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"O amor e a morte" leva a obra de Thomas Mann à televisão brasileira

Marco Sanchez16 de dezembro de 2013

Exibida pela Rede Record, adaptação de quatro contos do escritor alemão, Prêmio Nobel de Literatura, trata de questões universais e transporta seus conflitos para os dias atuais.

Foto: Munir Chatack/Record

Amor, morte e redenção são os temas centrais de O amor e a morte. Baseado na obra do escritor alemão Thomas Mann, o telefilme com roteiro de Marcilio Moraes e direção de Marco Altberg é uma co-produção entre a produtora Indiana Filmes e a Rede Record.

A ideia para o especial de fim de ano surgiu por ocasião do Ano da Alemanha no Brasil e da comemoração dos 150 anos da presença alemã no país. "Minha bisavó por parte de mãe era alemã. Seria uma forma de prestigiar essa minha origem remota", disse Moraes em entrevista à DW Brasil.

Moraes pensou em vários autores para a adaptação – "Schiller, Brecht e em alguns autores contemporâneos" – mas acabou escolhendo Thomas Mann. "Admiro-o desde a infância. Também o fato de Mann ter uma raiz por aqui, a mãe dele era brasileira, contribuiu para a escolha", explicou.

Contos da juventude

Para o roteirista, a maior parte da obra de Mann é muito densa para o formato televisivo. "Mesmo novelas menores, como Cabeças trocadas ou Mário e o mágico", comenta. Assim, ele resolveu juntar alguns contos da juventude do autor alemão. Uma fusão que já havia feito com três romances de José de Alencar na novela Essas mulheres.

No filme, um diretor de cinema reúne amigos para contar a eles que vai morrer no dia seguinteFoto: Munir Chatack/Record

"No caso do especial, o que havia de comum entre os quatro contos eram temas recorrentes na obra de Mann, como a morte e o amor. Criei então o leitmotiv, quer dizer, a questão condutora da história, que é: o amor pode matar? Com esses elementos, armei a história", disse Moraes.

Os contos escolhidos foram: A morte, Desejo de felicidade, A queda e Anedota. O projeto tem como temas a morte e o amor, porém sem qualquer morbidez. Moraes busca a delicadeza, o humor e a ironia, características próprias das obras de Mann, para compor a trama.

Nela, o protagonista é Henrique (Floriano Peixoto), um diretor de teatro, cinema e televisão que faz um misterioso convite aos amigos Maria (Adriana Londoño), Thomas (Gabriel Gracindo), Becker (Giuseppe Oristano) e Ronaldo (Thelmo Fernandes) para dar a notícia que ele irá morrer no dia seguinte.

A notícia é encarada como brincadeira. Os amigos começam especular e a tentar entender por que ele tem tanta certeza de sua morte. Estaria ele deprimido com uma recente separação? Vai se suicidar? Foi ameaçado de morte? Ele apenas explica que há mais de 20 anos, sem saber como nem por quê, tem a convicção de que vai morrer no dia 13 de outubro de 2013.

Thomas Mann nos dias de hoje

Para o autor, transpor essas histórias para os dias de hoje foi relativamente simples. "Os temas são universais e perenes. A humanidade sempre viveu e sempre viverá dramas de amor. E a morte nunca deixa de estar à espreita", afirmou.

Thomas Mann em 1905: temas como amor e morte permeiam a obra do escritor alemãoFoto: ullstein - AKG Pressebild

Uma acalorada conversa sobre intuição, premonição, acaso, destino e amor é travada pelos personagens. Histórias que misturam tragédias românticas e amores interrompidos pelo acaso, ou pelo destino, sobrepõem-se e seguem noite adentro, até o badalar da meia-noite.

"Só precisei modernizar detalhes da história, a ambientação e coisas como, por exemplo, transformar uma atriz de teatro em atriz de televisão. Não que eu ache o teatro antiquado, pelo contrário, mas porque ficaria mais coerente com o veículo que estava utilizando, a televisão", disse.

A universalidade dos temas também ajudou a transpor as histórias da Alemanha para o Brasil. "Os personagens de Mann guardam características universais bem evidentes. São seres humanos no sentido amplo."

Outro ponto trabalhado pelo autor foi trazer a complexidade da obra de Mann para o formato televisivo. "A televisão, como linguagem artística, pode ser tão profunda e requintada quanto o cinema, o teatro ou a literatura. É que, na televisão, por razões econômicas e sociais de um veículo que atinge milhões de pessoas ao mesmo tempo, normalmente se trabalha com assuntos mais leves e prosaicos", explicou Moraes.

A escolha do título se impôs através de dois fortes muito presentes na obra de Thomas Mann, mas a passionalidade quase macabra sugerida pela junção das palavras amor e morte não dá o tom da adaptação. "Logo o espectador se dará conta de que não é nada disso. É um programa leve, divertido e instigante."

O Amor e a Morte será exibido nesta sexta-feira (20/12), às 00h15, na Rede Record.