Inundações na Bahia e descaso de Bolsonaro, herança vazia das Olimpíadas de 2016 no Rio de Janeiro e morte de Lya Luft foram destaques da semana nos veículos alemães.
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Die Tageszeitung (TAZ) – "A maior catástrofe para a Bahia" (29/12/2021)
A bordo de jet-skis, os homens avançam velozmente por uma rua completamente inundada. Lá onde, há poucos dias, pedestres passeavam, só se veem os últimos andares das casas por cima da água. O vídeo foi rodado em Itabuna, cidade no sul do estado da Bahia. O Brasil vive as piores enchentes dos últimos 30 anos. O governador Rui Costa comparou a situação à de uma zona de guerra, referindo-se à "maior catástrofe na história da Bahia".
As chuvas torrenciais deixaram mais de 60 cidades inundadas. Segundo as autoridades, mais de 20 pessoas morreram nas enchentes, várias estão desaparecidas e dezenas de milhares perderam suas casas. As fortes chuvas também causaram deslizamentos. Muitos, brasileiros, a maioria das vezes pobres, moram em morros, em casas expostas às condições climáticas, sem nenhuma proteção. Duas barragens não suportaram os volumes de água e se romperam. Muitas outras podem não resistir à pressão.
Se as barragens realmente se romperem, há outro problema: o estado poderia perder as reservas de água, previstas para serem usadas nos meses de seca.
As enchentes recentes atingiram pesadamente o país assolado por crises. Nas redes sociais, internautas iniciaram campanhas de doação.
Representantes dos governos locais se deslocam pelas áreas inundadas com capas de chuva. O presidente Jair Bolsonaro sobrevoou a região uma vez, mas só após vários dias prometeu pagar auxílios emergenciais para as vítimas. Além disso, causou indignação por tirar férias e ser fotografado, bem-humorado, na praia.
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Frankfurter Allgemeine Zeitung (FAZ) – A herança suja das Olimpíadas (03/01/2022)
O portão não está trancado, e a casinha do vigia ao lado, abandonada. Aves de rapina famintas sobrevoam o Parque Olímpico na Barra da Tijuca. A promessa ao Rio de Janeiro tinha sido de paisagens em flor – naquele dia em que a cidade aos pés do Pão de Açúcar finalmente renovou a esperança de sair do aparente eterno círculo vicioso de pobreza e falta de perspectivas.
Esse dia já passou há mais de 12 anos. Foi num dia em outubro de 2009 que a metrópole brasileira conquistou o direito de sediar os Jogos Olímpicos de 2016.
Para o Brasil e para o Rio, a Copa do Mundo de futebol (2014) e as Olimpíadas deveriam ser a entrada para a elite mundial política e urbana. E, para Lula, um memorial político. O sonho foi alimentado pelas enormes descobertas de petróleo no litoral do país, uma indústria agrícola engordada por imensas conquistas de áreas de cultivo conseguidas pelo desmatamento durante anos e por um inescrupuloso setor da construção. Na época, o crescimento econômico baseado em fontes de energia fósseis e agricultura altamente industrial ainda eram aceitos internacionalmente. O sonho de Lula de chegar à elite foi um histórico erro de cálculo – do ponto de vista econômico, político e esportivo.
O que ficou da Copa e dos Jogos Olímpicos foram uma montanha de dívidas e complexos esportivos e estádios superdimensionados que prometiam um uso sustentável – algo não verdadeiramente realizado até hoje. O Parque Olímpico na Barra da Tijuca emana o charme de um vilarejo fantasma abandonado, uma atmosfera que não se deve apenas à falta de eventos pela pandemia do coronavírus. As esperanças olímpicas do Rio de 2009 não deram em nada – com exceção de algumas melhorias na infraestrutura de trânsito, como uma ampliação parcial do metrô.
O pior, porém, é a perda da confiança na política brasileira por causa dos grandes eventos administrados de forma catastrófica – o que, em última instância, contribuiu para empurrar a população indignada para os braços do populista de direita Jair Bolsonaro.
