Mais de meio milhão de brasileiros vão votar para presidente fora do país em 2018, um aumento de 41% em relação a 2014. Com grande procura, 33 novas seções terão que ser abertas.
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Mais de meio milhão de brasileiros vão às urnas no exterior dia 7 de outubro, e provavelmente também no dia 28, para escolher quem vai ocupar a Presidência da República nos próximos quatro anos. A decisão, já difícil por causa de uma eleição conturbada e cheia de polêmicas, se torna ainda mais complicada quando se está longe de casa.
Para quem acompanha as eleições à distância, o desafio maior é conhecer bem as propostas dos candidatos. Sem horário eleitoral na TV, a saída para a catarinense Raquel Cruz, que trabalha em uma agência de eventos esportivos em Paris, onde vive há dois anos, é buscar informação na internet.
"Mesmo estando fora do Brasil, considero importante participar. A gente aqui fora não pode esquecer que as decisões tomadas por estes eleitos têm reflexo direto na nossa vida, sem contar na família que ficou no Brasil. A gente tem a vantagem de ver o cenário de fora e de comparar com o tipo de política empregada no país em que vive. Além disso, há um aumento de popularidade da extrema direita no país e acho importante que todos se posicionem sobre isso, para evitar algo pior no futuro", afirma Cruz, que vai votar pela primeira vez fora do Brasil.
O engenheiro Amandio Sena vai votar na sua segunda eleição presidencial fora do Brasil. Ele vive há dez anos nos EUA, país de maior domicílio eleitoral brasileiro no exterior, com mais de 160 mil pessoas que devem ir às urnas este ano. Em seguida estão Japão, com 60,7 mil eleitores e Portugal com 39,1 mil. Na sexta colocação, a Alemanha terá este ano 25,3 mil brasileiros aptos a votar.
"Acompanho os projetos dos candidatos, e acho que alguns têm propostas que podem ajudar o Brasil a melhorar, outros não. No entanto, pelas últimas pesquisas, acredito que nenhum desses candidatos vá para o segundo turno. Infelizmente, no final a escolha vai ser pelo menos pior", afirma Sena.
Com o crescimento de eleitores, o TSE e o Ministério das Relações Exteriores organizaram 33 novas seções eleitorais para esta eleição, em regiões onde há grande concentração de brasileiros, mesmo que não haja embaixada ou consulado na cidade. Um desses novos locais de votação será em Colônia, onde a professora Lara Brück-Pamplona vai votar. Morando há 15 anos na Alemanha, a professora cita a preocupação em checar as informações que recebe por redes sociais ou lê em sites antes de definir o voto.
"Acompanho principalmente através da internet, mas procuro diferentes fontes para a mesma informação, mas saber se aquela notícia não é falsa. Esse cuidado todos devem ter atualmente, principalmente em eleições. Também falo com amigos e familiares no Brasil e vejo que o momento atual do Brasil é bastante crítico. Há uma radicalismo que me assusta muito e isso também ocorre na Europa", afirma Lara Brück-Pamplona, professora nas universidade de Colônia e Bonn.
No papel em 61 locais de votação
Quem vota no exterior só pode escolher o candidato à Presidência da República. De acordo com a Justiça Eleitoral, pouco mais de 500 mil brasileiros se registraram em 125 países para votar nas eleições presidenciais deste ano. O número representa um crescimento de 41% em relação ao de eleitores fora do país em 2014. Voltando um pouco mais, a 1989, apenas 18.492 brasileiros votaram fora do território nacional.
O crescimento de eleitores no exterior já era esperado por causa da crise econômica que se arrasta desde 2014. Desde então, o número de brasileiros que decidem viver fora do Brasil só aumentou. No ano passado, mais de 21 mil pessoas fizeram declaração definitiva de imposto de renda informando a saída do país. Em 2011 saíram apenas 8 mil.
O TSE e o Ministério das Relações Exteriores prepararam 172 locais de votação nesses países, mas nem todos terão urna eletrônica.
