Em podcast e edições impressas, jornais alemães repercutem semelhanças entre Trump e Bolsonaro. Governo voltado para classe média alta brasileira e figura controversa de Sérgio Moro também foram destaque.
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Süddeutsche Zeitung – Irmãos de alma, 04/01/2019
"O populista Donald Trump e o extremista de direita Jair Bolsonaro têm tom e estilo semelhantes. Com métodos parecidos, conseguiram conquistar os cargos políticos mais altos no Brasil e nos Estados Unidos. E, como presidentes da segunda e da quarta democracia do mundo, perseguem projetos semelhantes e com potencial de ameaçar justamente a democracia.
Trump e Bolsonaro, os dois foram inicialmente subestimados de forma completamente grotesca. Quando tornaram públicas suas ambições à presidência, foram vistos como palhaços políticos que não deveriam ser levados a sério. Quando subiram nas pesquisas, dizia-se que seriam derrotados no máximo no segundo turno. Mas escapou a muitos observadores o fato de que Trump e Bolsonaro conseguiram incendiar um ânimo que os levou até a presidência. Os dois se apresentaram como outsiders que romperiam com as estruturas políticas, acabariam com a corrupção e a paralisia e que estimulariam a economia – projetando-se como aqueles que finalmente entregariam resultados.
Mas, naturalmente, esses resultados não são os mesmos para todos. Assim como Trump, nove anos mais velho, Bolsonaro, de 63 anos, reverencia o nacionalismo. 'O Brasil não pode ser um país de fronteiras abertas', disse Bolsonaro diante dos muitos refugiados venezuelanos, soando de forma muito parecida com Trump quando ele falou dos imigrantes na fronteira sul dos Estados Unidos. Seu programa de governo diz 'Brasil acima de tudo', o que não passa de uma variação do lema 'America First'.
Outra semelhança: supostamente, tanto Trump quanto Bolsonaro tiveram apoio ilegal durante a campanha eleitoral. O chamado escândalo da Rússia nos EUA encontra seu equivalente brasileiro num escândalo envolvendo o serviço de mensagens WhatsApp. Segundo o jornal Folha de S. Paulo, diversas empresas teriam ajudado a financiar secretamente uma campanha de difamação contra o adversário de Bolsonaro no segundo turno. Foram disseminadas milhões de notícias falsas.
Lembrando que, segundo a perspectiva dos dois presidentes, a imprensa tradicional é a responsável pelas chamadas fake news."
Podcast 'Was Jetzt?' (Die Zeit) – A nova luta de classes do Brasil, 04/01/2019
"É preciso dizer que o clima no Rio de Janeiro está muito bom, este é o bastião do bolsonarismo e de Jair Bolsonaro, que vive aqui com sua família e tem muitos apoiadores. No sul da cidade, vivem muitos membros da classe média alta e das elites do país, para os quais Bolsonaro faz uma política forte.
É uma política para as classes médias altas, que se sentem fortemente negligenciadas pela política dos últimos 15 a 20 anos, quando classes mais baixas passaram a ser mais integradas à sociedade. É em parte um clichê: essas pessoas (de classe média alta) reclamaram, por muito tempo, de não conseguirem mais encontrar empregados ou empregadas domésticas porque as pessoas que antigamente eram pobres e que costumavam trabalhar por muito pouco dinheiro agora têm mais reivindicações e obtiveram mais direitos. Isso fez com que a raiva se acumulasse entre os mais ricos. Não digo que seja o único fenômeno que se pode observar por aqui, mas é uma parte importante, é uma espécie de luta de classes que aconteceu por aqui."
Frankfurter Allgemeine Zeitung – Herói popular ou traidor?, 04/01/2019
"Para muitos brasileiros, ele é um herói popular. Para muitos outros, um golpista e traidor. De qualquer forma, o ex-juiz federal Sérgio Moro é uma das figuras centrais do governo do novo presidente populista de direita Jair Bolsonaro. Moro assume o Ministério da Justiça e Segurança Pública, cujas atribuições foram largamente ampliadas e que também assumirá funções do extinto Ministério do Trabalho. Além disso, Moro será responsável pelo controle de transações financeiras e também pela defesa do consumidor e pela regulação da concorrência.
Por muito tempo, Moro garantiu que não ambicionava uma carreira política e que, com suas investigações e julgamentos, não perseguia nenhum outro objetivo além do combate à corrupção. Contudo, é difícil acreditar nisso. Pelo menos na história recente do Brasil, Moro atuou extrapolando suas competências para influenciar decididamente o curso das coisas. Um exemplo foi quando ele decidiu pela condução coercitiva bastante mediatizada do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva para depor. Na ocasião, Lula foi surpreendido pela ação, mas a imprensa foi informada antecipadamente. (...)
