Líderes internacionais homenageiam ex-chanceler federal alemão em ato inédito no Parlamento Europeu. No discurso de encerramento da cerimônia, Merkel exorta atual geração política a manter legado de Helmut Kohl.
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Líderes internacionais prestaram neste sábado (1º/07) as últimas homenagens ao ex-chanceler federal alemão Helmut Kohl, em cerimônia oficial realizada no Parlamento Europeu, em Estrasburgo, seguida de missa fúnebre na catedral de Speyer, na Alemanha.
"Pai" da reunificação alemã e um dos arquitetos da ampliação da União Europeia (UE), Kohl morreu em 16 de junho, aos 87 anos. É a primeira vez que a União Europeia realiza uma cerimônia que, na essência, é um funeral de Estado europeu.
Em Estrasburgo, a chanceler federal alemã, Angela Merkel, encerrou uma série de discursos na homenagem ao antigo líder alemão, exortando a atual geração política a manter o legado dele. Merkel demonstrou gratidão pelas oportunidades que Kohl lhe dera ao escolhê-la para integrar o primeiro gabinete de governo da Alemanha reunificada e reconheceu que "algumas divergências" os opuseram, mas sublinhou o papel do antigo chanceler na Reunificação.
Merkel sobre Kohl: "Cabe a nós preservar seu legado"
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Ela recordou que pertence a uma geração de alemães que viveu "as noites de terror e de bombas" do nazismo e que Kohl protagonizou um combate indispensável "por uma Europa onde não houvesse mais guerras". "Milhões de pessoas" estão, segundo ela, em dívida para com Kohl, arquiteto da Reunificação e grande impulsionador da UE. "Coisas como o euro não existiriam sem ele."
Caixão com a bandeira europeia
Duas dezenas de chefes de Estado e de governo e várias centenas de outras personalidades assistiram à homenagem a Kohl no Parlamento Europeu. O caixão, coberto com a bandeira europeia e transportado por oito militares alemães, foi colocado no centro do hemiciclo para a cerimônia, sem precedentes na história da União Europeia. Três coroas de flores foram colocadas junto ao caixão: uma com as cores da Alemanha, outra em nome da UE e a terceira, da viúva de Kohl.
A parte institucional da cerimônia no Parlamento teve os discursos dos presidentes da Comissão Europeia, Jean-Claude Juncker, do Parlamento Europeu, Antonio Tajani, e do Conselho Europeu, Donald Tusk. "Helmut Kohl era um verdadeiro europeu e um amigo. A Europa deve-lhe muito", afirmou Juncker. "Helmut Kohl foi um patriota alemão, mas também um patriota europeu", afirmou.
É a primeira vez que a UE organiza uma homenagem assim, em honra de um dos três dirigentes considerados "cidadãos honorários da Europa", disse Juncker. Os outros dois são os franceses Jean Monnet, que morreu em 1979, e Jacques Delors, de 91 anos. Vários antigos dirigentes que conviveram com Kohl não puderam assistir à cerimônia por razões de saúde, entre os quais Delors, Valery Giscard d'Estaing, Jacques Chirac e Mikhail Gorbatchov.
Discurso de Macron em homenagem a Helmut Kohl
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"Decisões corajosas"
O presidente francês, Emmanuel Macron, elogiou Kohl pelas "decisões corajosas" que tomou, "por vezes contra a opinião pública", e disse-se disposto a continuar o legado do antigo chanceler na UE. "A história também nos julgará um dia. Terá severamente em conta as concessões que fizermos, os cálculos a curto prazo e os egoísmos nacionais, [mas também] a sinceridade do compromisso com a paz e a amizade entre os povos", disse Macron. "O pragmatismo, o sentido da realidade e a habilidade política são francamente úteis, mas não constroem nada. São os ideais, iluminados pela amizade, que dão corpo aos nossos projetos, que os fazem durar", acrescentou.
Macron recordou que Kohl "preferia as pontes às fronteiras e aos muros" e que, com François Mitterand, lutou pelo "sonho de um destino europeu comum", o qual, ressaltou, deve ser recuperado pelos atuais dirigentes políticos.
Bill Clinton sobre Helmut Kohl: "Eu o amava"
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O ex-presidente dos Estados Unidos Bill Clinton também discursou na cerimônia em Estrasburgo. "Estamos aqui porque Helmut Kohl nos deu a chance de tomar parte de algo que foi maior do que nós mesmos, que sobreviveu a nossos mandatos e carreiras fugazes", sublinhou. "Eu amava este homem", disse Clinton, que foi presidente de 1993 a 2001, "porque ele queria criar um mundo onde ninguém dominasse. Um mundo no qual cooperação fosse melhor do que conflito".