"Em 61 pontos de votação com cédula de papel. Isso não será um problema, todos os votos serão registrados e enviados de código criptografado para o Brasil, onde vão aguardar para a contagem dos votos. Os 111 locais que terão urnas eletrônicas já estão recebendo os aparelhos aos poucos”, informa Giuseppe Janino, diretor do departamento de Tecnologia da Informação (TI) do TSE.
O prazo para poder solicitar voto no exterior no TSE se encerrou em maio deste ano e deve ser retomado dia 5 de novembro, para a próxima eleição presidencial. Quem fez o registro e não comparecer no dia da votação, terá que justificar a ausência da mesma forma como ocorre no Brasil.
Treze candidatos se apresentaram para disputar o Planalto. O líder das pesquisas acabou fora da corrida, e vários nomes tentam contornar isolamento partidário. Veja os principais episódios da disputa.
Foto: Reuters/A. Machado
Bolsonaro é eleito presidente
Em segundo turno, os brasileiros elegeram Jair Bolsonaro (PSL) como presidente. Após uma campanha eleitoral polarizada, o militar reformado de extrema direita recebeu 55,13% dos votos, contra 44,87% de Fernando Haddad (PT). Com bandeiras do Brasil e vestidos nas cores verde e amarelo, eleitores comemoram pelo país. No discurso da vitória, Bolsonaro prometeu um governo constitucional e democrático.
Foto: picture-alliance/AP Photo/S.Izquierdo
TSE abre investigação contra Bolsonaro
A pouco mais de uma semana do segundo turno, o Tribunal Superior Eleitoral abriu uma ação para investigar suspeitas de compra de disparos de mensagens antipetistas no WhatsApp por parte de empresários aliados a Bolsonaro. O pedido de investigação foi feito pelo PT, após uma reportagem do jornal "Folha de S. Paulo". A PF também abriu inquérito para investigar a disseminação em massa de "fake news".
Foto: Reuters/R. Moraes
Bolsonaro e Haddad vão ao segundo turno
Numa das eleições mais polarizadas da história, em 7 de outubro os brasileiros levaram ao segundo turno os dois candidatos que, segundo sondagens, são também os mais rejeitados: Bolsonaro (PSL) e Haddad (PT). Favorito no Sul e Sudeste, o ex-militar teve 46% dos votos válidos contra 29% do petista, que foi o mais votado em oito estados do Nordeste e no Pará. Em terceiro, Ciro Gomes (PDT) teve 12%.
Foto: Reuters/P. Whitaker/N. Doce
Bolsonaro cresce nas pesquisas
Já líder nas pesquisas, o candidato do PSL ampliou sua vantagem no início de outubro, ultrapassando pela primeira vez a marca de 30% em sondagens do Ibope e do Datafolha. Ao longo da semana que antecedeu as eleições, o ex-capitão foi subindo e, na véspera do pleito, cruzou a barreira de 40% dos votos válidos. Após ser esfaqueado, a campanha do candidato se concentrou nas redes sociais.
Foto: Reuters/P. Whitaker
A troca de Lula por Haddad
Após meses de suspense e com aval de Lula, Fernando Haddad foi oficializado candidato à Presidência pelo PT em 11 de setembro, a menos de um mês do primeiro turno, após se esgotarem as chances de o ex-presidente concorrer. Preso e virtualmente inelegível pela Ficha Limpa, Lula era líder nas pesquisas de intenção de voto. O desafio agora será transferir votos para o ex-prefeito.
Foto: Agencia Brasil/R. Rosa
Ataque a Bolsonaro
O candidato do PSL foi esfaqueado durante um ato de campanha em Juiz de Fora, um ataque que prometia mudar os rumos da corrida presidencial. Seus adversários condenaram a agressão, e alguns chegaram a mudar o tom da campanha. Não houve, contudo, um impacto decisivo sobre o eleitorado. Ele segue líder das intenções, mas com percentual praticamente igual. A rejeição a ele, por outro lado, aumentou.
