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O Brasil na imprensa alemã (03/02)

3 de março de 2021

Um sistema de saúde à beira do colapso, uma população cada vez mais armada e o desmantelamento do combate à corrupção são temas na mídia da Alemanha.

Apoio de Bolsonaro às armas foi destaque na imprensa alemã
Apoio de Bolsonaro às armas foi destaque na imprensa alemãFoto: Fabio Teixeira/dpa/picture alliance

FAZ – O fim do fim da impunidade (02/03)

Como não havia mais corrupção no governo, ele encerraria a Operação Lava Jato, anunciou o presidente brasileiro, Jair Bolsonaro, no ano passado. "Lava Jato" foi o nome da investigação lançada há sete anos pelo Ministério Público e pela Polícia Federal que expôs uma gigantesca rede de corrupção. Em fevereiro, Bolsonaro cumpriu seu anúncio: a equipe de promotores e investigadores da operação foi oficialmente dissolvida.

A Lava Jato mudou o curso dos acontecimentos no Brasil, atingindo o sistema político corrupto do país bem no coração. Vários empresários de alto escalão, políticos e dois ex-presidentes foram para a cadeia. Um deles foi Luiz Inácio Lula da Silva.

Mais tarde, ele foi preso e impedido de concorrer nas eleições de 2018, nas quais seria o favorito. Bolsonaro não se beneficiou apenas disso em sua vitória eleitoral. A Operação Lava Jato havia voltado os brasileiros contra a elite política. Bolsonaro encarnou o "antipolítico". Para mostrar que também era sério no combate à corrupção, nomeou imediatamente o juiz Sergio Moro, que se tornou popular com seus julgamentos, como ministro da Justiça. E ele aceitou.

Então, pode-se dizer que o único objetivo da Operação Lava Jato era eliminar Lula? Dificilmente. Não faria justiça ao sucesso da operação olhar apenas para o destino de Lula. Nunca antes o Brasil havia experimentado algo comparável. Muitos viram a operação como o fim da impunidade.

Mas quanto mais a Lava Jato se aproximava do líder da esquerda brasileira, mais política se tornava a operação. Poucos acreditam na completa inocência de Lula. Mas o momento, ritmo e base de sua condenação alimentaram as suspeitas de uma conspiração. E as mensagens entre os investigadores e Moro deixam poucas dúvidas de que Lula foi particularmente visado.

Após as eleições de 2018, então, as coisas ficaram mais calmas na Lava Jato. Ficou cada vez mais claro que Bolsonaro, que havia se vendido como um homem limpo durante a campanha eleitoral, não tem nenhum interesse real em agências de investigação independentes.

Bolsonaro também provavelmente não se oporia a uma anulação das sentenças contra Lula. Bolsonaro e Lula precisam um do outro. Ambos jogam nos polos políticos e são mestres do populismo. Quanto mais dividido o país, maior será a sua participação no voto.

Lula já anunciou que concorrerá nas eleições do próximo ano se nada aparecer legalmente no caminho. Com as forças políticas moderadas lutando para se unir atrás de uma forte candidatura,  o Brasil enfrenta a ameaça de outro duelo entre Bolsonaro e Lula.

Die Süddeutsche Zeitung – Canhões carregados (27/02)

O presidente brasileiro, Jair Bolsonaro, está relaxando as leis de armas de seu país e armando a sociedade civil. O país latino-americano é um dos mais violentos do mundo.

O que soa como uma contradição é para Bolsonaro apenas a continuação rigorosa do que ele vê como uma campanha lógica para armar a sociedade civil brasileira. Depois de abolir os impostos sobre importação, ele tomou outra medida: aumentou, por decreto, o número de armas que os cidadãos podem comprar legalmente. Os brasileiros sem antecedentes criminais podem agora acumular até seis armas em casa, com o número subindo para 30 para caçadores e até 60 para atiradores esportivos.

Já na campanha eleitoral de 2018, Bolsonaro havia prometido relaxar as leis sobre armas se vencesse. Ele gostava de fazer arminha com a mão durante eventos e disparar tiros imaginários para o ar. Para o político populista de direita, as armas não são apenas um direito civil, mas também a melhor maneira de combater o crime e a violência.

Alguns críticos até acreditam que não só vidas humanas estão em risco, mas também a democracia. Para Bolsonaro, não se trataria apenas de colocar armas nas mãos dos cidadãos para que possam se defender de criminosos. O presidente, na verdade, estaria armando seus apoiadores, sobretudo, para que possam ajudá-lo a ficar no poder em caso de dúvida, dizem críticos como o deputado de esquerda Marcelo Freixo.

No ano que vem, o Brasil realizará eleições presidenciais. A questão é o que acontece se Bolsonaro perder. Haverá uma transição pacífica de poder – ou cenas como as que sucederam as eleições americanas?

Tagesschau – Mais de 250 mil mortes no Brasil (26/02)

O sistema de saúde no Brasil já está em seu limite. Mesmo estados com uma infraestrutura mais forte, como Santa Catarina, já alertam para o colapso.

Enquanto o país vive um de seus piores momentos na pandemia, o presidente Jair Bolsonaro se pronunciou contra o uso de máscaras protetoras em sua transmissão ao vivo nas mídias sociais, citando um estudo alemão, sem mencionar fontes.

O presidente se referiu repetidamente à covid-19 como "gripezinha" e atacou, às vezes verbalmente, as autoridades regionais que estavam restringindo as atividades a fim de inibir a propagação da pandemia.

Há cerca de um ano, o Brasil registrou seu primeiro caso de coronavírus. Hoje, é um dos países mais duramente atingidos do mundo. Até agora, quase 10,4 milhões de pessoas aqui foram confirmadas como infectadas – somente nos EUA e na Índia os números são mais altos. Com mais de mil pessoas morrendo todos os dias, o Brasil tem agora mais de 250 mil mortos.

rpr/ek (ots)

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