O antigo presidente do governo espanhol Felipe González lembrou de Kohl com carinho. "Despedimo-nos de um grande europeu, e sinto haver perdido um amigo, para a Espanha, para a Europa e para o mundo", afirmou González, que era amigo pessoal de Kohl.
O legado de Kohl para a história
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Paz depois da queda do Muro
O primeiro-ministro da Rússia, Dmitri Medvedev, recordou as estreitas relações de Kohl com seu país. Ele ressaltou que o ex-chanceler "entendeu que a Europa também tem um espaço para a Rússia" e destacou o papel que ele exerceu para favorecer a paz na Europa e na região depois da Segunda Guerra Mundial e da queda do Muro de Berlim.
Entre os presentes estavam, ainda, a primeira-ministra britânica, Theresa May, o rei emérito da Espanha, Juan Carlos, e o ex-presidente da Comissão Europeia e ex-primeiro-ministro de Portugal José Manuel Durão Barroso.
Após as cerca de duas horas da cerimônia funeral no plenário do Parlamento Europeu, em Estrasburgo, o caixão de Kohl foi levado de helicóptero para Ludwigshafen, cidade natal do político. O féretro atravessou a localidade, em cortejo com honras militares, sendo conduzido para o navio MS Mainz, no rio Reno.
Na embarcação, o caixão seguiu para Speyer, onde foi realizada uma missa fúnebre na famosa catedral da cidade alemã, para cerca de 1.500 convidados. Desde a infância, Kohl teve uma relação especial com Speyer e sua catedral.
Na sua prédica, o bispo Karl-Heinz Wiesemann lembrou a importância de Kohl para a Reunificação e para a unidade da Europa. Ele também louvou o antigo chanceler federal como um grande estadista, que soube ser ao mesmo tempo patriota e europeu.
Na missa, a viúva Maike Kohl-Richter estava sentada entre Juncker e Clinton. Os filhos do primeiro casamento de Kohl e os netos dele não estiveram presentes. Os dias anteriores às homenagens finais foram marcados por controvérsias e divergências públicas entre os familiares. Após a missa, Kohl foi enterrado no cemitério ao lado da catedral, numa cerimônia reservada à família e aos amigos mais próximos.
MD/AS/efe/lusa/dpa/afp
A trajetória política de Helmut Kohl
Ele governou a Alemanha ao longo de 16 anos, mais do que qualquer outro chanceler federal. A queda do Muro de Berlim e a Reunificação são os pontos altos da carreira política de Helmut Kohl, que completa 85 anos.
Foto: picture-alliance/dpa
O pai da Reunificação
Ele governou a Alemanha de 1982 a 1998, mais tempo do que qualquer outro chanceler federal. A queda do Muro de Berlim e a Reunificação são os pontos altos da carreira política de Helmut Kohl.
Foto: dapd
Nos passos de Adenauer
Kohl entrou para a União Democrata Cristã (CDU) em 1946, quando era um estudante secundarista de 16 anos. Foi eleito deputado estadual da Renânia-Palatinado em 1959, aos 29 anos, e virou líder da bancada aos 33. Em 1966, tornou-se presidente estadual da CDU. A foto de 5 de janeiro de 1967 mostra Kohl e o primeiro chanceler federal do pós-Guerra, Konrad Adenauer, na festa de seus 91 anos, em Bonn.
Foto: picture alliance / dpa
Governador aos 39 anos
Em 1969, com a renúncia do então governador da Renânia-Palatinado, Peter Altmeier, Kohl foi eleito seu sucessor. Ele comandaria o estado até dezembro de 1976, e o cargo não seria o auge de sua carreira política. A foto é de 1971, ano em que a CDU obteve a maioria absoluta no parlamento regional.
Foto: Imago
Em família
A família foi muito importante para a formação da imagem pública de Kohl. Ele costumava passar suas férias de verão com a esposa e os filhos sempre no mesmo lugar, no lago Wolfgangsee, na Áustria. Esta foto é de 1974, e mostra Kohl ao lado da esposa Hannelore e dos filhos Peter (d) e Walter (e) na residência da família, em Oggersheim.
Foto: imago/Sven Simon
Kohl na chancelaria federal
Em 1973, Kohl se tornaria presidente nacional da CDU. Mas ele ainda não tinha atingido sua grande meta: a chancelaria federal. Foi só em 1982, quando divergências entre social-democratas e liberais levaram ao fim da coalizão que sustentava o então chanceler federal Helmut Schmidt, que Kohl finalmente conseguiu alcançar seu objetivo. Na foto, de 1º de outubro de 1982, Schmidt parabeniza o sucessor.
Foto: picture-alliance/dpa
Chanceler federal por 16 anos
Kohl foi três vezes reeleito para a chancelaria federal, ocupando o cargo ao longo de 16 anos, de 1982 a 1998. Ele permaneceu na presidência da CDU, para a qual havia sido eleito em 1973, até 1998. A partir de 2000, passou a ser o presidente de honra do partido. A foto é de 11 de setembro de 1989, quando Kohl foi reeleito para a presidência da CDU.
