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O Bochum volta à elite com seu improvável herói brasileiro

Gerd Wenzel
Gerd Wenzel
25 de maio de 2021

Danilo Soares foi um dos principais protagonistas dessa vitoriosa jornada do Bochum. Feito é mais extraordinário diante de luta do clube para evitar queda para a 3ª divisão em janeiro de 2020.

Jogadores do Bochum comemoram volta a BundesligaFoto: Horst Mauelshagen/foto2press/picture alliance

Danilo Soares, mineiro de Belo Horizonte com passagem pelos juvenis do Grêmio Porto Alegrense, representa com maestria o Teamgeist (espírito de equipe) que norteou o Bochum nesta temporada vitoriosa de 2020/2021 com direito à conquista do título de campeão da segundona e consequente acesso ao futebol de elite.

O contrato do lateral esquerdo com o clube do vale do Ruhr tinha vencido em junho do ano passado. O jogador já havia se despedido dos seus colegas, mas na última hora mudou de ideia. Decidiu ficar no Bochum e assinou um novo contrato de quatro anos. Na época a torcida local foi à loucura nas redes sociais festejando a permanência do Danilo, festejo comparável à uma vitória sobre os arquirrivais da região, Schalke 04 e Borussia Dortmund.

Ao assinar o novo compromisso há um ano, Danilo deixou claro que seu objetivo era ajudar o Bochum a voltar à elite do futebol. Queria jogar na Bundesliga de qualquer jeito. Domingo último, depois da vitória de 3x1 sobre o Sandhausen, o mineiro de BH atingiu sua meta e foi para o abraço com colegas, torcedores, comissão técnica e dirigentes.

O Bochum chegou à Bundesliga pela primeira vez em 1971 depois de ter vencido um torneio de acesso à primeira divisão com quatro clubes de outras Ligas Regionais e é uma feliz coincidência que exatamente 50 anos depois volta mais uma vez ao primeiro patamar do futebol alemão. Naqueles anos 1970 poucos acreditavam que os alvi-azuis pudessem se manter por muito tempo na Bundesliga.

Para o espanto de muitos, porém, o pequeno clube conseguiu ficar na Bundesliga ininterruptamente por 22 anos até 1993. É sempre bom lembrar que nessas duas décadas, os primos ricos da região, a saber, Borussia Dortmund e Schalke 04, chegaram a ser rebaixados. É verdade que durante todo esse tempo a melhor colocação obtida na tabela do campeonato foi um modesto oitavo lugar na temporada 78/79 e algumas vezes o Bochum esteve ameaçado de voltar para a segunda divisão. Foi também nessa época que o clube ganhou o apelido de "Die Unabsteigbaren" (algo como 'os não sujeitos ao rebaixamento'). 

Como nada dura para sempre, depois do primeiro rebaixamento em 1993 seguiram-se anos de instabilidade com seguidos descensos, descendo e subindo tal qual um elevador de uma divisão para outra. Finalmente em 2010, o elevador subiu para o andar de cima sem a presença do seu passageiro mais ilustre dos últimos anos. O Bochum ficou no meio do caminho e permaneceu na segunda liga até domingo passado.

É um feito extraordinário, mesmo porque ainda em janeiro de 2020, o time lutava desesperadamente para fugir do vexame de ser degradado - suprema humilhação - para a 3ª divisão. Conseguiu se recuperar a tempo graças ao competente trabalho do seu técnico Thomas Reis e também a jogadores como o brasileiro Danilo Soares que vestiram de coração e alma a camisa alvi-azul. O time se estabilizou, alçou voos mais altos e conseguiu com todos os méritos alcançar o objetivo supremo da volta à elite.

Tudo acabou dando certo para o Bochum. No elenco impera um espírito de equipe poucas vezes visto, o técnico Thomas Reis estruturou o time adequadamente procurando aproveitar ao máximo o potencial de cada um dos seus comandados e formou uma unidade compacta, unindo competência técnica, condição física e força mental. Vale dizer que durante toda desgastante temporada, o Bochum não amargou dois revezes consecutivos. Depois de cada uma das nove derrotas, o time venceu o jogo subsequente. Diz muito sobre a força mental dos jogadores.  

Em fevereiro de 2011 estive em Dortmund. Fui a serviço com meus colegas Rogério Vaughan e Luís Calvoso. José Trajano, então Diretor de Jornalismo da ESPN Brasil, nos enviou à Alemanha para cobrirmos a "mãe de todos os dérbis" entre Borussia Dortmund e Schalke 04. De quebra, fizemos algumas reportagens sobre a cidade de Dortmund e redondezas.

Uma delas foi sobre o Florianturm , a torre de TV e telecomunicações de 209 metros de altura. Subimos até a plataforma a céu aberto que nos proporcionou uma vista espetacular da região do Ruhr. Céu azul, temperatura de cinco graus centígrados e um vento fortíssimo que mal nos deixava de pé. Fizemos uma matéria ali mesmo sobre as cidades da região que podiam ser vistas a olho nu do alto da torre.  Uma delas é Bochum e a outra, um pouco mais distante, é Gelsenkirchen, formando com Dortmund, o trio de cidades cujo futebol teve sua origem na classe trabalhadora. 

Na época, o Bochum iniciava sua longa jornada de dez anos na segundona enquanto Schalke e Borussia Dortmund faziam bater mais forte o coração da massa torcedora amante do futebol e davam as cartas no Vale do Ruhr. Por ironia do destino, dez anos depois, justamente no mesmo fim de semana em que o Bochum conseguia voltar à elite, o seu arquirrival Schalke 04 deu adeus à primeira divisão.

Tristeza para os azuis reais e alegria para o torcedor alvi-azul. E quando falo em torcedor alvi-azul, tenho em mente especialmente as crianças de Bochum, alunos do ensino fundamental que nunca viram o seu time na 1ª divisão. Finalmente terão esta oportunidade. A longa espera chegará ao fim. Quiçá logo estarão nas arquibancadas do Vonovia-Ruhrstadion empurrando o time para novas conquistas e vibrando com o brasileiro Danilo Soares que se tornou um dos principais protagonistas dessa vitoriosa jornada do Bochum rumo ao andar de cima.

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Gerd Wenzel começou no jornalismo esportivo em 1991 na TV Cultura de São Paulo, quando pela primeira vez foi exibida a Bundesliga no Brasil. Atuou nos canais ESPN como especialista em futebol alemão de 2002 a 2020, quando passou a comentar os jogos da Bundesliga para a OneFootball de Berlim. Semanalmente, às quintas, produz o Podcast "Bundesliga no Ar". A coluna Halbzeit sai às terças.

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Gerd Wenzel começou no jornalismo esportivo em 1991, quando pela primeira vez foi exibida a Bundesliga no Brasil. Na coluna Halbzeit, ele comenta os desafios, conquistas e novidades do futebol alemão.

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