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O Brasil na imprensa alemã (09/10)

9 de outubro de 2019

As queimadas na Amazônia e assuntos relacionados, como o acordo de livre-comércio UE-Mercosul e assassinatos de ambientalistas, indígenas e funcionários de instituições ambientais, foram destaques na mídia alemã.

Região de floresta queimada nas proximidades de Abunã, em Rondônia
Região de floresta queimada nas proximidades de Abunã, em RondôniaFoto: Getty Images/AFP/C. de Souza

Süddeutsche Zeitung – "Boom para os barões da carne bovina"

É o acordo comercial mais ambicioso que a União Europeia já fechou – e muito controverso. No verão europeu, Bruxelas e Mercosul concordaram em reduzir em 4 bilhões de euros por ano as tarifas alfandegárias. [...] Mas os críticos se queixam de que o tratado pode levar a mais queimadas na região amazônica do Brasil, país que é de longe o mais importante membro do Mercosul. A Comissão Europeia publicou agora um relatório parcial de um grupo de pesquisadores sobre as consequências econômicas, sociais e ecológicas do acordo. E os opositores veem suas preocupações confirmadas.

O estudo de 253 páginas prevê "um rápido aumento das importações de carne e mais emissões de gases de efeito estufa – o que era temido, mas, agora, os números estão disponíveis", afirma a eurodeputada verde alemã Anna Cavazzini, que faz parte do Comitê Comercial do Parlamento Europeu. O acordo, que entra em vigor no mínimo em 2022, permite que os países do Mercosul vendam 99 mil toneladas de carne bovina por ano à Europa a uma tarifa muito baixa. Isso não só incomoda as associações de agricultores da União Europeia, que temem mais concorrência, como também suscita preocupações entre os protetores do meio ambiente e do clima.

Afinal, em detrimento do clima, mais florestas poderiam ser desmatadas para novas pastagens no Brasil e os habitantes indígenas da floresta seriam expulsos. Muitos incêndios já estão ocorrendo na Amazônia, e o presidente brasileiro Jair Bolsonaro não está fazendo o suficiente para detê-los, segundo muitos críticos. O político conta com uma maior utilização econômica da floresta tropical. [...] Por outro lado, não há dúvida de que os barões da carne bovina do Brasil estão se beneficiando. As suas exportações para a Europa aumentam em até 78%.

Der Tagesspiegel – "A máfia da floresta tropical"

O assassino de Maxciel Pereira dos Santos disparou duas balas e elas atingiram a cabeça do funcionário da Funai. [...] Parece que Santos foi deliberadamente assassinado no início de setembro e a Funai fala de uma "morte por represália". [...] O caso de homicídio se encaixa numa tendência preocupante: no Brasil, ambientalistas, povos indígenas e seus aliados são cada vez mais alvos de ataques e ameaças.

A organização de direitos humanos Human Rights Watch publicou agora um relatório alertando para uma deterioração drástica da situação durante o mandato do presidente Jair Bolsonaro. Ele deixou claro que considera supérflua a proteção ambiental e indígena, pois eles entravariam o desenvolvimento econômico. Bolsonaro ataca frequentemente organizações ambientais como "instrumentos de potências estrangeiras" que visam os recursos naturais brasileiros.

Além disso, ele desacredita autoridades estatais como a Funai ou os institutos ambientais ICMBio e Ibama. Ele insultou esta última como uma "indústria de multas", colocou militares nos cargos de chefia e suspendeu suas ações punitivas contra infratores ambientais. [...] O sinal enviado pelo governo é inequívoco: sob Bolsonaro, os infratores ambientais podem contar com clemência e, até mesmo, apoio. Já as pessoas que se opõem aos infratores, por outro lado, vivem ainda mais perigosamente do que antes.” [...] O relatório da Human Rights Watch mostra que as máfias ambientais estão ramificadas e melhor organizadas do que parecem. Elas consistem em madeireiros, especuladores de terra, grandes proprietários de terra e criadores de gado. Eles também foram os responsáveis pelas dezenas de milhares de incêndios na bacia amazônica que chamaram a atenção das pessoas ao redor do mundo em agosto.

Der Tagesspiegel – Quem é o dono da Amazônia?

Ele se apresenta como o homem que finalmente está atento. Perante a ONU, em Nova York, Jair Bolsonaro assegurou: "O Brasil agora tem um presidente que se preocupa com aqueles que lá estavam antes da chegada dos portugueses em 1500." [...] Bolsonaro resistiu veemente à consternação mundial frente às queimadas na floresta tropical de seu país, onde milhares de hectares da Amazônia estavam em chamas. As queimadas devem abrir espaço para as plantações e o acesso aos recursos minerais, e nada seria mais legítimo do que isso, afirmou o populista em seu discurso em 24 de setembro, dirigido também aos seguidores de Greta Thunberg, que, no dia anterior, perante a ONU, havia gritado "como vocês se atrevem?"

As palavras de Bolsonaro ecoam não só entre os protetores do clima. Quando Emmanuel Macron pediu a proteção das florestas tropicais, Bolsonaro afirmou ao francês que o Brasil não é uma colônia. Bolsonaro defende suas preocupações de todas as formas e aprendeu também expressões comuns de Estudos Pós-coloniais e de Política Identitária para anunciar os seus sinais dos trópicos: aí vem o salvador dos indígenas e, aliás, da economia e dos piedosos do país. [...] As questões de direito internacional levantadas pelas afirmações do líder brasileiro são altamente complexas.

 Ele não está errado quando declara que pode cortar árvores à vontade e abrir caminho para o cultivo comercial em seu jardim. Não existe uma democracia mundial que possa regular. Uma ecoditadura internacional seria grotesca, política e praticamente impensável. [...] Quem é dono da terra e de seus recursos? [...] Estas questões ainda não estão suficientemente codificadas nos quadros jurídicos internacionais. O capítulo 7 da Carta das Nações Unidas regula as "medidas a tomar em caso de ameaça ou violação da paz e em caso de atos de agressão". [...] Se necessário, o Conselho de Segurança pode decidir intervir, por exemplo, quando um governo ataca minorias étnicas.

FC/ots

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