Novo terremoto atinge a Turquia e provoca mais destruição
27 de fevereiro de 2023
Réplica mais recente do sismo que devastou partes do país deixa um morto e dezenas de feridos. Presidente Erdogan pede desculpas por falhar em agir após a catástrofe, enquanto vê sua reeleição ameaçada.
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Um novo terremoto atingiu o sudeste da Turquia nesta segunda-feira (27/02), provocando a morte de uma pessoa e deixando 69 feridos, além de derrubar mais 29 edifícios, informaram as autoridades do país.
A réplica mais recente dos tremores dos últimos dias teve magnitude 5,6 e ocorreu a uma profundidade de 6,25 quilômetros, três semanas após o terremoto devastador que matou mais de 50 mil pessoas na Turquia e na Síria.
Desde o primeiro sismo, já houve 45 réplicas com magnitudes entre 5 e 6, informou o diretor-geral da Autoridade de Gerenciamento de Desastres e Emergências (Afad) da Turquia, Orhan Tatar. "É uma atividade extraordinária", afirmou.
A Turquia está a poucos meses das eleições presidenciais e legislativas, marcadas para junho. O pleito deverá representar o maior desafio já enfrentado pelo presidente Recep Tayyip Erdogan, duas décadas depois de assumir o poder no país.
Ele vem recebendo críticas pela má gestão da catástrofe e atrasos no envio de ajuda às regiões afetadas. Há temores de que o líder turco utilize o terremoto como motivo para adiar as eleições.
Uma delegação da Alta Comissão Eleitoral do país visitará zonas atingida pelo terremoto para avaliar a possibilidade de a votação ser realizada nessas regiões.
Nesta segunda-feira, em visita a Adiyaman, uma das áreas mais atingidas pelos sismos, Erdogan pediu perdão pelo atraso nas operações de resgate. Nas eleições de 2018, ele já havia tido dificuldades para ganhar os votos dos eleitores locais, vencendo por margem apertada seu rival na região.
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"Sem governo, sem polícia, sem soldados"
"Devido ao efeito devastador dos tremores e ao mau tempo, não estivemos aptos a trabalhar da maneira como queríamos em Adiyaman nos primeiros dias. Peço desculpas por isso", disse o presidente.
"Não vi ninguém aqui até as 2h da manhã do dia seguinte ao terremoto", afirmou um morador da região à agência de notícias AFP. "Sem governo, sem Estado, sem polícia, sem soldados. Vergonha! Você nos deixou à nossa própria mercê", reclamou, dirigindo-se ao presidente.
Antes de o país ser atingido pela catástrofe, a campanha de Erdogan ganhava fôlego. Sua aprovação vinha em ascendência após um período de baixa em meio à crise econômica que explodiu no país no ano passado.
O líder mas longevo da era moderna na Turquia é acusado pela oposição pela inflação fora de controle e por permitir que empreiteiros burlassem regulamentações de construção que poderiam ter salvado vidas.
Seu partido, o AKP, chegou ao poder em 2002 em meio a uma crise financeira e após o colapso da coalizão de governo, que – assim como ocorre agora com o próprio Erdogan – era fortemente criticada pela maneira como reagiu a um terremoto devastador em 1999.
O veterano político de 68 anos, que acumula mais de uma dezena de êxitos eleitorais, vem realizando visitas a cidades atingidas pelos tremores e prometendo uma rápida reconstrução, além de punições aos empreiteiros. As autoridades prenderam 184 pessoas por cumplicidade no colapso de edifícios. As investigações ainda estão em andamento.
Mais de 50 mil mortos
Isso, no entanto, poderá não ser suficiente para convencer os eleitores revoltados que perderam suas casas no terremoto de magnitude 7,8, e que o acusam de demorar a agir.
No domingo, a Afad informou que a contagem de mortos pelos terremotos na Turquia era de 44,374. Somadas aos óbitos registrados na Síria, o total de vítimas é de mais de 50 mil.
Mais de 160 mil edifícios com 520 mil apartamentos entraram em colapso ou foram gravemente danificados pela maior catástrofe da história moderna do país.
rc/bl (Reuters, AFP)
O terremoto devastador na Turquia e na Síria em imagens
Após o pior terremoto em décadas atingir a região da fronteira turco-síria, equipes de resgate buscam sobreviventes sob os escombros de milhares de prédios. "Estão cavando com as próprias mãos", relata testemunha.
