Nuzman é alvo de operação sobre votos para Rio 2016
5 de setembro de 2017
Em nova etapa da Lava Jato, Polícia Federal apura papel do presidente do COB em suposta fraude para eleição da cidade como sede olímpica. Agentes cumprem mandados de prisão e de busca.
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Agentes da Polícia Federal realizam na manhã desta terça-feira (05/09) uma operação contra suspeitos de envolvimento em supostas compras de votos para que o Rio de Janeiro sediasse os Jogos Olímpicos de 2016. Um dos alvos é o presidente do Comitê Olímpico do Brasil (COB), Carlos Arthur Nuzman, intimado a depor na Polícia Federal nesta terça-feira. A casa dele e a sede do COB também foram alvo de mandado de busca e apreensão.
A investigação revelou indícios de que o dirigente participou da compra de votos de membros do Comitê Olímpico Internacional (COI) para garantir a eleição do Rio de Janeiro como sede dos Jogos Olímpicos, realizados em agosto do ano passado. Um dos votos teria sido comprado de Lamine Diack, ex-presidente da Federação Internacional de Atletismo (IAAF, em inglês) e ex-membro do COI.
Os agentes da Polícia Federal também cumprem dois mandados de prisão contra Arthur Cesar de Menezes, conhecido como "Rei Arthur", ex-dono da empresa Facility, e contra sua ex-sócia Eliane Pereira Cavalcante.
Os nomes deles aparecem na investigação, realizada pela Polícia Federal em colaboração com autoridades francesas, sobre os fundos ilícitos que o ex-governador do Rio de Janeiro, Sérgio Cabral – preso desde novembro – destinou para a compra de votos que elegeu a cidade como sede olímpica.
Em março, o jornal francês Le Monde revelou que investigações do Ministério Público da França apuraram que Menezes, ligado a Cabral, transferiu 2 milhões de dólares para o filho de Diack, Papa Massata Diack, três dias antes da escolha do Rio de Janeiro como sede dos Jogos Olímpicos de 2016.
"As investigações, iniciadas há nove meses, apontam que os pagamentos [de propina] teriam sido efetuados tanto diretamente com a entrega de dinheiro em espécie, como por meio da celebração de contratos de prestação de serviços fictícios e também por meio do pagamento de despesas pessoais. Além disso, teriam sido realizadas transferências bancárias no exterior para contas de doleiros", diz nota da Polícia Federal.
Além dos dois mandados de prisão preventiva, fazem parte da nova etapa da Operação Lava Jato no Rio de Janeiro, batizada de Unfair Play, 11 mandados de busca e apreensão.
Os mandados judiciais foram expedidos pelo juiz Marcelo Bretas, da 7ª Vara Federal Criminal, no Rio, e estão sendo cumpridos nos bairros cariocas do Leblon, Ipanema, Lagoa, centro, São Conrado, Barra da Tijuca, na zona sul, e do Jacaré, na zona norte; no município de Nova Iguaçu, na Baixada Fluminense; e em Paris, na França.
MD/efe/ebc/ots
Entenda a Operação Lava Jato
A Polícia Federal apura, desde 2014, um esquema bilionário de lavagem e desvio de dinheiro envolvendo a Petrobras, grandes empreiteiras e políticos. Entenda a maior investigação sobre corrupção já conduzida no país.
Foto: AFP/Getty Images
O início
A Operação Lava Jato foi deflagrada pela Polícia Federal em 17 de março de 2014. Começou investigando um esquema de desvio de recursos públicos e lavagem de dinheiro e descobriu a existência de uma imensa rede de corrupção envolvendo a Petrobras, grandes empreiteiras do país e políticos. O nome vem de um posto de gasolina em Brasília, um dos alvos da PF no primeiro dia de operação.
Foto: picture-alliance/dpa/M. Brandt
O esquema
Executivos da Petrobras cobravam propina de empreiteiras para, em troca, facilitar as negociações dessas empresas com a estatal. Os contratos eram superfaturados, o que permitia o desvio de verbas dos cofres públicos a lobistas e doleiros, os chamados operadores do esquema. Eles, por sua vez, eram encarregados de lavar o dinheiro e repassá-lo a uma série de políticos e funcionários públicos.
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As figuras-chave
O esquema na Petrobras se concentrava em três diretorias: de abastecimento, então comandada por Paulo Roberto Costa; de serviços, sob direção de Renato Duque; e internacional, cujo diretor era Nestor Cerveró. Cada área tinha seus operadores para distribuir o dinheiro. Um deles era o doleiro Alberto Youssef (foto), que se tornou uma das figuras centrais da trama. Todos os citados foram condenados.
