Novo secretário-geral da ONU diz que não é "milagreiro"
3 de janeiro de 2017
Em discurso a funcionários das Nações Unidas, português António Guterres afirma que assume organização em "tempos desafiadores" e pede trabalho conjunto contra terrorismo global e nacionalismo.
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O novo secretário-geral das Nações Unidas, António Guterres, afirmou nesta terça-feira (03/01) em encontro com funcionários da organização que não poderá fazer milagres durante sua gestão. O mandato do diplomata português, sucessor de Ban Ki-moon começou oficialmente no último domingo.
"Sei que a forma como o processo de eleição ocorreu gerou muitas expectativas. Acho que é útil dizer que não há milagres e tenho a certeza de que não sou milagreiro. A única maneira de atingirmos nossos objetivos é trabalharmos juntos como uma equipe", disse na sede da ONU em Nova York.
O ex-primeiro-ministro português, que também foi chefe do Alto Comissariado da ONU para Refugiados (Acnur) lembrou o ataque terrorista que deixou 39 mortos na passagem de ano em Istambul ao falar em "terrorismo global". Num mundo globalizado, a exclusão social desperta a raiva e é um "fator de instabilidade e conflito", destacou. "Não devemos ter ilusões, estamos enfrentando tempos muito desafiadores."
Desafios
Guterres disse que a ascensão de políticos nacionalistas, como o presidente eleito americano, Donald Trump, será um dos maiores desafios do seu mandato. "Este é o momento em que temos de reconhecer que apenas soluções globais podem resolver problemas globais e que a ONU é a pedra fundamental dessa abordagem multilateral", afirmou.
O sucessor de Ban destacou a "resistência e ceticismo quanto ao papel que a ONU pode desempenhar" em muitas partes do mundo. "Vemos em muitos países a crescente divisão entre opinião pública, governos e classe política", afirmou.
Ele defendeu uma reforma institucional na organização. "Precisamos nos livrar dessa camisa de força da burocracia que torna a vida tão difícil em tantas das coisas que fazemos", disse aos funcionários ao pedir trabalho conjunto para combater as falhas da organização. "Temos de ganhar o direito para fazer a coisa certa. E isto é algo que, claramente, precisamos fazer todos juntos."
KG/lusa/ap
Dez refugiados famosos
Músicos, atores, políticos, cientistas dos quatro cantos do mundo: em comum, o destino de refugiado. Todos deixaram seus países natais, por um período breve ou o resto da vida, para se salvar da guerra e perseguição.
Foto: akg-images/picture alliance
Touro Sentado (1831-1890)
O chefe sioux Tatanka Iyotake, "Touro Sentado", um dos mais célebres nativos dos Estados Unidos, viveu quatro anos como refugiado. Em 1877, cerca de um ano após a batalha de Little Bighorn, liderada pelo general Custer, ele fugiu com seus guerreiros para o Canadá. Após voltar aos EUA, o líder indígena foi preso e colocado numa reserva. Ele morreu baleado durante uma nova tentativa de prisão.
Foto: Imago/StockTrek Images
Albert Einstein (1879-1955)
Autor da teoria da relatividade e Nobel da Física, o judeu alemão Albert Einstein visitava os EUA quando Adolf Hitler assumiu o poder, em 1933. Manter-se longe da Alemanha sob regime nazista não foi decisão fácil. Einstein dizia se considerar um "privilegiado pela sorte", por poder viver em Princeton, mas também "quase envergonhado de viver em tamanha paz, enquanto todo o resto luta e sofre".
Foto: Imago/United Archives International
Béla Bartók (1881-1945)
Apesar de não ser judeu, o compositor, pianista e musicólogo Béla Bartók se opunha à ascensão do nazismo e à perseguição antissemita, e em 1940 emigrou para os EUA. "Minha principal ideia, que me domina inteiramente, é a irmandade dos homens, acima e além de todos os conflitos", disse certa vez. No entanto, sua carreira musical gorou no exílio, e ele acabou por morrer pobre e esquecido.
Foto: Getty Images
Marlene Dietrich (1901-1992)
A atriz e cantora alemã Marlene Dietrich já era uma estrela nos Estados Unidos quando adquiriu a nacionalidade americana, em 1939, voltando definitivamente as costas para a Alemanha nazista. Refugiada célebre, ela se manifestava contra Hitler e cantou para os soldados americanos durante a Segunda Guerra. Embora com seus filmes banidos na terra natal, ela dizia: "Eu nasci alemã e sempre serei."
Foto: picture-alliance/dpa
George Weidenfeld (1919-2016)
Nascido em Viena, o editor judeu George Weidenfeld emigrou após a anexação da Áustria pelos nazistas. Em Londres, ele cofundou uma casa editora e se tornou barão. Além de se engajar pela causa israelense, estabeleceu um fundo para ajudar os cristãos que fogem do "Estado Islâmico". "Não posso salvar o mundo [...] mas tenho uma dívida a saldar", disse certa vez.
Foto: picture-alliance/dpa/N.Bachmann
Henry Kissinger (*1923)
Natural da Baviera, Henry Kissinger teve papel central na configuração da política externa dos EUA. Contudo, antes de se tornar autoridade em relações internacionais e professor em Harvard, o 56º secretário de Estado americano tivera que fugir da perseguição nazista em 1938. Já nonagenário, ele revelaria que a Alemanha "nunca deixou de ser parte" de sua vida.
Foto: picture-alliance/AP Photo/M. Schiefelbein
Miriam Makeba (1932-2008)
A cantora sul-africana Miriam Makeba era opositora ferrenha do regime do apartheid. Em 1960, durante turnê nos EUA, o governo de seu país lhe cancelou o passaporte. Três anos mais tarde ela foi proibida de entrar na África do Sul, a qual ela só reveria após décadas de exílio nos EUA e Guiné. "Mama Africa" morreu durante um show na Itália, em apoio à luta do autor Roberto Saviano contra a máfia.
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Milos Forman (1932-2018)
Apesar de já ser um cineasta respeitado, Milos Forman voltou as costas à Tchecoslováquia em 1968, após a Primavera de Praga, indo estabelecer-se nos Estados Unidos. Em sua produção do outro lado da Cortina de Ferro dois Oscars de melhor filme se destacam: o drama psiquiátrico "Um estranho no ninho" (1975) e "Amadeus" (1984), sobre Mozart.
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Madeleine Albright (1937-2022)
A primeira secretária de Estado americana, Madeleine Albright, nasceu na atual República Tcheca. Sua família fugiu para os EUA em 1948, quando os comunistas assumiram o poder. A partir de seu envolvimento intenso na política e depois de ser embaixadora americana na ONU, ela assumiu a chefia da diplomacia de 1997 a 2001, durante o segundo mandato de Bill Clinton.
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Isabel Allende (*1942)
O presidente Salvador Allende se suicidou após o golpe de Estado no Chile em 1973. A filha de um primo dele, Isabel, que o chamava de "tio", fugiu para a Venezuela após receber ameaças de morte. Mais tarde emigrou para os EUA e se estabeleceu como autora. Entre seus romances, que contam entre os clássicos do realismo mágico, destacam-se "A casa dos espíritos" e "Eva Luna".