Jornais alemães destacam início da transição, com definição de ministérios e planos para o governo de Jair Bolsonaro, e dão peso especial à possível política externa do presidente eleito.
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Frankfurter Allgemeine Zeitung – O novo amigo de Trump, 07/11/2018
Os apoiadores de Jair Bolsonaro celebram a aproximação diplomática a Trump como um golpe de libertação da "política externa ideológica" do Brasil sob o ex-presidente de esquerda Luiz Inácio Lula da Silva. Na época, o Brasil ampliou suas relações com países na África e no mundo árabe. Entre os novos parceiros estão países como o Irã, a Arábia Saudita ou a Líbia, com os quais o Brasil quase não tinha relações. Hoje em dia, alguns desses países são destinos importantes das exportações brasileiras.
O Egito, por exemplo, importou mercadorias brasileiras no valor de 1,5 bilhão de dólares nos primeiros nove meses deste ano. O conjunto de países do Oriente Médio, além disso, compõe o segundo maior mercado para as exportações de carne brasileiras. Israel, em comparação, é um mercado insignificante.
Se Bolsonaro quiser romper as relações do Brasil com todos os "comunistas", enfrentará um problema bem diferente: a China. Nos últimos anos, Pequim se tornou o parceiro comercial mais importante do Brsail. Os chineses não são apenas os principais compradores das matérias-primas brasileiras, mas um dos maiores investidores no Brasil e no resto da América Latina. A visita de Bolsonaro a Taiwan, em março último, fez Pequim ficar de orelha em pé.
É evidente que ele quer se alinhar a Trump a todo custo na política externa. Assim como Trump, ele também vê seu país como um bastião do Ocidente cristão. É previsível que o presidente americano se deixará fotografar em breve com Bolsonaro, declarando-o seu novo melhor amigo. Mas o Brasil não tem muito mais em comum com os Estados Unidos. Pelo contrário: Washington faz suas contas sem o Brasil. Especialmente do ponto de vista econômico, os dois países concorrem em muitas frentes. Reforçar a cooperação é concebível no máximo no setor da segurança, do combate ao crime organizado e ao tráfico de drogas.
O petróleo brasileiro também poderia ser interessante do ponto de vista dos americanos.
Será decisiva a personalidade do futuro ministro das Relações Exteriores, com cuja nomeação Bolsonaro ainda espera. O Itamaraty é tido como um ministério com regras próprias e uma hierarquia severa. Para alguém de fora ou um diplomata de baixo escalão, poderia ficar difícil empregar o Itamaraty para as ideias de Bolsonaro.
Süddeutsche Zeitung – Os controversos superministros de Bolsonaro, 06/11/2018
Segundo o jornal Folha de S. Paulo, a nomeação do juiz Sergio Moro a ministro da Justiça de Bolsonaro destruiu a imagem das investigações contra a corrupção no âmbito do escândalo da Lava Jato. Moro conseguiu a condenação do ex-presidente Lula a uma longa pena de prisão, o que, aos poucos, parece um complô, e não apenas aos olhos da Folha, nada esquerdista: um juiz coloca na cadeia o candidato de esquerda com maior potencial de ganhar a eleição, com base em indícios magros; a imagem do Partido dos Trabalhadores, de Lula, é demolida; o deputado de extrema direita Jair Bolsonaro se projeta como faxineiro e vence a eleição – e transforma exatamente aquele juiz não só em ministro da Justiça, mas numa espécie de superministro. Moro também terá sob sua batuta a ordem pública, a maior preocupação da maior parte dos brasileiros diante das taxas recorde de criminalidade do país.
A política social de combate à pobreza também não deverá ter chances sob Bolsonaro, o que evidencia a indicação de Paulo Guedes a superministro para Economia e Finanças: o economista politicamente inexperiente e liberal quer privatizar e eliminar barreiras de importação com as quais os governos passados tentaram fortalecer a indústria brasileira. Guedes aposta no livre comércio, o que deverá deixar felizes especialmente os chineses, principais importadores das matérias-primas do Brasil.
A eleição de Bolsonaro desencadeou medo especialmente entre a comunidade LGBT. A Folha relata uma onda de casamentos entre homossexuais que temem que o novo governo retire regulamentos liberais: o casamento gay não é uma lei, apenas um direito garantido pela Justiça. A informação de que o senador e pastor evangélico ultrarreacionário Magno Malta poderia se tornar ministro da Família causou inquietação.