Der Spiegel – Morre Lya Luft (30/12/2021)
A escritora e tradutora Lya Luft, brasileira de origem alemã, morreu na sexta-feira na cidade de Porto Alegre, aos 83 anos, em consequência de um câncer de pele, conforme divulgou a editora Record.
[...] Luft nasceu na cidade de Santa Cruz do Sul, no sul do Brasil e marcada pela imigração alemã, em 1938. Publicou diversos romances e livros de outros gêneros, iniciando a carreira com uma coleção de poemas em 1964. Algumas de suas obras foram traduzidas para o alemão e para outras línguas, como As parceiras [1980, lançado na Alemanha em 1984 sob o título Die Frau auf der Klippe]. Além disso, ela mesma traduzia para o português obras do alemão e do inglês – incluindo publicações de Rainer Maria Rilke, Thomas Mann e Virginia Woolf.
Segundo dados da editora Record, Luft fazia parte dos escritores e escritoras mais queridos do país sul-americano neste século.
rk (OTS)
O poder de destruição da natureza
Água, vento, fogo ou gelo: grandes desastres naturais causam mortes por todo mundo, afetando a vida de milhões de pessoas. Confira algumas das catástrofes naturais registradas no último século.
Foto: Getty Images/AFP/J. Barret
Enchente na China em 1931 pode ter matado até 4 milhões de pessoas
Em 1931, a cheia dos rios Amarelo, Pérolas, Yangtzé e Huai devastou parte da China. A enchente, que durou de julho a novembro, inundou mais de 88 mil km² e deixou outros 21 mil km² parcialmente inundados. Não há registro exato do número de mortos, mas estima-se que de 1 milhão a 4 milhões de pessoas morreram em decorrência da tragédia e de seus efeitos secundários, como a fome.
Foto: picture-alliance/AP Images
Por falta de aviso à população, ciclone mata pelo menos 300 mil em Bangladesh
Em novembro de 1970, o Paquistão Oriental (atual Bangladesh) esteve no caminho do ciclone Bhola. Meteorologistas disseram ter previsto a tempestade, mas que não havia meios de comunicar o risco à população. Como resultado, ao menos 300 mil pessoas morreram – algumas estimativas chegam a meio milhão de mortes. Em 1991, Bangladesh foi atingido por outro ciclone, que deixou cerca de 138 mil mortos.
Foto: Getty Images
Terremoto acaba com cidade na China
A cidade industrial de Tangshan, na China, foi arrasada por um terremoto de magnitude 7,6 em 28 de julho de 1976. Em minutos, a cidade praticamente deixou de existir, com o colapso da maioria dos prédios. O abalo sísmico matou 242 mil pessoas, segundo o governo chinês – o recorde entre os terremotos ocorridos no século 20.
Foto: Imago/Xinhua
Erupção riscou cidade colombiana do mapa
O vulcão Nevado del Ruiz, na Cordilheira dos Andes, riscou do mapa a cidade de Armero, em 13 de novembro de 1985, na Colômbia. Uma erupção provocou um degelo, formando uma avalanche de lama e cinza vulcânica que atingiu um raio de 100 km, matando mais de 23 mil pessoas, entre elas, Omayra Sánchez, de 12 anos, que agonizou por 60 horas em frente às lentes do mundo todo sem possibilidade de resgate.
Foto: AP
Diretor de cinema e equipe soterrados por avalanche
Uma avalanche acima do povoado de Nizhny Karmadon, na Rússia, deixou 127 mortos em 20 de setembro de 2002 – entre eles o ator e diretor russo Serguei Bodrov Jr. e a equipe de 24 pessoas que filmavam no local no momento do desastre. Acredita-se que a tragédia tenha sido causada por um pedaço de uma geleira que se soltou das montanhas do Cáucaso e rolou em direção ao vilarejo.
