1. Pular para o conteúdo
  2. Pular para o menu principal
  3. Ver mais sites da DW

O ambicioso plano de Xi Jinping no Congresso do PCC

William Yang
17 de outubro de 2022

Presidente chinês resumiu em discurso as conquistas do governo nos últimos cinco anos. Taiwan, seguranças nacionais, autossuficiência foram tema no evento em que Xi prepara o caminho para um terceiro mandato.

China KP Parteitag Xi Jinping
Xi Jinping discursando durante 20º Congresso do Partido Comunista ChinêsFoto: Ju Peng/Xinhua/AP/picture alliance

Em tom triunfante, o presidente chinês, Xi Jinping, destacou as conquistas de sua sigla durante a abertura do 20º Congresso do Partido Comunista Chinês (PCC) neste domingo (16/10). E prometeu uma série de reformas e mudanças visando promover o rejuvenescimento da nação chinesa.

Ao discursar para cerca de 2.300 membros do partido único, Xi defendeu a estratégia de zero covid, dizendo que as medidas de controle da pandemia "protegeram a vida e a saúde”, e que as decisões para impor o "governo dos patriotas” em Hong Kong ajudaram a mudar a situação da região "de caos para governança”.

Além disso, embora Pequim insista em lutar pela reunificação pacífica com Taiwan, nunca renunciaria à opção de usar a força para alcançar esse objetivo: "As rodas da história estão girando em direção à reunificação da China e ao rejuvenescimento da nação chinesa. A reunificação completa da pátria pode e deve ser alcançada."

Discurso sem muitos conflitos

Wen-Ti Sung, professor de Estudos Taiwaneses da Universidade Nacional Australiana, atualmente residente em Taipei, considerou discurso de Xi muito menos agressivo do que esperavam certos analistas: "Ele diz que a ‘reunificação completa da nação deveria e precisaria acontecer', mas é muito vago sobre como pretende fazer isso."

"Enquanto alguns analistas taiwaneses temiam que o presidente chinês apresentasse novas estratégias para resolver a questão com Taiwan, seu discurso sinaliza um desejo maior de preservar a continuidade, em vez de mudança. Ele mencionou determinação firme e capacidades fortes para se opor à independência de Taiwan, mas não especificou um plano ou cronograma. A intenção é aumentar ainda mais a ambiguidade quanto ao cronograma e à urgência da unificação com Taiwan."

Além de enfatizar o sucesso do Partido Comunista Chinês na superação de desafios, Xi também destacou "mudanças rápidas na situação internacional”, elogiando os esforços da legenda para "manter a equidade e a justiça internacionais, defender a prática do multilateralismo genuíno e se opor claramente a todos os tipos de hegemonia e políticas de poder”.

À medida que aumenta a tensão geopolítica entre a China e os países ocidentais liderados pelos Estados Unidos, Ian Chong, cientista político da Universidade Nacional de Singapura, afirma que a ênfase no multilateralismo significa que a China continuará desafiando e competindo com Washington. "Quando se fala de multilateralismo, muitas vezes significa que Pequim trabalhará por meio de instituições internacionais, principalmente as Nações Unidas e as agências da ONU, para combater o que considera influência dos EUA."

Membros do partido durante 20º Congresso do PCC em PequimFoto: Mark Schiefelbein/AP/picture alliance

Ênfase em ideologia e autoconfiança

Embora o discurso seja amplamente visto como uma continuação das políticas do governo de Xi Jinping na última década, o cientista político Ian Chong considerou notável a ênfase do líder chinês em valores não tangíveis: "Uma das maneiras de Xi Jinping lidar com os desafios, inclusive com a desaceleração da economia e a rivalidade da China com os EUA, é enfatizar a disciplina e a ideologia partidária."

Durante o discurso, Xi descreveu o marxismo como a ideologia orientadora do PCC, e que é "responsabilidade histórica solene” dos membros do partido continuarem "abrindo novos capítulos na adaptação do marxismo ao contexto chinês”.

