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O Brasil na imprensa alemã (11/09)

11 de setembro de 2019

Publicações acusam Bolsonaro de promover a destruição da Amazônia para promover a agricultura e destacam boicotes de empresas ao Brasil. HQ censurada no Rio e entrevista do escritor Luiz Ruffato são destaques.

Fumaça de queimadas em Altamira, no estado do Pará
Fumaça de queimadas em Altamira, no estado do ParáFoto: Getty Images/AFP/J. Laet

Süddeutsche Zeitung – Prefeito do Rio teme uma HQ (09/09) 

Foi no início da tarde da última sexta-feira quando autoridades uniformizadas vasculharam os estandes da Bienal Internacional do Livro do Rio de Janeiro. Eles estavam procurando livros com conteúdo "inapropriado", especialmente uma edição da série de histórias em quadrinhos Vingadores – A cruzada das crianças. Nele, dois super-heróis homossexuais Wiccan e Hulkling se beijam, totalmente vestidos e de forma mais romântica do que erótica. No entanto, a cena foi provavelmente um choque para Marcelo Crivella, prefeito do Rio de Janeiro. Na quinta-feira, ele se dirigiu aos seus seguidores do Twitter num discurso em vídeo. Tais livros deveriam "estar em um plástico preto", explicou ele, com um aviso de que eles seriam um perigo para os jovens.

[...] No país sul-americano, o casamento entre pessoas do mesmo sexo é permitido há cerca de seis anos, então os livros não deveriam ser motivo de excitação, mas forças políticas ultraconservadoras estão avançando no Brasil. Entre eles está o presidente Jair Bolsonaro – que, de acordo com suas próprias declarações, preferiria ter um filho morto a um filho gay –, mas também o prefeito do Rio. Desde 1º de janeiro de 2017, ele é prefeito da metrópole do Pão de Açúcar. Ele deve esta posição sobretudo ao seu tio, Edir Macedo, ex-vendedor de bilhetes de loteria que fundou a Igreja Universal do Reino de Deus, uma das mais influentes igrejas pentecostais do Brasil, com estações de rádio, canais de televisão e editoras próprias. Há poucos dias, o presidente brasileiro apareceu publicamente ao lado do fundador da igreja, Edir Macedo.

Süddeutsche Zeitung – Protesto do comprador (06/09)

Parece um pouco hipócrita no início quando um gigante da moda como a H&M se levanta de repente para defender a Amazônia. Não se trata de proteger a natureza, mas, principalmente, de proteger seu próprio negócio. Graças ao "fast fashion", eles estão sempre lançando novas coleções em uma sucessão cada vez mais rápida. O preço é pago pelos trabalhadores dos países em desenvolvimento – e pelo meio ambiente.

No entanto, é verdade que a empresa sueca já não está disposta a comprar couro do Brasil em prol da Amazônia. Lá, 80% do desmatamento está ligado à pecuária. Onde outrora estavam árvores gigantes o gado está pastando agora. A sua carne acaba em pratos e em tigelas de Xangai a Sigmaringen [cidade no estado alemão de Baden-Württemberg], já o seu couro está em forma de bolsas ou sapatos masculinos em vitrines de todo o mundo. Só no ano passado, o Brasil exportou 1,4 bilhão de dólares em peles de animais – um bom negócio, que políticos em Brasília consideram muito mais importante do que a proteção dos povos indígenas ou do meio ambiente.

Argumentos como a biodiversidade ou aquecimento global não são ouvidos. Mas, quando se trata de ganhar dinheiro – ou melhor, de perder lucros devido a boicotes internacionais contra seus produtos –, Bolsonaro e seus ministros já não podem mais ignorar. E, assim, a indústria do vestuário poderia contribuir para que a proteção ambiental se tornasse muito elegante também no Brasil.

Frankfurter Allgemeine Zeitung (FAZ) – À sombra dos incêndios da Amazônia (11/09)

Nuvens negras de fumaça vêm surgindo da Amazônia há semanas – e estão estampando as imagens da mídia ocidental da região. A floresta tropical está queimando e o mundo está perdendo grandes partes de um de seus maiores tesouros naturais. No centro das atenções está o Brasil. O maior país da América do Sul dispõe de grandes partes da região amazônica, que é tão rica em espécies do que qualquer outra região do mundo. Além disso, a floresta tropical é de enorme importância como reservatório de carbono e estabilizador climático. A política questionável do presidente brasileiro, que promove a destruição da floresta tropical em favor da agricultura, causou horror internacional. Na sombra das nuvens de fumaça do Brasil, um desenvolvimento semelhante na vizinha Bolívia permaneceu em grande parte despercebido.

