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O Brasil na imprensa alemã (03/11)

3 de novembro de 2021

O isolamento de Bolsonaro na cúpula do G20, em Roma, e a decisão do presidente brasileiro de não ir à COP26, em Glasgow, foram destaques nos jornais da Alemanha.

G20 Gipfel in Rom
Foto: Domenico Stinellis/AP/picture alliance

FAZ – Cidadão honorário em vez de proteção climática (02/11)

O presidente brasileiro Jair Bolsonaro já demonstrou no domingo, na cúpula do G20 em Roma, o que pensa de reuniões internacionais que são também ou principalmente sobre proteção do clima. Ele faltou à maior parte das deliberações no centro de conferências no sudeste de Roma e também à "foto coletiva" na Fontana di Trevi, no coração da cidade antiga.

Os comentários da mídia italiana na segunda-feira disseram que poderia ter sido pior: em vez de simplesmente ficar entre os chefes de Estado e de governo reunidos em frente da Fontana di Trevi, Bolsonaro poderia ter mergulhado nela – como fez Anita Ekberg uma vez no clássico "La Dolce Vita" de Federico Fellini de 1960.

Jornalistas brasileiros relataram agressões por parte da equipe de segurança do presidente durante uma manifestação simpática de apoiadores de Bolsonaro em Roma. (...)

Em vez de voar de Roma para Glasgow para a cúpula climática da COP26 no domingo à noite, como a maioria dos chefes de Estado e de governo, Bolsonaro ficou na Itália (...) e viajou para a pequena cidade de Anguillara Veneta, na província de Pádua, na segunda-feira. Lá, o conselho municipal, liderado pela prefeita Alessandra Buoso, havia decidido conceder a Bolsonaro a cidadania honorária. Os Bolzonaros, como o nome de família era escrito na época, emigraram da pequena cidade nos confins do Vêneto para o Brasil no final do século 19. 

Não somente porque a prefeita Buoso pertence ao partido populista de direita Liga Norte, do ex-ministro do Interior Matteo Salvini, a honra a Bolsonaro provocou grande controvérsia política. (...)

Süddeutsche Zeitung – Outsider na terra dos antepassados (1º/11)

Quase não se percebeu que Jair Bolsonaro também participou da cúpula do G20 em Roma. Se não fosse por uma curta sequência de vídeo gravada com telefone celular. Ele mostra um grupo ao redor do presidente brasileiro na Piazza Navona, onde está localizada a embaixada do Brasil. Um domingo à noite ameno, muita gente na rua. Bolsonaro está andando, passeando. De repente, há uma briga entre seus guarda-costas e jornalistas brasileiros. Mais tarde, um repórter relatou que só havia perguntado ao presidente por que ele não havia participado das reuniões no segundo dia da cúpula. Ele foi então empurrado por guarda-costas e esmurrado no estômago. Outro teve o celular arrancado das suas mãos e jogado no chão. Outros dizem ter sentido o mesmo. Foi o fim inglório de uma estadia notavelmente inglória.

De todos os convidados ilustres da cúpula, Bolsonaro foi o único que não manteve conversas bilaterais com os colegas. Sobre as grandes questões do dia, a pandemia e a mudança climática, o presidente de direita e muitas vezes abusivo toma posições perturbadoras. No seu país, uma comissão parlamentar de inquérito concluiu que Bolsonaro deveria ser julgado por crimes contra a humanidade por suas declarações sobre a covid-19. (...)

Então, quando todos viajaram para Glasgow para a COP26, Bolsonaro foi para Anguillara Veneta, uma pequena cidade na província de Pádua, no norte da Itália. É dali que o bisavô Vittorio, que emigrou para o Brasil, veio. O conselho municipal, liderado pela prefeita Alessandra Buoso, do partido populista de direita Liga, decidiu recentemente conceder a Bolsonaro a cidadania honorária de Anguillara – apesar de protestos. Matteo Salvini, o chefe da Liga, também considera Bolsonaro um honrado descendente de emigrantes.