Ao apresentar a visão para os próximos cinco anos, em meio aos crescentes desafios econômicos, Xi disse que Pequim continuará a promover a prosperidade comum, melhorar a distribuição de riqueza e acelerar o desenvolvimento de um sistema habitacional. Ele também destacou a necessidade de crescimento por meio de uma economia de mercado socialista e estratégias de dupla circulação doméstica-internacional.

Buscando educação de classe mundial

Dexter Roberts, membro do Conselho do Atlântico, criticou o discurso de Xi por não explicar muito sobre o conceito de "prosperidade comum”: "Foi uma declaração sem muita informação, e não há muitos detalhes sobre como eles realmente vão fazer isso."

"Também acho que a prosperidade comum tem,  na liderança e na cabeça de Xi, um elemento de punição aos ricos. Muitas das repressões contra empreendedores e grandes empresas de tecnologia na China estão relacionadas à segurança econômica e de dados."

No entanto, Iris Pang, economista-chefe do ING para a China, acredita que Pequim está tentando colocar a prosperidade comum sob um novo signo, destacando a necessidade chinesa de construir uma educação de classe mundial, "e isso dará à geração mais jovem a oportunidades de subir na pirâmide da riqueza – e eles têm um canal para fazer isso adequadamente".

E com os EUA aumentando seus esforços para impedir o acesso da China a tecnologias de semicondutores, Xi prometeu se concentrar no "desenvolvimento de alta qualidade" que priorizaria educação, ciência e tecnologia: a China "acelerará a realização de um alto nível de autossuficiência científica e tecnológica e autoaperfeiçoamento".

Para Dexter Roberts, a ênfase de Xi na "autossuficiência" indica que Pequim quer provar que pode "seguir sozinho", embora possa ser um desafio. "Não acho que Xi entenda quão difícil seria para eles a nacionalização de alta tecnologia em sua cadeia de suprimentos."

Modernização militar e fortalecimento de "seguranças"

Ao lado da autossuficiência, Xi também enfatizou a importância de continuar os esforços de modernização militar, prometendo acelerar a "modernização da doutrina militar, a organização do Exército, dos militares, e de armas e equipamentos".

Xi destacou a importância de fortalecer uma ampla gama de "seguranças" no país, mencionando a palavra cerca de 50 vezes ao longo do discurso. Ele instou a China a fortalecer sua base de segurança nacional melhorando o sistema de alerta precoce e garantindo o fornecimento de alimentos e energia.

David Bandurski, codiretor do China Media Project,considera o conceito de segurança nacional um dos sinais mais claros do discurso. "É uma continuação completa do que vimos sob o governo de Xi. Podemos deduzir com relativa certeza que eles estão falando dos Estados Unidos, e parte disso se refere a preocupações internas de segurança do desenvolvimento ou do trabalho."

No geral, alguns especialistas acham que, com o discurso do domingo, Xi está ampliando a visão e a direção traçadas na última década. Para Holly Snape, especialista em política chinesa da Universidade de Glasgow, em vez de estabelecer novas metas, o discurso de Xi reforça uma visão estreita de "modernização definida pelo partido”.

Congresso do Partido Comunista Chinês foi assistido até em restaurantes de PequimFoto: Koki Kataoka/Yomiuri Shimbun/AP Photo/picture alliance

Moldando a história para traçar o futuro

Snape acreditar ser "importante que Xi tenha liderado a elaboração do discurso, pois isso permitiu que ele aprofundasse e consolidasse o pensamento que começou a definir, principalmente em 2017”.

Bandurski, do China Media Project, acrescenta que o relatório político entregue por Xi no domingo serve, principalmente, para sinalizar o poder do presidente chinês e posicioná-lo na história do Partido Comunista. "A história está sempre bem na mira do Partido Comunista, e interpretar e expandir a história é realmente a chave para Xi sinalizar seu poder. Tudo gira em torno de contar a história básica de que os últimos cinco anos foram um grande sucesso e mostrar por quê.”

O Congresso do Partido Comunista é realizado a cada cinco anos, e até o fim do presidente chinês deverá garantir um terceiro mandato Na ocasião, o Partido Comunista Chinês também divulgará a formação de sua nova liderança.

Pular a seção Mais sobre este assunto
Pular a seção Manchete

Manchete

Pular a seção Outros temas em destaque