Muitos de seus admiradores também estão decepcionados com a passagem definitiva do juiz para a política. Mas, para muitos outros brasileiros, Moro é agora uma nova esperança. Ninguém representa a esperança e a expectativa de que algo mude para melhor no Brasil como Moro. Alguns observadores consideram Moro o ministro mais poderoso na equipe de Bolsonaro, até mais poderoso do que o ministro da Economia, Paulo Guedes. A luta contra a corrupção e outros crimes foi um dos temas centrais na campanha eleitoral de Bolsonaro, bem mais significativa do que a política econômica. Sem dúvida, Moro teria sido um forte candidato a presidente em 2018. Agora, ele, que tem 46 anos, poderia ser um dos principais aspirantes a sucessor de Bolsonaro, contanto que possa coroar seu trabalho de superministro com sucesso."
RK/ots
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Com diplomação, presidente eleito conclui primeira fase da transição e já tem o gabinete formado. Durante a campanha, ele prometeu reduzir número de ministros de 29 para 15, mas acabou com 22. Veja quem são.
Foto: picture-alliance/AP Images/L. Correa
Redução modesta
Durante a campanha, Jair Bolsonaro prometeu reduzir o número de ministérios de 29 para 15. Mas, durante a transição, o presidente voltou atrás e promoveu uma redução bem menor do que a prometida. Ao todo, há 22 pastas no novo governo. Entre os ministros, há filiados do DEM, PSL e MDB, além de dez com laços militares, dois discípulos de Olavo de Carvalho e apenas duas mulheres.
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Paulo Guedes
Guru econômico e ministro anunciado ainda durante a campanha, Paulo Guedes comanda o superministério da Economia, formado pela junção das pastas da Fazenda, do Planejamento e da Indústria e Comércio Exterior. O economista é investigado pelo Ministério Público Federal (MPF), suspeito de ter cometido fraudes na captação de recursos de fundos de pensão de estatais entre 2009 e 2013.
Foto: AFP/Getty Images
Onyx Lorenzoni
Deputado federal do DEM, Onyx Lorenzoni articulou a campanha de Bolsonaro desde 2017 e foi indicado para assumir a Casa Civil. Em sua carreira política, já foi deputado estadual no Rio Grande do Sul e, desde 2003, tem mandatos na Câmara. Após ser citado na delação da JBS, ele admitiu ter recebido caixa dois de campanha, e está sendo investigado pela Procuradoria-Geral da República.
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Sérgio Moro
Juiz federal que foi responsável pela Lava Jato em primeira instância, Sérgio Moro comandará o Ministério da Justiça. Seu decisão de entrar para a política causou polêmica. Foi ele quem condenou Lula pela primeira vez em 2017, o que marcou o início dos problemas do ex-presidente em registrar sua nova candidatura ao Planalto em 2018. Fato que ajudou Bolsonaro a assumir a liderança nas pesquisas.
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Marcos Pontes
Astronauta que chegou a ser cotado para vice da chapa do PSL, Marcos Pontes chefiará o Ministério da Ciência Tecnologia. Formado em engenharia aeronáutica pelo Instituto Tecnológico de Aeronáutica, Pontes se tornou o primeiro astronauta brasileiro da história e foi enviado ao espaço pela Missão Centenário, em 2006, durante o governo do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Ele é filiado ao PSL.
A deputada federal Tereza Cristina (DEM) comandará o Ministério da Agricultura. Engenharia agrônoma e empresária, Tereza Cristina foi presidente da Frente Parlamentar da Agropecuária e indicada pela bancada ruralista para o cargo. Ela defende a aprovação do projeto lei que flexibiliza as regras para a fiscalização e aplicação de agrotóxicos no país.
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Ernesto Araújo
Diplomata de carreira, Ernesto Araújo assumirá o Ministério das Relações Exteriores. Discípulo de Olavo de Carvalho, ele atuou no Itamaraty em várias áreas, porém, nunca chefiou uma embaixada. Araújo mantinha um blog no qual fez campanha para Bolsonaro, chamou o PT de "Partido Terrorista" e disse querer libertar o mundo da "ideologia globalista". Admira Donald Trump e nega o aquecimento global.
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Luiz Henrique Mandetta
Deputado federal do DEM (MS), Luiz Henrique Mandetta ficou com o comando do Ministério da Saúde. Médico ortopedista e ligado a Lorenzoni, ele era crítico do Programa Mais Médicos. Entre 2005 e 2010, Mandetta foi secretário municipal de saúde de Campo Grande. A passagem pelo cargo lhe rendeu um inquérito por suspeita de fraude em licitação, tráfico de influência e caixa dois.
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Fernando Azevedo e Silva
O general da reserva Fernando Azevedo e Silva foi escolhido para o Ministério da Defesa. Natural do Rio, ele deixou o Alto Comando do Exército em 2018 e passou a assessorar o presidente do STF, Dias Toffoli. Azevedo e Silva foi chefe do Estado-Maior do Exército e comandante da Brigada Paraquedista, onde serviu ao lado de Bolsonaro. Chefiou ainda operações na Missão de Paz da ONU no Haiti.
Foto: Tomaz Silva/Agência Brasil
Ricardo Vélez Rodríguez
Escolha do colombiano antipetista Ricardo Vélez Rodríguez para assumir o Ministério da Educação foi indicação de Olavo de Carvalho. Nascido em Bogotá e naturalizado brasileiro, Vélez Rodríguez é formado em filosofia e mostrou apoiar várias das bandeiras defendidas por Bolsonaro, como a expansão de escolas militares no país e o combate a uma suposta predominância de ideias esquerdistas no ensino.