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As empreiteiras
As grandes construtoras do país formaram uma espécie de cartel: decidiam entre si quem participaria de determinadas licitações da Petrobras e combinavam os preços das obras. Os executivos da estatal, por sua vez, garantiam que apenas o cartel fosse convidado para as licitações. Entre as empresas investigadas estão Odebrecht, Andrade Gutierrez e Camargo Corrêa. Vários executivos foram condenados.
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Os políticos
O núcleo político era formado por parlamentares de diferentes partidos, responsáveis pela indicação dos diretores da Petrobras que sustentavam a rede de corrupção dentro da estatal. Os políticos envolvidos recebiam propina em porcentagens que variavam de 1% a 5% do valor dos contratos, segundo os investigadores. O dinheiro foi usado, por exemplo, para financiar campanhas eleitorais.
Foto: J. Sorges
De Cunha a Dirceu...
A investigação só entrou no mundo político em 2015, quando a Lava Jato foi autorizada a apurar mais de 50 nomes, entre deputados, senadores e governadores de vários partidos. Desde então, viraram alvo de investigação políticos como os ex-parlamentares Eduardo Cunha (foto) e Delcídio do Amaral, ambos cassados, os senadores Renan Calheiros, Fernando Collor e o ex-ministro José Dirceu.
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... e Lula
O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva é réu em dez processos relacionados à Lava Jato, sendo acusado pelos crimes de corrupção, lavagem de dinheiro e obstrução da Justiça. As denúncias indicam que Lula teria recebido benefícios das empreiteiras OAS e Odebrecht, envolvendo imóveis no Guarujá e São Bernardo do Campo. Em 2018, ele foi preso e teve uma nova candidatura à Presidência barrada.
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As prisões
A Lava Jato quebrou tabus no Brasil ao encarcerar altos executivos de empresas e importantes figuras políticas. Entre investigados e aqueles já condenados pela Justiça, estão o executivo Marcelo Odebrecht, ex-presidente da Odebrecht; Eduardo Cunha, ex-presidente da Câmara; Sérgio Cabral, ex-governador do Rio; os ex-ministros José Dirceu (foto) e Antonio Palocci, entre outros.
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As delações
Os acordos de delação premiada são considerados a força-motriz da operação. Depoimentos como o de Marcelo Odebrecht (foto) chegam com potencial para impactar fortemente a investigação. O acordo funciona assim: de um lado, os delatores se comprometem a fornecer provas e contar o que sabem sobre os crimes, além de devolver os bens adquiridos ilegalmente; de outro, a Justiça reduz suas penas.
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O juiz
Responsável pela Lava Jato na 1° instância, o ex-juiz federal Sergio Moro logo ganhou notoriedade. Em manifestações, foi ovacionado pelo povo e chegou a ser chamado de "herói nacional". Mas também foi acusado de agir com parcialidade política. Em 2018, deixou o cargo e aceitou ser ministro do presidente Jair Bolsonaro, cuja candidatura foi beneficiada pela prisão de Lula no ano anterior.
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Expansão internacional
Se começou num posto de gasolina em Brasília, a Lava Jato ganhou proporções internacionais com o aprofundamento das investigações. Segundo dados do Ministério Público Federal levantados a pedido da DW Brasil, a investigação já conta com a cooperação de pelo menos outros 40 países (veja no gráfico acima). Além disso, 14 países, fora o Brasil, investigam práticas ilegais promovidas pela Odebrecht.
Um terremoto político
Ao longo de cinco anos, a Lava Jato influenciou o impeachment de Dilma Rousseff, enfraqueceu o governo Michel Temer e contribuiu para a derrocada de velhos caciques do PT, MDB e PSDB. Em 2018, Lula, então favorito para vencer as eleições presidenciais, foi preso e teve a candidatura barrada. As investigações também fortaleceram um discurso antissistema que beneficiou a campanha de Bolsonaro.
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Críticas e revelações
A Lava Jato também acumulou acusações de parcialidade e de abusos em seus métodos. Em 2019, os procuradores da força-tarefa foram duramente criticados por tentarem criar uma fundação para gerenciar uma multa bilionária da Petrobras. No mesmo ano, conversas reveladas pelo site "The Intercept" apontaram suspeita de conluio entre Moro e os procuradores na condução dos processos, o que é proibido.