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Nudistas contra peladões

Neusa Soliz27 de julho de 2003

O nudismo tradicional pode estar chegando ao fim na Alemanha. Organizado em associações de naturistas com áreas privativas, o movimento queixa-se hoje dos que tiram a roupa em qualquer lugar para tomar sol.

Berlinenses tomam sol no parque TiergartenFoto: AP

A sociedade muda com tanta rapidez, que o que parecia progressista tempos atrás, em pouco tempo acaba com um certo ranço conservador. A situação não está fácil para o movimento nudista, conhecido na Alemanha pela sigla FKK (FreiKörperKultur). Suas associações perdem filiados, seus membros envelhecem. Ao mesmo tempo, o liberalismo moderno tirou a nudez de praias isoladas e clubes exclusivos, expondo-a em locais públicos - e não apenas na publicidade em outdoors.

O resultado é um exibicionismo de pele nua, em qualquer lago natural ou artificial, e até em muitos parques das cidades. Foram-se os tempos em que o Englischer Garten, de Munique, era o único reduto nudista na capital da Baviera. Ou seja, o nudismo se disseminou.

Quem acha que os nudistas se alegrariam com isso, está completamente enganado. "Eles só querem saber de nadar nus", diz o bávaro Walter Nussbaumer, presidente da Associação para a Liberdade de Vida.

Ovelhas negras: os nudistas sem carteirinha

O tom é de desprezo pelos "nudistas selvagens" de hoje, que tiram a roupa em público e não têm carteirinha, isto é, não estão filiados a nenhuma organização. Isso porque detrás do nudismo alemão há toda uma concepção de vida - dizem os que o praticam. Quem se filia a uma das associações, em que a união familiar e a prática de esportes têm grande destaque, não está fazendo nada proibido ou condenável socialmente.

"A nudez é expressão de liberdade. Nus, somos iguais entre iguais", diz Nussbaumer, acrescentando uma vantagem desconhecida pelos brasileiros: "Sem calções ou maiôs molhados, não pegamos nenhuma doença nos rins." O que também nem todos os brasileiros sabem, é que fundar associações é um dos passatempos mais comuns dos alemães.

O naturista alemão Oswalt Kolle com a família, em clube nudista nos anos 70. Kolle ficou conhecido por seus programas de tevê, prestando esclarecimentos sobre sexo.Foto: AP

O representante nudista faz questão de diferenciar entre os "verdadeiros naturistas", adeptos da livre cultura física - a tradução literal de FKK - dos demais "peladões", que não compartem os mesmos nobres objetivos e ainda por cima podem denegrir a imagem do movimento nudista com seu comportamento inconveniente, uma vez que a maioria dos mortais não separa uns de outros. "Damos grande importância à moral. E não há nada de erotismo quando 200 pessoas pulam juntas praticando esporte", acrescenta, no que qualquer brasileiro lhe daria razão.

E, no entanto, o protesto denota um saudosismo dos bons velhos tempos, em que os simples nomes dos "paraísos da FKK", como a Ilha de Sylt, no norte, ou Pupplinger Au, às margens do Rio Isar, na Baviera, já despertavam cochichos. Sem falar na curiosidade de estrangeiros em geral, latinos e brasileiros especialmente, ansiosos de conhecer as praias nudistas.

Pudor, o ponto de partida

Na Alemanha, a média de idade nas associações nudistas já supera os 50 anos. O número de filiados está em torno de 50 mil, com tendência a diminuir. A origem do movimento remonta ao século 19, mais precisamente a 1839, com a publicação de um livro sobre a cultura física ao ar livre, que foi o ponto de partida para o nudismo. Que seu autor se chamasse Heinrich Pudor pode até parecer irônico a quem desconheça a concepção naturista. Os nazistas proibiram a FKK. Em 1949, ressurgiu a associação Deutsche Bund für Freikörperkultur, em Kassel.

Em um congresso, nos anos 70, seus adeptos assim definiram sua concepção de vida: "O naturismo é uma forma de vida em harmonia com a natureza. Ele se expressa na nudez comunitária, aliada ao respeito próprio, ao próximo, aos que pensam diferente e ao meio ambiente." A nudez seria um "fator de equilíbrio" nos seres humanos, ao livrá-los das tensões, que têm origem nos tabus e provocações da sociedade.

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