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Nurembergue: cidade reflete passado nazista

Thomas Thomson Senne (mr)1 de julho de 2006

De centro da ideologia nazista à cidade da paz, Nurembergue mostra consciência sobre sua trajetória e documenta um período negro da história alemã.

Centro de documentação, em NurembergueFoto: picture-alliance / dpa/dpaweb

"Cidade da paz" é como Nurembergue gosta de ser chamada. A cidade que premia a defesa dos direitos humanos a cada dois anos quer se desfazer da imagem de "predileta dos nazistas". Era em Nurembergue que Hitler organizava as convenções de seu partido, para as quais chegou a construir um monumental edifício antes do colapso do Terceiro Reich.

Com o anúncio do fim da Segunda Guerra Mundial, as autoridades municipais se apoderaram das ruínas medievais da cidade e varreram para debaixo do tapete as provas de envolvimento com os nazistas. Contudo, nos anos 80, já não era mais possível fechar os olhos para a história de Nurembergue.

A cada ano, a cidade recebia mais de cem mil visitantes, curiosos em conhecer o lugar onde Adolf Hitler tocou o coração dos alemães com promessas de grandeza. Muitos turistas se perguntavam por que Nurembergue não apresentava nenhum vestígio do que havia acontecido lá.

Somente em 1997 as autoridades municipais aprovaram a construção de um centro de documentação sobre as convenções do partido de Hitler. O centro foi aberto ao público em novembro de 2001.

Desilusões de grandeza

"A nossos olhos, o alemão do futuro deve ser magro e elegante, ágil como um galgo, resistente como couro e duro como aço." Assim eram os jovens que Hitler apresentava como o "futuro do Terceiro Reich".

Em 1934, o arquiteto Albert Speer foi designado para projetar a sede de convenções do Partido Trabalhista Nacional-Socialista Alemão (NSDAP). Numa área de 11 quilômetros quadrados deveria surgir um complexo com apelo neoclássico. Seria o lugar ideal para propagação da doutrina e a adoração do führer.

A sede de convenções seria utilizada para encontros do partido, enquanto a Arena Luitpold serviria como palco dos desfiles nacional-socialistas. Uma avenida para paradas, com 60 metros de largura e dois quilômetros de extensão, também fazia parte do projeto arquitetônico, que englobava o campo denominado Märzfeld e o Estádio Alemão, que teria capacidade para 400 mil espectadores.

No entanto, quando o Terceiro Reich teve seu fim, em 1945, somente o Campo Zeppelin estava pronto, com seu pomposo palanque inspirado no estilo do altar de Pergamon.

Estádio de futebol, pista de decolagem e hall de exibição

O Märzfeld foi eliminado com a implosão de 11 torres. As colunas do Campo Zeppelin também foram destruídas em 1967, informa Hans-Christian Täubrich, diretor do Centro de Documentação de Nurembergue. "Algumas pessoas quiseram transformar o hall de convenções num estádio de futebol. Os americanos usaram a avenida de desfiles como pista de pouso e decolagem para pequenos aviões até 1968. Isso mostra, ao menos, que cada um pensou num possível reaproveitamento do lugar."

O centro de documentação que Täubrich coordena está localizado no antigo hall de convenções. "Depois da guerra, o esqueleto do colossal edifício foi utilizado para várias funções", explica ele.

"Só o hall de convenções podia ser de fato reaproveitado. Abrigou a Exposição de Arquitetura e Construção Civil de 1949 e, um ano depois, sediou as comemorações do 900º aniversário de Nurembergue. Mas logo ficou evidente que as possibilidades oferecidas por aquela estrutura inacabada eram limitadas demais."

Confrontando o legado arquitetônico

Em 1973, o que restara do complexo da sede de convenções foi tombado como patrimônio histórico. Mas só 12 anos depois, a cidade de Nurembergue decidiu montar uma pequena mostra sobre o Terceiro Reich no antigo palanque do Campo Zeppelin. Isso não supriu, no entanto, a necessidade dos turistas em obter informações históricas sobre o local.

Até que surgiram investidores interessados em transformar o edifício num shopping center com um anexo planejado como asilo de idosos. Só então as autoridades locais uniram forças para lançar uma proposta mais apropriada de reaproveitamento da área.

Em 2001, o projeto de 11 milhões de euros foi finalmente inaugurado. O Centro de Documentação é considerado um marco no tratamento do legado arquitetônico nazista.

Contraponto em vidro e aço

"Lançamos uma pequena concorrência pública e o arquiteto austríaco Günter Domenig ganhou com um projeto sensacional. Ele pegou este edifício caracterizado por simetria e ângulos ortogonais e o perfurou com um corredor diagonal de 130 metros", descreve Täubich. "Sobre o edifício foi construído um anexo de aço e vidro, com a finalidade de abrigar um moderno centro de estudos. O projeto também previa novos espaços, como um auditório de conferências e um cinema."

O projeto de vidro e aço de Domenig foi concebido em proposital contraste com o monumento nazista, construído em pedra.

O Centro de Documentação apresenta uma mostra permanente sobre o nacional-socialismo intitulada "Fascinação e Violência". O visitante é informado através de mapas, fotos, filmes e documentos da era nazista, podendo também participar de simpósios sobre temas variados, como por exemplo o papel da cineasta Leni Riefenstahl no Terceiro Reich.

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