Nenhum longa brasileiro concorre ao Urso de Ouro no Festival de Berlim. Mas, como em anos anteriores, país mantém papel de destaque, com filmes em mostras como a Panorama, a segunda mais importante do evento.
Anúncio
Nenhum longa-metragem brasileiro está entre os 19 filmes selecionados para a mostra Competitiva, a principal da 65º Berlinale, que começa nesta quinta-feira (05/02) em Berlim.
Filmes de diretores consagrados como Werner Herzorg, Andreas Dresen, Peter Greenaway, Terrence Malick e Jafar Panahi disputam o Urso de Ouro com nomes menos experientes, como o inglês Andrew Haigh, o romeno Radu Jude, a italiana Laura Bispuri e o vietnamita Phan Dang Di.
Mas, apesar da ausência na principal mostra do festival, o Brasil emplaca filmes em importantes seções da Berlinale. Só na Panorama, o país tem quatro e fica atrás apenas de Estados Unidos e da Alemanha.
"O Brasil está sempre presente na Panorama, seria um ano estranho se não selecionássemos nenhum filme brasileiro", diz o diretor da mostra, Wieland Speck, à DW Brasil. "Nossos olhos estão abertos para a América Latina. Esperamos que os filmes selecionados encontrem seu espaço no mercado Europeu, o que é muito difícil de acontecer."
"Panorama Brasileiro"
Estrelado por Daniel de Oliveira, Sangue Azul, do pernambucano Lírio Ferreira, foi escolhido para abrir a Panorama.
"A Competitiva começa com o filme de Isabel Coixet [Nobody wants the night], que mostra duas mulheres em uma expedição ao Polo Norte. Achei interessante selecionar algo mais ensolarado", brinca Speck. "Mas também é uma maneira de chamar atenção para a forte presença brasileira".
Dois outros filmes de destaque em festivais nas Américas chegam à Europa através da Berlinale. Premiado no Festival do Rio, Ausência traz o cineasta Chico Teixeira de volta a Berlim, depois de apresentar seu filme de estreia, A casa de Alice, em 2007.
Regina Casé e Camila Márdila dividiram o prêmio de melhor atriz em Sundance por Que horas ela volta?, de Anna Muylaert. O longa, segundo Speck, pode ser visto como "um típico filme latino-americano, sobre ricos e seus empregados, mas também sobre emancipação, que reflete uma nova fase do Brasil".
Vencedor do Urso de Ouro em 1998 por Central do Brasil, Walter Salles volta a Berlim com Jia Zhang-Ke, um homem de Fenyang, documentário sobre o cineasta e artistas chinês.
"É muito interessante ver a visão de um brasileiro sobre um artista que também vem de um país subcontinental que teve grandes e rápidas mudanças políticas e culturais", explica. "Na Panorama, tentamos fazer um cruzamento entre o cinema de autor e o comercial. Eu, como cineasta, sempre quero atingir o público e ajo da mesma maneira com os filmes que seleciono. Eu quero que os filmes tenham uma vida depois do festival."
Possível Urso de Ouro
Mas o Brasil ainda tem chances de levar um prêmio importante para casa. O filme-ensaio Mar de Fogo, sobre o clássico Limite (1931), de Mario Peixoto, foi um dos selecionados para concorrer ao Urso de Ouro de melhor curta-metragem.
O Brasil também participa da experimental mostra Forum, com os longas Brasil S/A, de Marcelo Pedroso, e Beira-Mar, de Filipe Matzembacher e Marcio Rebelon.
Os artistas Frederico Benevides e Arthur Tuoto apresentam vídeo-instalações na Akademie der Künste, como parte da Forum Expanded, que também exibe Fuga dos meus olhos, novo curta-metragem de Felipe Bragança.
Dedicada ao cinema de temática indígena, a segunda edição da mostra Native tem seu foco na América Latina, com filmes de países como Equador, Argentina, México e Brasil.
"O cinema mostra como o Brasil tem dificuldade em lidar com sua realidade. O cenário de apenas ricos fazendo filmes sobre pobres mudou. Tentei não alimentar isso, mas não pude ignorar as boas produções dessa safra. Hoje, vejo que esse cenário melhorou", conclui Speck.
A 65ª edição da Berlinale
A edição deste ano do Festival de Berlim terá mais de 440 estreias, uma homenagem a Wim Wenders e destacada participação brasileira.
Foto: picture-alliance/dpa/L. Schulze
441 estreias
Durante dez dias, o coração do mundo do cinema baterá novamente na Potsdamer Platz. Centenas de novos filmes vão estar disponíveis para serem vistos lá e em outros cinemas de Berlim. Ao todo, os amantes do cinema terão à disposição 1200 sessões. É provável que a 65ª Berlinale se mantenha fiel à sua reputação e continue sendo o maior festival do mundo em termos de público.
Internacionalmente gelado
O festival será aberto por uma coprodução internacional. A diretora espanhola Isabel Coixet conta com a estrela francesa Juliette Binoche para o seu novo filme “Nobody wants the night”. A história de aventura tem cenário ártico, na Groelândia, mas foi filmado na Bulgária, na Noruega e na Espanha. O ator irlandês Gabriel Byrne (na foto com a câmera) também está no filme.