Foto: picture-alliance/dpa/Agencia O Globo/A. Scorza
O "plano B" do PT
Com Lula virtualmente inelegível, a escolha do seu vice passou a ser encarada como um trampolim para um candidato substituto. No início de agosto, o PT acabou indicando Fernando Haddad, que desde o início do ano era cotado como "plano B". Manuela D'Ávila (PCdoB) ficou com a curiosa posição não oficial de "vice do vice", assumindo a posição com Lula candidato ou não.
Foto: Agência Brasil/F.Rodrigues Pozzebom
A novela dos vices
A fase de convenções começou no fim de julho sem que a maioria dos pré-candidatos tivesse um vice. Bolsonaro teve três convites recusados até fechar com o general Mourão (PRTB). Henrique Meirelles (MDB) e Ciro Gomes (PDT) se contentaram com nomes do próprio partido. Alckmin teve convite recusado pelo empresário Josué Alencar, cuja família é ligada a Lula, antes de optar por Ana Amélia (PR).
Foto: Agência Brasil/F.Frazão
Os candidatos isolados
A jogada de Alckmin com o "centrão" acabou isolando outros candidatos. Jair Bolsonaro (PSL) tentou negociar com o PR, mas teve que se contentar com o nanico PRTB. Ciro Gomes (PDT) também viu suas investidas no grupo naufragarem. Marina Silva (Rede) e Ciro também não conseguiram apoio do PSB, que ficou neutro numa manobra do PT. Os três terminaram a fase de convenções com pouco apoio e tempo de TV.
Alckmin fecha com o "centrão"
Em julho, o tucano Geraldo Alckmin ainda patinava nas pesquisas, mas criou um fato novo na campanha ao conseguir o apoio do "centrão", as siglas que costumam emprestar seu apoio a governos em troca de cargos e verbas. Ao se aliar com PR, PP, PSD, DEM e SD, Alckmin passou a dominar 44% da propaganda eleitoral na TV. Sua coligação também recebe 48% do novo fundo de campanhas.
Foto: Getty Images/AFP/E. Sa
Candidaturas descartadas
A eleição de 2018 parecia destinada a superar o número de candidatos de 1989, quando 22 disputaram. Em abril, 23 manifestavam interesse em concorrer, entre eles o presidente Michel Temer, o presidente da Câmara, Rodrigo Maia, e o ex-presidente Fernando Collor. Mas eles logo desistiram ou foram abandonados por seus partidos. Outros aceitaram ser vices. Em agosto, só 13 permaneciam na corrida.
Foto: Marcelo Camargo/Agência Brasil
Os "outsiders" saem de cena
A possibilidade de Lula ficar de fora e o sentimento antipolítico entre a população sinalizavam que esta seria a eleição dos "outsiders". O ex-ministro do Supremo Joaquim Barbosa e o apresentador Luciano Huck chegaram a ser incluídos em pesquisas. O empresário Flávio Rocha anunciou candidatura. Em julho, todos já haviam desistido, e a disputa ficou restrita a velhos nomes da política.
Foto: Imago/ZUMA Press/M. Chello
Lula é condenado e preso
Quando anunciou, em 2016, a intenção de disputar a eleição, Lula se tornou o líder nas pesquisas. Em janeiro, porém, sua situação se complicou após uma condenação em segunda instância que o deixou virtualmente inelegível. Em abril, foi preso. Com a possibilidade de a candidatura ser barrada, o PT passou a ter dificuldades em formar alianças, e o desfecho do pleito ficou ainda mais imprevisível.
Foto: Reuters/L. Benassatto
Entra em cena o fundo de campanhas
Diante da proibição das doações por empresas, o Congresso criou em outubro de 2017 um novo fundo de R$ 1,7 bilhão para financiar candidaturas, já definindo a capacidade financeira de várias campanhas. Quase 60% do valor ficou concentrado em seis legendas: MDB, PT, PSDB, PP, PSB e PR, deixando candidatos à Presidência de pequenas e médias siglas com menos recursos na largada.