Foto: Sertac Kayar/REUTERS
Susto no meio da noite
Este prédio residencial em Diyarbakir, no sudeste da Turquia, foi um dos vários milhares de edifícios destruídos pelo terremoto de magnitude 7,8 que abalou a região da fronteira turco-síria. O sismo surpreendeu os moradores no meio da madrugada, às 4h17 (hora local) de segunda-feira (06/02/23).
Foto: Omer Yasin Ergin/AA/picture alliance
Dezenas de réplicas
O terremoto foi seguido dezenas de réplicas que acabaram por agravar a catástrofe. O tremor secundário mais forte, de magnitude 7,5, ocorreu horas depois, na tarde de segunda-feira.
Foto: SERTAC KAYAR/REUTERS
Prédios reduzidos a escombros
De acordo com o Ministério do Meio Ambiente e Planejamento Urbano, mais de 84 mil edifícios na Turquia desabaram ou foram severamente danificados, como estes em Karamamaras. Duas semanas após o desastre, o número de mortos já passava de 47 mil, a grande maioria na Turquia.
Foto: IHA/REUTERS
Resgate "com as próprias mãos"
Grupos de civis e equipes oficiais de resgate correm contra o tempo para encontrar pessoas presas sob os escombros, como mostra esta foto em Adana. Testemunhas relataram à DW que voluntários cavam os destroços "com as próprias mãos" para alcançar sobreviventes. Mais de 200 horas depois do tremor, duas mulheres foram resgatas com vida, em 14 de fevereiro.
Foto: IHA/AP Photo/picture alliance
Devastação no norte da Síria
A província de Idlib, no norte da Síria, também foi afetada pelo terremoto. O tremor de segunda-feira foi um dos mais devastadores a ocorrer na região em décadas e atingiu áreas já devastadas pela guerra civil que assola o país há quase 12 anos.
Foto: Ghaith Alsayed/AP Photo/picture alliance
"Famílias inteiras soterradas"
"Os moradores de Idlib correram de suas casas, estavam em pânico", contou à DW um repórter local na cidade de Sarmada, na província de Idlib. "Pouco depois, desabaram as primeiras casas, que já não estavam em boas condições como resultado dos ataques aéreos russos. Mas edifícios mais novos também desabaram. Famílias inteiras ainda estão soterradas",disse à DW.
Foto: Omar Albam
Capacetes Brancos em ação
Os Capacetes Brancos, uma organização fundada durante a guerra civil síria, participam dos trabalhos de resgate em áreas controladas por rebeldes no noroeste da Síria. Os dois homens na foto buscam por sobreviventes em Zardana, na província de Idlib.
Foto: Ahmad al-Atrash/AFP
Ajuda de todo lugar
Rapidamente diversos países – até mesmo a Ucrânia – ofereceram auxílio às regiões atingidas. A Alemanha, por exemplo, enviou ajuda de emergência e suprimentos de primeiros socorros, incluindo abrigos e estações de tratamento de água. Já os Estados Unidos mobilizaram uma equipe de especialistas em resposta a desastres.
Foto: SERTAC KAYAR/REUTERS
Construções históricas destruídas
Tesouros culturais também foram destruídos no terremoto. Na província turca de Maltaya, a famosa Mesquita Yeni (foto), do século 13, foi severamente danificada – assim como o imponente Gaziantep Kalesi, um castelo construído há cerca de 2.200 anos, na cidade de Gaziantep.
Foto: Volkan Kasik/AA/picture alliance
Aleppo não escapou
Na Síria, a cidade antiga de Aleppo (foto) e outros sítios arqueológicos importantes também tiveram partes de suas construções destruídas.
Foto: AFP
Prisão de empreiteiros
A Justiça turca criou uma unidade especial para investigar possíveis negligências na construção dos edifícios que desabaram com o sismo e emitiu mais de 110 mandados de detenção. Segundo a imprensa local, a polícia turca deteve no dia 11 de fevereiro pelo menos 14 pessoas nas províncias de Gaziantep e Sanliurfa, incluindo empreiteiros e engenheiros civis.