Foto: Leandro Betancor
Forte presença alemã
Como há muito tempo não se via, estarão em competição e em outras seções da Berlinale uma série de celebridades do cinema alemão. Entre os pesos pesados, marcarão presença o diretor do festival, Dieter Kosslick, assim como Wim Wenders (foto), Werner Herzog e Margarethe von Trotta. A geração mais nova é composta, entre outros nomes, por Andreas Dresen e Oliver Hirshbiegel.
Foto: picture-alliance/dpa
Cinema globalizado
O mundialmente famoso diretor Werner Herzog apresenta o seu mais novo filme “Queen of the desert”. Herzog, que filmou principalmente nos Estados Unidos nos últimos anos, integra a tendência mundial de crescente globalização do cinema. O filme do diretor bávaro é de produção americana e conta com estrelas internacionais como Nicole Kidman, James Franco, Damian Lewis e Robert Pattinson.
Foto: 2013 QOTD Film Investment Ltd. All Rights Reserved
Nova produção de Malick
O consagrado diretor americano Terrence Malick também vai estar em Berlim. Ele participa da disputa pelo Urso de Ouro com “Knight of Cups”. O ator Christian Bale interpreta um homem que busca o sentido da vida. Ele segue o seu caminho entre luxo, sexo e ironia. Ao seu lado no elenco estão Cate Blanchett e Natalie Portman.
O diretor iraniano Jafar Panahi teve pouco dinheiro disponível para concluir o seu projeto. O filme “Taxi” foi produzido em condições difíceis. Panahi não pode trabalhar em Teerã devido a sua postura crítica ao governo. A mídia iraniana já critica o filme que será apresentado na Berlinale.
Foto: Jafar Panahi
Conto de fadas hollywoodiano
O conto de fadas “Cinderela”, do britânico Kenneth Branagh, promete muita música, estrelas e intenso apelo visual. O direitor trabalhou com a Wald Disney uma versão pop e colorida do clássico. Um grupo de renomadas estrelas internacionais deve causar furor no tapete vermelho da Potsdamer Platz. No entanto, Cinderela não vai concorrer ao Urso de Ouro.
À parte da competição, existem diversos filmes de todo o mundo que devem chamar a atenção do público. É o momento em que a Berlinale se torna um legítimo fórum - a mostra de mesmo nome terá 43 filmes. Uma das atrações mais esperadas é "Histoire de Judas", da França, que foi filmado no deserto da Argélia e discute as origens do cristianismo e do judaísmo.
Foto: Sarrazink Productions - Arte France Cinéma
Brasil em panorama
Junto às mostras Competição e Fórum, a Panorama é uma das mais abrangentes da Berlinale. Os filmes que são exibidos nela refletem as tendências da arte no cinema mundial. O Brasil está representado por quatro longas. Um deles, "Sangue Azul", do pernambucano Lírio Ferreira, abrirá a seção.
Foto: Berlinale 2015
A cor em retrospectiva
A exposição anual sobre a história do cinema na Berlinale é dedicada nesta edição ao processo da Technicolor para dar cor aos filmes. A técnica foi desenvolvida na década de 1930 nos Estados Unidos e deu um brilho particularmente intenso a inúmeros clássicos. “E o vento levou” foi um dos filmes nos quais a tecnologia foi aplicada.
Foto: picture-alliance/dpa
Clássicos revitalizados
Há dois anos, filmes submetidos à restauração são exibidos com o título Berlinale Classics. Alternativas modernas de processamento digital de imagens foram aplicadas para que clássicos pudessem ser apresentados novamente. O filme mudo alemão “Varieté”, dos anos 1920, com a dançarina e atriz húngara Lya de Putti, é um dos que serão exibidos.
Foto: Deutsche Kinemathek, Berlin Friedrich-Wilhelm-Murnau-Stiftung
Homenagem a Wim Wenders
Nastassja Kinski estará mais uma vez nas telas da Berlinale, com “Paris, Texas” (1984), de Wim Wenders. A 65ª edição do festival será especial para o diretor alemão, que vai receber um Urso de Ouro honorário, pelo conjunto de sua obra. Seu filme mais recente, “Everything will be fine”, estará concorrendo no festival.
Foto: Wim Wenders Stiftung 2014
“50 tons de cinza”
Cinema costuma ser uma mistura entre arte e negócio. Produções artísticas especialmente bem-sucedidas têm um preço às vezes alto. Como a adaptação do best-seller “50 tons de cinza”, que terá sua estreia na Alemanha durante a Berlinale e depois passará a ser exibida nos cinemas.
Foto: Universal Pictures
A disputa pelo Urso de Ouro
O domingo, 15 de fevereiro, será o último dia da Berlinale. Um dia antes haverá a entrega dos Ursos de Ouro e Prata. A expectativa é grande para os 19 filmes que concorrem. O júri que tomará a decisão é presidido pelo diretor americano Darren Aronofsky e tem entre os integrantes o alemão Daniel Brühl.