Foto: Agência Brasil
Tarcísio Gomes de Freitas
O ex-diretor do Dnit Tarcísio Gomes de Freitas chefiará o novo Ministério da Infraestrutura, que deve englobar a atual pasta de Transportes, Portos e Aviação Civil. No governo Temer, Freitas foi secretário de Coordenação de Projetos do Programa de Parceria em Investimentos e consultor legislativo da Câmara dos Deputados. O engenheiro civil iniciou a carreira no Exército e atuou no Haiti.
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Gustavo Canuto
Servidor efetivo do Ministério do Planejamento, Gustavo Henrique Rigodanzo Canuto comandará o novo Ministério do Desenvolvimento Regional. Servidor sem filiação partidária, Canuto é formado em engenharia da computação e direito e já atuou na Secretaria Geral da Presidência da República, na Agência Nacional de Aviação Civil (Anac) e na Secretaria de Aviação Civil.
Foto: Fabio Rodrigues Pozzebom/Agência Brasil
Osmar Terra
Ex-ministro do governo Temer, Osmar Terra assumiu o novo Ministério da Cidadania e Ação Social. Médico, Terra é deputado federal pelo MDB desde 2001. Já foi prefeito de Santa Rosa (RS) e secretário de Saúde do RS. Terra poderá ser um dos ministros que trará dor de cabeça a Bolsonaro. O deputado apareceu na superplanilha da Odebrecht, que indicaria propinas pagas a políticos.
Foto: Viola Jr/Camara dos Deputados
Marcelo Álvaro Antônio
Deputado do PSL Marcelo Álvaro Antônio assumirá o Ministério do Turismo. Integrante da frente parlamentar evangélica, ele foi o candidato mais votado em Minas Gerais, reeleito para o segundo mandato neste ano. Antes de ser deputado, Antônio foi vereador de Belo Horizonte. Antônio é o segundo filiado do PSL escolhido por Bolsonaro para integrar seu governo.
Foto: Agência Brasil/Valter Campanato
Bento Costa Lima Leite de Albuquerque Júnior
O almirante Bento Costa Lima Leite de Albuquerque Júnior chefiará o Ministério de Minas e Energia. Ele atuou como diretor-geral de Desenvolvimento Nuclear e Tecnológico da Marinha, foi observador do Brasil na Força de Paz das Nações Unidas em Sarajevo, na Bósnia-Herzegovina, e comandante de submarinos.
Foto: Getty Images/AFP/H. Retamal
Damares Alves
Pastora evangélica e assessora do senador Magno Malta (PR), Damares Alves foi escolhida para chefiar o Ministério da Mulher, Família e Direitos Humanos. A advogada trabalha há mais de 20 anos no Congresso. Ela já declarou que a mulher nasceu para ser mãe, se posicionou contra o feminismo e políticas voltadas a diminuir a discriminação de homossexuais. É contra a legalização do aborto e das drogas.
Foto: Agência Brasil/V. Campanato
Ricardo de Aquino Salles
Advogado e criador do Endireita Brasil, Ricardo de Aquino Salles será o ministro do Meio Ambiente. Salles foi secretário estadual do Meio Ambiente no governo de Geraldo Alckmin. É réu por improbidade administrativa, acusado de esconder alterações em mapas do zoneamento ambiental do rio Tietê, numa ação que teria favorecido mineradoras. Foi ainda diretor da Sociedade Rural Brasileira.
Foto: Imago/Fotoarena
Ministérios dentro do Planalto
Além da Casa Civil, outros três ministérios funcionam dentro do Planalto. Ex-presidente do PSL e aliado próximo de Bolsonaro, Gustavo Bebianno será o chefe da Secretaria-Geral. O general reformado que comandou a Missão ONU para a Estabilização no Haiti Augusto Heleno ficou com o Gabinete de Segurança Institucional. Já o general Carlos Alberto dos Santos Cruz ficará com a Secretaria de Governo.
Foto: Getty Images/AFP/M. Pimentel
AGU e CGU
A Advocacia-Geral da União (AGU) ficará sob o comando do advogado André Luiz de Almeida Mendonça, que, ao longo da carreira, atuou em áreas de transparência e combate à corrupção. O Ministério da Transparência e Controladoria-Geral da União (CGU) continuará a ser chefiado por Wagner Rosário (foto). O servidor de carreira ocupa o cargo desde junho de 2017, indicado pelo ex-presidente Michel Temer.
Foto: Agência Brasil/Marcelo Camargo
Roberto Campos Neto
O chefia do Banco Central ficou com o economista Roberto Campos Neto, neto do ex-ministro do Planejamento Roberto Campos, que comandou a pasta entre 1964 e 1967, durante a ditadura militar. Próximo de Paulo Guedes, já atuou no banco Santader, no banco Bonzano Simonsen e na gestora de fundos Claritas.