Die Tageszeitung – O Bolsonaro simpático (27/10)

O vice-presidente Hamilton Mourão fez alguns anúncios importantes aos jornalistas na segunda-feira. Em dois ou três anos, o maior país da América Latina poria fim ao desmatamento ilegal na floresta amazônica. Isso será anunciado pela delegação brasileira na próxima Conferência da ONU sobre Mudança Climática, em Glasgow. Na verdade, o presidente brasileiro Jair Bolsonaro havia mencionado em abril o ano de 2030. Agora, Mourão apresentou um "objetivo ainda mais ambicioso". De onde vêm as palavras calorosas antes da conferência climática?

O Brasil está sob pressão internacional por causa de sua política ambiental. Muitas empresas estrangeiras estão ameaçando retirar-se se o país não atingir suas metas ambientais. As eleições serão realizadas em 2022, portanto há muito em jogo para o governo. Entretanto, é improvável que as promessas sejam cumpridas. (...)

Segundo o governo, o desmatamento diminuiu 5% entre agosto de 2020 e julho de 2021. No entanto, poucos especialistas acreditam nesta inversão de tendência. (...)

Tem sido um papel frequente do vice-presidente apresentar-se como a face amigável do governo. No entanto, na coletiva de imprensa, Mourão não perdeu a oportunidade de atacar os inimigos favoritos do governo: a esquerda. Ele disse que a esquerda era a maioria em muitos países e fazia com que o Brasil fosse exposto ao ridículo por sua política ambiental.

Süddeutsche Zeitung– Anta contra motoqueiro (27/10)

Agora que acabou, a questão é o que sobra: Durante quase um semestre, uma comissão de investigação no Brasil analisou a política do governo de Jair Bolsonaro para a pandemia. Na terça-feira, o relatório final foi aprovado: Ele acusa o presidente de vários crimes, inclusive fraude, mas também de crimes contra a humanidade.

A comissão recomenda o impeachment. Mas é aqui que começam os problemas: É extremamente improvável que um processo seja realmente iniciado contra Bolsonaro, já que o presidente ainda tem muito apoio no Congresso e no Judiciário. Portanto, é bem possível que não sobre muito mais do trabalho da comissão do que uma mensagem política. Mas os brasileiros também se lembrarão de um nome: Omar Aziz.

Durante os últimos seis meses, o senador presidiu a comissão de inquérito. Não foi uma tarefa fácil, pois os parlamentares tiveram que lidar com uma tragédia de enormes proporções: O Brasil lamenta 600 mil mortes de Corona, e dificilmente há alguma família que não tenha perdido um parente. Omar Aziz não é diferente: em janeiro, o irmão do político morreu de covid-19. (...)

E assim aconteceu que o antes relativamente desconhecido senador Omar Aziz se tornou uma das personalidades políticas mais conhecidas de seu país. Ele tem 63 anos e é ativo na política há décadas: antes de se tornar senador, Aziz foi governador do estado do Amazonas e vice-prefeito de Manaus. (...)

A lista dos antigos cargos de Aziz é longa, assim como a lista dos partidos aos quais ele foi filiado. Se quiséssemos colocar isso de forma positiva, poderíamos dizer que Aziz é flexível em suas opiniões políticas. Os críticos, por outro lado, o acusam de ser um membro típico do chamado centrão, o grande bloco no Congresso brasileiro que muitas vezes é guiado mais por cargos do que por convicções políticas. De fato, existem alegações de corrupção contra Aziz e sua família. Por pouco tempo, sua esposa e alguns de seus irmãos chegaram a ficar presos. Aziz diz que as acusações são infundadas e que o julgamento ainda está em andamento.

Na comissão de inquérito parlamentar, Aziz estava entre os membros que inicialmente não eram completamente hostis ao presidente nem o apoiavam abertamente. No entanto, no decorrer das audiências, as discussões se tornaram cada vez mais acaloradas: Aziz chamou Bolsonaro de motoqueiro, que por sua vez chamou Aziz de anta. (...)

É improvável que a paz volte ao Brasil agora que a comissão parlamentar de inquérito apresentou seu relatório final: o número de novas infecções está caindo, mas a economia está se enfraquecendo, e no próximo ano haverá eleições. Omar Aziz terá um papel na luta pelos votos? Em todo caso, quase todos no país hoje conhecem seu nome.