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O amor proibido de Goethe

(rr)7 de outubro de 2004

Goethe não amava a dama da corte Carlota von Stein, mas a própria duquesa Anna Amalia. Carlota seria apenas mensageira. Se verdadeira, a tese do italiano Ettore Ghibellino permitiria reinterpretar toda a obra de Goethe.

Goethe e Schiller: um dos dois tem um segredo para contarFoto: DW

A imagem do jovem Goethe, inspirado pela figura trovadoresca e puritana de Carlota von Stein, não apenas marcou gerações de germanistas, mas foi um dos mitos centrais do movimento Sturm und Drang (Tempestade e Ímpeto). Mas o que aconteceria, se ela não fosse verdadeira? Se a relação de Goethe com Carlota von Stein fosse apenas fachada para disfarçar o verdadeiro amor do poeta por ninguém menos que a duquesa Anna Amalia, mãe do príncipe Carlos Augusto de Saxe-Weimar-Eisenach?

Esta é a tese que o italiano Ettore Ghibellino tenta provar em seu livro J.W. Goethe e Anna Amalia. Um amor proibido, cuja segunda edição, ampliada e revista, está sendo lançada na Feira do Livro de Frankfurt. Foi a duquesa quem levou o jovem Goethe a Weimar, onde ele viveu e produziu entre os anos de 1776 e 1786. Na época, ela contava 36 anos; ele, 26.

Mas a relação entre Goethe e Anna Amalia esbarrava em muito mais que do que na mera diferença de idade. O que estava em jogo eram as duras regras monárquicas vigentes. Como poderia ser que Goethe, poeta burguês elevado à baixa nobreza, poderia se envolver não apenas com uma dama nobre, mas com a própria viúva, mãe do príncipe governante?

Amor era segredo de Estado

A casa de Goethe em WeimarFoto: AP

A tese de Ghibellino é que Goethe – que durante sua estada em Weimar teria se expressado predominantemente em fragmentos carregados de insinuações – contou com a ajuda de Carlota von Stein, leal dama da corte de Anna Amalia, para esconder sua relação com a duquesa. Essa manobra deveria, segundo Ghibellino, permanecer um segredo de Estado, para cuja finalidade até a destruição de documentos se justificaria. Para Ghibellino, o ducado Saxe-Weimar-Eisenach teria omitido provas até sua queda em 1919.

Mas algumas pessoas teriam notado a secreta comunicação amorosa mantida pelo casal: Goethe enviava bilhetes amorosos a Carlota, que os repassava à duquesa. Entre essas pessoas estariam as condessas de Görtz e Egloffstein, que teriam enriquecido suas correspondências e memórias com comentários peremptórios. Ou o poeta Jakob Lenz, expulso da cidade, não se sabe até hoje por quê.

Tese cientificamente aceita

Aos poucos, a tese de Ghibellino vem ganhando adeptos. A história está sendo adaptado aos palcos e ganhará uma versão para cinema. Para o professor de germanística Otto Fuhlrott, de Magdeburg, Ghibellino possui "uma argumentação variada e convincente". Caso tenha razão, o fato alteraria não só a biografia do escritor, mas provocaria, nas palavras do professor de literatura Sverre Dahl, "uma verdadeira revolução", que abriria espaço para uma reinterpretação de toda a obra literária de Goethe.

'Goethe in der Campagna', pintura de Johann Heinrich Wilhelm Tischbein, de 1787, surgida da amizade entre o pintor e o poeta durante sua estádia na Itália

"Eu não acredito mais na história de Carlota", disse o professor de Germanística Jörg Drews, de Bielefeld, ao jornal suíço Schweizer Tages-Anzeiger. Drews conta que começou a aceitar a tese de Ghibellino ao questionar-se por que Goethe, caso estivesse realmente apaixonada por Carlota von Stein, optaria por partir subitamente para a Itália sob o argumento de que queria trocar a neblina nórdica e a atividade burocrática pela sensibilidade e liberdade poética mediterrâneas.

Professor questiona provas

O medo da descoberta de sua relação com a duquesa poderia ser um motivo, mas não o é obrigatoriamente, salienta Drews. E por que é que Goethe, já em 1788, teria iniciado uma relação com Christiane Vulpius, com quem se casaria mais tarde, se era mesmo a duquesa quem ele amava?

Drews questiona mais. Se é verdade que há provas – ou, ao menos, vestígios de provas – do amor proibido entre Goethe e Anna Amalia, por que não consultar o príncipe Michael, chefe da casa Saxe-Weimar-Eisenach, que hoje certamente não teria mais receio em admitir o fato?

Interior da Biblioteca Anna Amalia, em Weimar, onde um incêndio destruiu milhares de edições históricas da literatura alemãFoto: dpa

"Muito do que Ghibellino apresenta pode ser lido como prova do amor entre Goethe e Anna Amalia, mas não o é necessariamente", argumenta Drews. "Só se pode esperar que Ettore Ghibellino reconsidere sua tese sob a luz da razão e se pergunte o que é realmente uma prova, o que pode ser uma prova, o que é só uma vaga referência ou uma mera possibilidade para sua hipótese. Aí estaremos ansiosos pela terceira edição de seu livro".

Ettore Ghibellino: "J.W. Goethe und Anna Amalia. Eine verbotene Liebe", 2ª edição, Weimar 2004, ISBN 3–936177–04–X, 400 páginas, 19,90 euros

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