foto: picture-alliance/dpa
Ruivos com orgulho
Um em cada sete escoceses tem cabelos vermelhos – uma taxa sem igual no mundo. As explicações são controversas, mas a falta de sol pode ser uma das razões para a elevada proporção de ruivos na Escócia. Em outros países, eles representam apenas 1% da população. Mas é graças a esses "marginalizados" que existe a Ginger Pride Parade (Parada do Orgulho Ruivo) em Edimburgo.
Foto: picture-alliance/dpa
Libra escocesa
Apesar da moeda comum, os escoceses já cunham a própria libra. Nas notas vindas da Escócia lê-se "Banco da Escócia", o que costuma causar estranhamento no comércio do sul do Reino Unido. Mas a coisa vai ficar séria mesmo se a Escócia realmente se tornar independente. Aí vai surgir a questão se os escoceses vão poder manter a libra britânica.
Foto: Jeff J Mitchell/Getty Images
A Muralha de Adriano
As ruínas da fortificação ao sul da fronteira entre Inglaterra e Escócia ainda podem ser vistas. Foi o imperador Adriano que mandou construí-la para proteger a província britânica do Império Romano das tribos escocesas e irlandesas, no segundo século depois de Cristo. Será que essa região será novamente dividida por uma fronteira de verdade?