Lá, como no Brasil, há décadas, é costume destruir florestas para dar espaço ao gado e à soja. Em julho de 2019, o presidente Evo Morales promulgou um decreto que permite a expansão massiva de terras agrícolas em seu país: um método popular para liberar de forma rápida e eficiente a terra de seus habitantes naturais é a queimada. Numerosos incêndios, provocados por agricultores, foram a reação imediata ao decreto de Morales. E, isso, precisamente no início da estação seca.

Handelsblatt – Proteja a floresta! (09/09) [Artigo de opinião escrito pelo diretor da WWF da Alemanha, Eberhard Brandes]

Quando a Notre-Dame pegou fogo em Paris há alguns meses, promessas de doações no valor de quase um bilhão de euros foram recebidas em poucos dias. Agora, a maior floresta tropical do planeta está queimando, e estamos vivendo um teatro bizarro por ridículos 20 milhões de dólares que os países mais industrializados (G7) querem disponibilizar para reflorestamento e combate a incêndios. Independentemente de o novo presidente brasileiro Jair Bolsonaro aceitar ou não o dinheiro, o debate incompreensível mostra que a dimensão do problema ainda não foi reconhecida.

[...] A chave para resolver o problema está no Brasil, mas, nós, europeus, também partilhamos a responsabilidade: a política, empresas e nós, consumidores. Uma das causas dos incêndios devastadores na Amazônia pode ser encontrada em comedouros alemães: a soja. Só na Alemanha, a produção de alimentos para suínos, bovinos e aves requer uma área de cultivo tão vasta como a de Hesse [estado alemão]. Uma grande parte vem da América do Sul. É por aqui que temos que começar.

Consumir menos carne de criação intensiva é apenas uma das muitas medidas possíveis. A política e a economia não devem transferir a responsabilidade para os consumidores. Precisamos de uma política comercial que atribua muito mais valor à sustentabilidade. É aqui que as empresas alemãs também entram em jogo.

[...] A Amazônia, onde vivem 10% de todas as espécies existentes em todo o mundo, é inestimável no verdadeiro sentido da palavra. Os custos – necessários para a sua conservação – são desproporcionais em relação à catástrofe ecológica e econômica que a sua perda implicaria. O ar fuliginoso sobre São Paulo foi um aviso sombrio, ameaçando não só a América do Sul, mas também outras partes do mundo.

TAZ – "Isso nunca aconteceu" (11/09) [Entrevista dada pelo escritor Luiz Ruffato]

Luiz Ruffato, você é um escritor, mas também se expressa muito firmemente sobre a política.

Eu preferiria escrever meus livros e somente falar sobre eles. Mas a situação no Brasil piorou ao longo dos anos e, ao mesmo tempo, muitas poucas pessoas tomaram uma posição clara sobre ela. Em 2013, eu tive uma chance com o discurso de abertura da Feira do Livro de Frankfurt. E, por isso, fui extremamente criticado no meu país. Eles disseram: estamos indo muito bem, e você diz que está tudo indo mal. Mas quando você anda pelas ruas e abre os olhos, é claro que nem tudo é bom.

Por que poucos se posicionam sobre isso?

Por medo. O setor cultural é muito precário. A maior parte do financiamento vem do Estado. E, como muitos dependem dele, não o criticam publicamente. E isso pode gerar consequências. Como eu, por exemplo: desde 2013, nenhuma embaixada brasileira se disponibilizou para uma de minhas leituras, nem mesmo aqui na Alemanha. É por isso que os artistas gostam de dizer: o que eu tenho a dizer sobre o Brasil pode ser encontrado nos meus livros ou você pode ouvi-lo na minha música ou vê-lo nos meus filmes. Mas acho que um intelectual também deve desempenhar um papel importante através da crítica, além de fazer isso na sua arte, especialmente em um país como o Brasil.

Você descreveu o que se passa atualmente no Brasil sob a presidência de Jair Bolsonaro numa palestra em Berlim intitulada "Sobretudo, o caos".

Ninguém, nem mesmo seus apoiadores, teria pensado que Bolsonaro governaria tão mal. Sempre que alguém de seu gabinete anuncia algo, ele fala contra isso se não lhe convier pessoalmente. [...] Ele é ruim para a indústria, o comércio, a agricultura, para não falar dos movimentos sociais. Mas eu acho que a grande oposição que acabará por derrubar Bolsonaro não virá do Brasil, mas de grupos de capital internacional preocupados com seus lucros.

FC/ots

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