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O Brasil na imprensa alemã (10/06)

10 de junho de 2020

O colapso da economia brasileira em meio à pandemia, a resiliência dos apoiadores de Bolsonaro e as manifestações contra o governo na esteira dos protestos antirracismo mundiais estão entre os assuntos em destaque.

O presidente Jair Bolsonaro em cima de um cavalo em volta de apoiadores
"Violência policial contra negros já existia antes de Bolsonaro, mas suas declarações racistas acirram ainda mais o clima"Foto: Reuters/U. Marcelino

Handelsblatt – Brasil despenca: coronavírus e um presidente incapaz geram colapso econômico (09/06)

Em 10 anos, a economia do Brasil caiu do 6º lugar para o 12º. A renda média, que há seis anos era quase um décimo maior que a renda média global, deve estar quase 20% baixo dela até o final do ano, prevê a Economist Intelligence Unit. Segundo o renomado instituto econômico Ibre/FGV de São Paulo, o Brasil está agora apenas no 85º lugar entre 192 países em termos de renda per capita.

A derrocada é particularmente flagrante em comparação com a China: em 2016, a renda per capita (medida pelo poder de compra) era a mesma na China e no Brasil. Hoje, a do Brasil é 30% menor à dos chineses.

Esta é uma queda profunda – depois de uma ascensão meteórica. Lembrete: há dez anos, o Brasil estava prestes a superar a França como a quinta maior economia do mundo. Trinta milhões de brasileiros haviam ascendido à classe média.

Die Zeit – O presidente loucamente bem-sucedido (09/06)

Por que os brasileiros não derrubam seu presidente? Há semanas, circulam pelo mundo fotos de valas comuns no país sul-americano, o número de infecções pelo coronavírus está entre os mais altos do mundo. Mas Jair Bolsonaro, de 65 anos, aparece ostensivamente na multidão sem máscara protetora e apela para que as pessoas trabalhem e vão às compras. Uma "gripezinha", diz ele, e depois demitiu dois ministros da Saúde que não compartilhavam sua visão otimista.

Enquanto isso, o presidente e sua família também se tornaram foco de um número crescente de escândalos. A polícia está investigando: os casos envolvem corrupção, a proximidade dos filhos de Bolsonaro com organizações criminosas em sua base, o Rio de Janeiro, a propagação de propagandas mentirosas na internet e outros crimes. Para cada nova acusação que surge, as pessoas se perguntam o que ainda mantém esse homem no poder.

De fato, o número de críticos está crescendo. Neste fim de semana, milhares se manifestaram contra Bolsonaro, outros se inclinaram na janela para protestar, batendo em panelas e frigideiras. Em uma pesquisa recente realizada pelo instituto Datafolha, 52% dos entrevistados disseram acreditar que o presidente não consegue mais dar conta de suas funções oficiais.

Mas diante desses críticos também há um bloco fixo de seguidores de Bolsonaro. Cerca de 30% dos brasileiros apoiam sem hesitação o presidente, não importa o que ele esteja dizendo ou fazendo. Não lhes incomoda que ele ignore a crise de coronavírus e que ache mais importante que a economia não tenha seu curso perturbado. Os apoiadores também foram às ruas nos últimos dias. Eles agitaram bandeiras nacionais e gritaram aos passantes um caloroso "vá trabalhar!".

Berliner Zeitung – Bolsonaro: resistência se forma (08/06)

Nenhum outro país foi tão abalado pelos atuais protestos contra violência policial nos EUA como o Brasil. Por um lado, porque os tipos políticos Donald Trump e Jair Bolsonaro são muito semelhantes em termos de conteúdo e estilo, por outro lado, porque também existem os mesmos problemas estruturais de racismo e violência policial. Também no Brasil, os adolescentes afro-brasileiros são afetados pela violência policial com muito mais frequência do que os brancos. Frequentemente, adolescentes inocentes morrem em ações policiais por estarem na linha de tiro.

Isso já existia antes da gestão do presidente Bolsonaro, mas suas declarações racistas do passado acirram ainda mais o clima. O que Bolsonaro acha engraçado é recebido como humilhação pela população afro-brasileira. Recentemente ele perguntou a um funcionário afro-brasileiro próximo se ele queria continuar sendo seu escravo. Anos atrás, Bolsonaro respondeu à pergunta sobre o que aconteceria se um de seus filhos se apaixonasse por uma mulher negra, dizendo que isso não poderia acontecer porque seus filhos foram bem educados. Algo assim permanece na memória da parte da população que é estruturalmente desfavorecida e sofre repetidamente com o racismo.

Der Freitag – Provocação por princípio (10/06)

Politicamente, Bolsonaro se isolou através de seu gerenciamento da crise do coronavírus. A grande mídia reporta de forma crítica, a Justiça bloqueia regularmente suas propostas e agora o está até investigando. Pode-se pensar que Bolsonaro está cavando sua própria sepultura nesta crise. Depois de cada novo escândalo ouve-se: agora foi longe demais! Ele não pode sobreviver a isso! A queda é inevitável!

Mas há outra leitura: Bolsonaro pode até se beneficiar do caos. Seus constantes arroubos, provocações e performances bizarras seguem um sistema. Ele aperfeiçoa a encenação como nenhum outro. Uma hora dá entrevistas à imprensa vestindo camisa de time de futebol, outra hora faz flexões em frente ao palácio presidencial ou insulta com xingamentos oponentes políticos. "Quase todo mundo tem um tio como Bolsonaro", escreve a jornalista Eliane Brum. Os partidários do presidente o adoram por sua maneira direta e autêntica e o chamam de "mito". Na crise do coronavírus, o culto à personalidade se torna particularmente expressivo.

[...] Com seus rompantes frequentes, Bolsonaro consegue se colocar em cena à maneira de Trump, definir temas e se distrair de seus próprios erros. Pesquisas mostram que a rejeição de Bolsonaro está crescendo, e populares também estão saindo às ruas contra o governo. Mas suas taxas de aprovação são estáveis e em torno de 30% – não apesar, mas por causa dos escândalos.

MD/ots

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