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O Brasil na imprensa alemã (04/10)

4 de outubro de 2017

Entrevista com a ex-presidente Dilma Rousseff, a estátua de Frédéric Chopin no Rio e a teoria da evolução aplicada às lagartixas do Cerrado são destaques da semana.

A ex-presidente brasileira Dilma Rousseff
A ex-presidente brasileira Dilma RousseffFoto: Getty Images/AFP/Evaristo SA

ARD – Videoblog Tudo Bem Entrevista com Dilma Rousseff, 03/10/2017

Em seu videoblog Tudo Bem, o jornalista Michael Stocks, do estúdio da ARD no Rio de Janeiro, divulgou entrevista com a ex-presidente Dilma Rousseff.

"Criaram uma crise política", disse Dilma Rousseff, na entrevista. "Qual crise? Tirar o presidente sem crime de responsabilidade, mas também não perceber que havia uma deterioração do Parlamento brasileiro – que é o que permite que eles tenham os votos para tirar um presidente eleito com 54,5 milhões de votos sem crime de responsabilidade", afirmou.

"Eles [opositores de Dilma] perceberam, quando eu fui eleita pela segunda vez, que, pela democracia, pelos processos democráticos, eles não conseguiriam enquadrar o Brasil, social, econômica e geopoliticamente. E o que é que fizeram? Deram um golpe", disse Dilma.

Stocks afirma que o "jogo de pôquer" do poder brasileiro foi vencido por Michel Temer. "Ele deverá liderar o país até as eleições de 2018, apesar de suspeitas de corrupção. Gravações secretas seriam as provas disso", diz o correspondente. "Até agora, ele escapou de todos os processos de acusação."

"No Brasil, nós vamos ter uma série de trabalhos para fazer. O primeiro trabalho é uma eleição direta que legitime quem vá para a direção do país. Não pode tentar impedir que alguém participe da eleição se apressando a condená-lo – que é o caso que estão fazendo com o Lula", afirmou Dilma. "Quanto mais eles batem no Lula, quanto mais eles julgam o Lula por coisas absurdas, como por exemplo, por um tríplex que ele não tem, por um sítio que ele não possui, quanto mais isso, mais ele cresce nas pesquisas", avaliou a ex-presidente.

Stocks afirmou que "o tema de corrupção existe contra Lula e contra a senhora". "Como explica isso?", perguntou. Dilma disse estar acostumada com as acusações. "Eu não tenho conta no exterior, não recebi dinheiro... todo mundo sabia que não podiam conversar essas coisas comigo. Aliás, dizem que um dos motivos pelos quais eu recebi o impeachment é que eu era uma pessoa muito dura. A lei tem que ser usada para você combater malfeitos, para você condenar culpados e você inocentar as pessoas. Ela não pode ser usada como instrumento político. Você destrói sensivelmente, você tenta destruir, a idoneidade moral, cívica e cidadã da pessoa. É um processo de destruição tão grave, ou até mais, do que matar. Porque é tentar fazer com que você morra, com que você desapareça politicamente."

Süddeutsche Zeitung – Tomar banho com Chopin, 03/10/2017

"Nem os banhistas locais nem os turistas o consideram digno de um olhar ou de uma selfie. Nem mesmo quando entram na fila do vendedor de pipocas, cinco metros adiante. Apenas os cachorros parecem se dar conta da estátua de bronze do compositor polonês, urinando no seu pedestal.

Não deve ser uma ofensa muito grande aos cariocas afirmar que a maior parte deles não sabe o que Frédéric Chopin compunha. O que torna ainda mais urgente a seguinte pergunta: o que ele está fazendo numa das praias mais populares do Rio [a Praia Vermelha], como é que ele foi parar lá? A primeira impressão se confirma: por vários desvios no caminho.

No Brasil, país de imigrantes, vivem de 1,5 a 2 milhões de pessoas com raízes polonesas. A maioria dos antepassados migraram no século 19, mas durante o nacional-socialismo também houve uma grande onda de imigração. Com ela, o escultor August Zamoyski chegou ao país, vivendo no Rio entre 1939 e 1955. Depois que os nazistas atacaram a Polônia e destruíram o monumento a Chopin em Varsóvia (entre tantas outras obras), cariocas poloneses encomendaram uma cópia do busto a Zamoyski.

Em 1944, a estátua foi colocada num local pouco visível no bairro da Urca, antes de ser transportada para o centro e ficar em frente ao Teatro Municipal. Ali, o carrancudo Chopin de bronze viveu 15 carnavais, durante os quais era regularmente enfeitado com confete. Mas, em 1964, a alegria acabou. O barítono brasileiro Paulo Fortes iniciou uma campanha para salvar Antônio Carlos Gomes, que voltou a ser lembrado como o compositor romântico mais importante do Brasil, do esquecimento. Fortes tinha encontrado uma estátua de Gomes. Diz-se que ele contratou pessoalmente quatro homens para sequestrar Chopin durante uma ação noturna e substituí-lo com o bronze de Gomes, que está no local até hoje. O herói polonês desapareceu num depósito empoeirado durante algum tempo antes de os cariocas se apiedarem dele e o levarem de volta ao bairro da Urca – desta vez, diretamente para a praia."

Frankfurter Allgemeine Zeitung – Vantagem para 'bocudos', 29/09/2017

"A evolução é tida como um processo tão lento que a vida de um pesquisador não basta para observar mutações mensuráveis. Mas quando as condições de vida de uma espécie mudam drasticamente, as adaptações correspondentes se desenvolvem de forma surpreendentemente rápida. Um caso desses foi observado pelos cientistas liderados por Mariana Eloy de Amorim, da Universidade de Brasília (UnB), no centro do Brasil: em minúsculas ilhas de uma represa, onde vivem pequenas lagartixas, elas abocanham presas maiores e também se tornaram sensivelmente mais 'bocudas'.

As controversas ilhas surgiram após uma reconfiguração rigorosa da paisagem – justo na região do Cerrado, tida como local de alta biodiversidade. No final dos anos 1990, 1.700 quilômetros quadrados foram inundados para a construção da usina hidrelétrica da Serra da Mesa. A paisagem típica do Cerrado, incluindo a fauna e a flora locais, literalmente afundaram. Apenas pequenos montes foram poupados – e que agora despontam da água como ilhas. Muitas espécies foram extintas.

Porém, a lagartixa Gymnodactylus amarali conseguiu se manter. Incluindo o rabo, o réptil mede pouco mais de um dedo humano. A lagartixa, que também aparece com frequência na beira da represa, se alimenta preferencialmente de cupins. Em locais onde dividem o habitat com concorrentes maiores, as lagartixas são obrigadas a se contentarem com refeições menores, descartadas pelas outras espécies – o que não aconteceu nas novas ilhas. Segundo os relatos dos pesquisadores na Academia Nacional de Ciências dos Estados Unidos, os habitantes das ilhas comem cupins grandes com muito mais frequência que seus parentes na terra firme.

A capacidade de abocanhar grandes presas dessas lagartixas é limitada. Mas as lagartixas nas ilhas da represa possuem cabeças maiores e bocas mais largas em relação ao próprio corpo. A diferença de tamanho entre os habitantes das ilhas e da terra firme [as margens da represa] é pequena: uma média de 4%. Mas os pesquisadores chegaram à mesma conclusão nas cinco ilhas que foram incluídas no estudo: em comparação com cada uma das cinco populações de lagartixas de terra firme, as lagartixas das populações insulares tem cabeças mais avantajadas."

RK/ots

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