Foto: AP
Mais de 230 mil mortes um dia depois do Natal
Em 26 de dezembro de 2004, um maremoto no Oceano Índico com intensidade 9.1 na escala Richter causou ondas de até 30 metros de altura, que devastaram regiões de 13 países, deixando quase dois milhões de desabrigados e ao menos 230 mil mortos. Somente na província indonésia de Acé morreram 170 mil pessoas.
Foto: Pornchai Kittiwongsakul/AFP/Getty Images
Furacão rompe barragens e deixa cidade debaixo da água nos EUA
Um dos furacões mais conhecidos da história dos Estados Unidos teve efeitos devastadores em Nova Orleans, na Luisiana. Ocorrido em 2005, o Katrina matou cerca de 1.800 pessoas, fez com que 250 mil perdessem suas casas e provocou danos estimados em cerca de 108 bilhões de dólares. Barragens se romperam, deixando 80% da cidade debaixo da água e arrancando até mesmo caixões das sepulturas.
Foto: AP
Ciclone devasta Myanmar e deixa pelo menos 140 mil mortos
O ciclone Nargis afetou, entre outros países, Índia, Sri Lanka, Laos, Bangladesh e, principalmente, Myanmar com sua fúria de categoria 4, em 2 de maio de 2008. Estatísticas apontam que 140 mil pessoas morreram, mas o número real pode ser próximo de um milhão de vítimas.
Foto: IFRC/dpa/picture alliance
Um terço da população afetada por terremoto no Haiti
Não bastasse ser o país mais pobre da América, em 12 de janeiro de 2010 um terremoto de magnitude 7 na escala Richter destruiu a capital do Haiti, Porto Príncipe, deixando cerca de 220 mil mortos e 1 milhão de desabrigados. Entre as vítimas estava a fundadora da Pastoral da Criança, Zilda Arns. Estima-se que 3 milhões de pessoas, quase um terço da população, tenham sido afetadas.
Foto: C. Somodevilla/Getty Images
Enxurrada e deslizamentos matam mais de 900 no Rio de Janeiro
O Brasil não costuma ser assolado por desastres naturais como terremotos e tsunamis. Porém, entre 11 e 12 de janeiro de 2011, uma sequência de chuvas fortes atingiu a região serrana do Rio de Janeiro, causando uma grande enxurrada e vários deslizamentos de terra, com soterramento de casas. O desastre provocou mais de 900 mortes em sete cidades e afetou mais de 300 mil pessoas.
Foto: AP
Tsunami provoca derretimento de reatores e acidente nuclear no Japão
Em 11 de março de 2011, um terremoto de magnitude 9 seguido de um tsunami causou danos devastadores no Japão. A catástrofe matou pelo menos 16 mil pessoas. Na usina nuclear de Fukushima, os núcleos de três dos seis reatores derreteram, causando o pior acidente atômico desde Chernobyl, em 1986. O tsunami fez com que quase 300 espécies marinhas viajassem através do Pacífico até o litoral dos EUA.
Foto: AP
Dezenas de mortos cercados pelo fogo em estrada de Portugal
Uma onda de calor causou vários incêndios em Portugal em junho de 2017. Ao menos 61 pessoas morreram e dezenas ficaram feridas em um deles, que atingiu a vila de Pedrógão Grande. Corpos de 30 pessoas foram encontrados dentro de veículos, em uma estrada que foi cercada pelo fogo. Mais de 800 bombeiros trabalharam para extinguir as chamas, com a ajuda de cinco aviões.
Foto: Reuters/R. Marchante
Onda de calor deixa 70 mil mortos na Europa
Embora os brasileiros estejam acostumas e preparados para temperaturas que frequentemente chegam a 40°C, a Europa não costumava, até alguns anos, enfrentar esse tipo de problema. Mas uma onda de calor atingiu o continente no verão de 2003, provocando a morte de cerca de 70 mil pessoas – na Alemanha foram 7 mil mortes. Na foto acima, o rio Reno em Düsseldorf.