Der Tagesspiegel – A semana do demagogo, 04/11/2018
Meu governo deverá ser diferente – foi isso que Jair Bolsonaro deixou claro durante sua primeira entrevista coletiva à imprensa. O futuro presidente do Brasil deu essa coletiva atrás de uma prancha de surfe sobre a qual os repórteres colocaram seus microfones.
Mais uma coisa é diferente: jornalistas de veículos impressos não puderam participar da coletiva e ficaram perplexos diante do acesso à casa de Bolsonaro. Seu assessor culpou questões de espaço, e o próprio Bolsonaro diz que não tomou a decisão.
Mas é um sinal claro do populista de direita: vou me comunicar, assim como Donald Trump, pelas redes sociais e pela televisão. A atitude também tem ares de alerta. Quem me criticar será cortado. Anteriormente, Bolsonaro havia indicado que o jornal Folha de S. Paulo não receberia mais anúncios de empresas estatais, como os Correios ou alguns bancos. Para muitos jornais brasileiros, esses anúncios são vitais. A Folha de S. Paulo havia publicado várias reportagens sobre Bolsonaro, antes da eleição, que prejudicaram sua imagem de faxineiro.
RK/ots
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Treze candidatos se apresentaram para disputar o Planalto. O líder das pesquisas acabou fora da corrida, e vários nomes tentam contornar isolamento partidário. Veja os principais episódios da disputa.
Foto: Reuters/A. Machado
Bolsonaro é eleito presidente
Em segundo turno, os brasileiros elegeram Jair Bolsonaro (PSL) como presidente. Após uma campanha eleitoral polarizada, o militar reformado de extrema direita recebeu 55,13% dos votos, contra 44,87% de Fernando Haddad (PT). Com bandeiras do Brasil e vestidos nas cores verde e amarelo, eleitores comemoram pelo país. No discurso da vitória, Bolsonaro prometeu um governo constitucional e democrático.
Foto: picture-alliance/AP Photo/S.Izquierdo
TSE abre investigação contra Bolsonaro
A pouco mais de uma semana do segundo turno, o Tribunal Superior Eleitoral abriu uma ação para investigar suspeitas de compra de disparos de mensagens antipetistas no WhatsApp por parte de empresários aliados a Bolsonaro. O pedido de investigação foi feito pelo PT, após uma reportagem do jornal "Folha de S. Paulo". A PF também abriu inquérito para investigar a disseminação em massa de "fake news".
Foto: Reuters/R. Moraes
Bolsonaro e Haddad vão ao segundo turno
Numa das eleições mais polarizadas da história, em 7 de outubro os brasileiros levaram ao segundo turno os dois candidatos que, segundo sondagens, são também os mais rejeitados: Bolsonaro (PSL) e Haddad (PT). Favorito no Sul e Sudeste, o ex-militar teve 46% dos votos válidos contra 29% do petista, que foi o mais votado em oito estados do Nordeste e no Pará. Em terceiro, Ciro Gomes (PDT) teve 12%.
Foto: Reuters/P. Whitaker/N. Doce
Bolsonaro cresce nas pesquisas
Já líder nas pesquisas, o candidato do PSL ampliou sua vantagem no início de outubro, ultrapassando pela primeira vez a marca de 30% em sondagens do Ibope e do Datafolha. Ao longo da semana que antecedeu as eleições, o ex-capitão foi subindo e, na véspera do pleito, cruzou a barreira de 40% dos votos válidos. Após ser esfaqueado, a campanha do candidato se concentrou nas redes sociais.
Foto: Reuters/P. Whitaker
A troca de Lula por Haddad
Após meses de suspense e com aval de Lula, Fernando Haddad foi oficializado candidato à Presidência pelo PT em 11 de setembro, a menos de um mês do primeiro turno, após se esgotarem as chances de o ex-presidente concorrer. Preso e virtualmente inelegível pela Ficha Limpa, Lula era líder nas pesquisas de intenção de voto. O desafio agora será transferir votos para o ex-prefeito.