Foto: picture alliance/Martin Athenstädt
Gesto de reconciliação
Esta foto, que mostra Kohl ao lado do primeiro-ministro da França, François Mitterrand, correu mundo. Ela foi tirada em 22 de setembro de 1984, durante um evento para celebrar a reconciliação franco-alemã, perto do cemitério de Verdun, onde estão enterrados soldados que morreram na batalha de 1916. Ao se darem as mãos, os dois líderes criaram uma forte imagem de unidade e reconciliação.
Foto: ullstein bild/Sven Simon
Queda do Muro
Kohl foi literalmente surpreendido pela queda do Muro de Berlim, em 9 de novembro de 1989. Ele estava em viagem pela Polônia quando os cidadãos da Alemanha Oriental invadiram a fronteira interna alemã, com a anuência dos guardas do lado oriental. Kohl interrompeu imediatamente sua visita à Polônia. Na foto, de 10 de novembro de 1989, ele é cercado por berlinenses na avenida Kurfürstendamm.
Foto: picture-alliance/dpa
Negociações com a União Soviética
Na foto Kohl (d) aparece junto com Mikhail Gorbatchov (centro), e o ministro alemão do Exterior, Hans-Dietrich Genscher (e), durante uma visita ao Cáucaso, em 15 de julho de 1990, para discutir a reunificação alemã. Durante uma caminhada com Gorbatchov, Kohl obtivera do então chefe do Kremlin a aprovação da reunificação do país e da retirada das tropas soviéticas da Alemanha Oriental.
Foto: picture-alliance/dpa
Acordo entre as Alemanhas
Na presença do chanceler da Alemanha Oriental, Lothar de Maizière (esq. atrás) e do chanceler federal Helmut Kohl (centro atrás), os ministros da Finanças da Alemanha Ocidental e Oriental, Theo Waigel (dir.) e Walter Romberg (esq.), assinam, em 18 de maio de 1990, o acordo que abriria caminho para a Reunificação.
Foto: picture-alliance/dpa
Chanceler da Reunificação
A Reunificação alemã, em 3 de outubro de 1990, foi o ponto alto da carreira de Helmut Kohl. Ele entraria para a história como o "chanceler da Reunificação". Na foto, Kohl aparece ao lado da esposa Hannelore, do ministro do Exterior Hans-Dietrich Genscher (e) e do presidente Richard von Weizsäcker (d).
Foto: picture-alliance/dpa
Paisagens florescentes
No início dos anos 1990, Kohl é festejado pelos alemães-orientais como promotor da Reunificação. É dessa época a famosa expressão "paisagens florescentes", que ele usou para se referir ao futuro imediato da antiga Alemanha Oriental. A foto mostra o então chanceler cercado por admiradores em Leipzig, durante uma campanha eleitoral, em 14 de março de 1990.
Foto: picture-alliance/dpa
Mentor da primeira chanceler
Sem Kohl, o sucesso da atual chanceler federal alemã, Angela Merkel, é praticamente inconcebível. Foi ele que apoiou a política oriunda da Alemanha Oriental no início da sua carreira nacional, escolhendo-a para ser ministra da Família e, mais tarde, do Meio Ambiente. A foto é de 16 de dezembro de 1991, quando Merkel era ministra da Família.
Foto: picture-alliance/dpa
Fim de uma era
Em setembro de 1998, a CDU perdeu as eleições parlamentares, o que abriu caminho para o primeiro governo de uma coalizão entre social-democratas e verdes. A foto mostra uma cerimônia de despedida para Kohl, em Berlim, com honras militares.
Foto: picture-alliance/dpa
Escândalo de caixa dois
Em 1999, a imagem de Kohl é duramente atingida por um escândalo de doações ilegais para campanhas eleitorais da CDU ao longo dos anos 1990. O partido vira as costas para Kohl, e a primeira a fazê-lo é Merkel, sua protegida. Na foto, de dezembro de 1999, Kohl deixa mais cedo uma entrevista coletiva sobre o caso. Ao fundo, o presidente da CDU, Wolfgang Schäuble, e a secretária-geral Angela Merkel.
Foto: picture-alliance/dpa
Relação rompida
Kohl acabou admitindo que sabia das doações, mas se recusou a dar o nome dos doadores, anônimos até hoje. O processo contra Kohl foi arquivado em troca de uma multa milionária, e ele se afastou da política. Merkel tentou várias vezes se reconciliar com seu antigo mentor, que rejeitou todas as tentativas de aproximação. A foto mostra os dois na festa de 75 anos de Kohl, em Berlim, em 2005.