Foto: Agencia Brasil/R. Rosa
Ataque a Bolsonaro
O candidato do PSL foi esfaqueado durante um ato de campanha em Juiz de Fora, um ataque que prometia mudar os rumos da corrida presidencial. Seus adversários condenaram a agressão, e alguns chegaram a mudar o tom da campanha. Não houve, contudo, um impacto decisivo sobre o eleitorado. Ele segue líder das intenções, mas com percentual praticamente igual. A rejeição a ele, por outro lado, aumentou.
Foto: picture-alliance/dpa/Agencia O Globo/A. Scorza
O "plano B" do PT
Com Lula virtualmente inelegível, a escolha do seu vice passou a ser encarada como um trampolim para um candidato substituto. No início de agosto, o PT acabou indicando Fernando Haddad, que desde o início do ano era cotado como "plano B". Manuela D'Ávila (PCdoB) ficou com a curiosa posição não oficial de "vice do vice", assumindo a posição com Lula candidato ou não.
Foto: Agência Brasil/F.Rodrigues Pozzebom
A novela dos vices
A fase de convenções começou no fim de julho sem que a maioria dos pré-candidatos tivesse um vice. Bolsonaro teve três convites recusados até fechar com o general Mourão (PRTB). Henrique Meirelles (MDB) e Ciro Gomes (PDT) se contentaram com nomes do próprio partido. Alckmin teve convite recusado pelo empresário Josué Alencar, cuja família é ligada a Lula, antes de optar por Ana Amélia (PR).
Foto: Agência Brasil/F.Frazão
Os candidatos isolados
A jogada de Alckmin com o "centrão" acabou isolando outros candidatos. Jair Bolsonaro (PSL) tentou negociar com o PR, mas teve que se contentar com o nanico PRTB. Ciro Gomes (PDT) também viu suas investidas no grupo naufragarem. Marina Silva (Rede) e Ciro também não conseguiram apoio do PSB, que ficou neutro numa manobra do PT. Os três terminaram a fase de convenções com pouco apoio e tempo de TV.
Alckmin fecha com o "centrão"
Em julho, o tucano Geraldo Alckmin ainda patinava nas pesquisas, mas criou um fato novo na campanha ao conseguir o apoio do "centrão", as siglas que costumam emprestar seu apoio a governos em troca de cargos e verbas. Ao se aliar com PR, PP, PSD, DEM e SD, Alckmin passou a dominar 44% da propaganda eleitoral na TV. Sua coligação também recebe 48% do novo fundo de campanhas.
Foto: Getty Images/AFP/E. Sa
Candidaturas descartadas
A eleição de 2018 parecia destinada a superar o número de candidatos de 1989, quando 22 disputaram. Em abril, 23 manifestavam interesse em concorrer, entre eles o presidente Michel Temer, o presidente da Câmara, Rodrigo Maia, e o ex-presidente Fernando Collor. Mas eles logo desistiram ou foram abandonados por seus partidos. Outros aceitaram ser vices. Em agosto, só 13 permaneciam na corrida.
Foto: Marcelo Camargo/Agência Brasil
Os "outsiders" saem de cena
A possibilidade de Lula ficar de fora e o sentimento antipolítico entre a população sinalizavam que esta seria a eleição dos "outsiders". O ex-ministro do Supremo Joaquim Barbosa e o apresentador Luciano Huck chegaram a ser incluídos em pesquisas. O empresário Flávio Rocha anunciou candidatura. Em julho, todos já haviam desistido, e a disputa ficou restrita a velhos nomes da política.
Foto: Imago/ZUMA Press/M. Chello
Lula é condenado e preso
Quando anunciou, em 2016, a intenção de disputar a eleição, Lula se tornou o líder nas pesquisas. Em janeiro, porém, sua situação se complicou após uma condenação em segunda instância que o deixou virtualmente inelegível. Em abril, foi preso. Com a possibilidade de a candidatura ser barrada, o PT passou a ter dificuldades em formar alianças, e o desfecho do pleito ficou ainda mais imprevisível.
Foto: Reuters/L. Benassatto
Entra em cena o fundo de campanhas
Diante da proibição das doações por empresas, o Congresso criou em outubro de 2017 um novo fundo de R$ 1,7 bilhão para financiar candidaturas, já definindo a capacidade financeira de várias campanhas. Quase 60% do valor ficou concentrado em seis legendas: MDB, PT, PSDB, PP, PSB e PR, deixando candidatos à Presidência de pequenas e médias siglas com menos recursos na largada.