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O Brasil na imprensa alemã (12/10)

12 de outubro de 2022

Mídia da Alemanha destaca as perspectivas para o segundo turno da eleição presidencial, o papel dos militares na política brasileira e a ampliação da extração pela Petrobras em meio à mudança climática.

Jair Bolsonaro, políticos e militares enfileirados
Jair Bolsonaro (c.) tem afirmado repetidamente o apoio dos militares a seu governoFoto: Antonio Molina/Fotoarena/imago images

Der Freitag – Ainda não é tarde demais para deter Bolsonaro (06/10)

Lula venceu, mas não triunfou: assim se pode resumir o resultado da eleição presidencial no Brasil. O candidato social-democrata obteve 48,4% e perdeu raspando uma clara vitória no primeiro turno. Porém seu adversário, o mandatário radical de direita Jair Bolsonaro, teve um desempenho igualmente forte, com 43,2% – muito mais forte do que haviam predito as pesquisas de opinião.

Em 30 de outubro haverá a batalha final entre Bolsonaro e Lula, num segundo turno. É uma decisão determinante para que rumo o futuro do país tomará. Se o presidente em exercício ganhar, está em jogo nada menos do que a democracia, embora o "autoritarismo eleitoral" brasileiro ainda esteja engatinhando.

Exemplos de outros países demonstram que chefes de Estado autocráticos precisam ser reeleitos pelo menos uma vez para conseguir desmontar um sistema democrático. Por outro lado, a primeira eleição de um "candidato anti-establishment" como Bolsonaro costuma ser a consequência de pesadas crises na sociedade.

Em tais épocas, floresce o ódio contra supostas elites, cultivam-se estereótipos hostis e o desejo de um recomeço radical. Muitos eleitores talvez não concordem com todos os posicionamentos de um candidato, porém veem nele uma alternativa ao status quo.

A desilusão não se faz esperar. Após assumir o cargo, é comum as autoridades eleitas perderem popularidade, sua cotação nas pesquisas de opinião cai, os eleitores se envergonham por sua decisão. Por outro lado, se há uma reeleição, as portas estão abertas para uma reestruturação de cunho autoritário do Estado.

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Além disso, num segundo mandato, Bolsonaro agiria de modo mais experiente. Nos últimos três anos e meio, ele estragou muita coisa, em parte por incompetência, em parte por bitolamento ideológico. Para seguir se encenando como político antissistema, de início ele batia de frente com o Congresso, porém logo aprendeu a fazer acertos e comprar votos para suas leis. Essa experiência lhe seria útil para, num segundo mandato, fazer passar a temida reforma da lei antiterror.

Hoje, na maioria dos casos os processos democráticos não são torpedeados através de um golpe de Estado clássico, mas sim por ataques sistemáticos. No Brasil sob Bolsonaro, eles se direcionaram à liberdade de imprensa, ao respeito aos adversários políticos e a um debate público civilizado. Em algum momento as erosões assim efetuadas alcançam um ponto sem retorno que faz tombar muita coisa. Justamente por isso mais quatro anos com Bolsonaro seriam uma catástrofe.

Die Zeit – Os generais vão ajudar o presidente com um golpe? (06/10)

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Na agitação com o resultado surpreendente [da eleição presidencial], caiu no esquecimento uma pergunta que se colocara várias vezes nas semanas anteriores: os militares vão tentar um golpe de Estado para impedir o retorno do politico de esquerda Lula? Nas semanas até o segundo turno, essa questão se tornará tão mais urgente.

É uma pergunta que sobretudo Bolsonaro levantou repetidamente. Certa vez anunciou que não deixaria o palácio presidencial por vontade própria. Depois apareceu em comícios onde numerosos fãs exigiam explicitamente uma tomada do poder pelo Exército. No Dia da Independência, no início de setembro, realizou-se no Rio de Janeiro um evento de campanha de Bolsonaro acompanhado de desfile militar; e por último diversos militares de alta patente se apresentaram ao lado do presidente, abertamente e uniformizados.

Ainda pouco antes do domingo da eleição, o jornal Estadão recebeu a informação de que o alto escalão das Forças Armadas havia acordado em "aceitar" qualquer vencedor do pleito. Mas aí a seção de imprensa do Exército enviou imediatamente um desmentido.

O Brasil tem lembranças sombrias de uma ditadura nos anos de 1964 a 1985. A tortura era disseminada, centenas de dissidentes foram mortos. Contudo uma parcela considerável da classe média-alta urbana e muitos ligados aos meios militares cultivam uma visão nostálgica e idealizada dessa época: havia segurança nas ruas, dizem, e os políticos ainda não eram corruptos (o que não é verdade).

Em tais círculos, perdura até hoje a noção de que os militares sejam uma espécie de super-vigilantes, capazes de intervir e salvar a pátria, caso um circo de políticos corruptos não dê conta do recado em Brasília.

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Se conflitos com o Congresso e os governos estaduais acabarem por tornar o país ingovernável até mesmo para o mestre das negociações Lula da Silva, poderá irromper uma briga por sua destituição, o que, por sua vez, seria o tipo de confusão que vai possivelmente acarretar o clamor pela intervenção dos generais.

Uma outra questão é sob que condições estes poderiam embarcar em tais exigências. A liderança militar está dividida nesse assunto: há generais que veem na tomada da responsabilidade de governar perigos para a reputação da tropa e para seus próprios, extremamente numerosos, privilégios (como soldos elevados e pensões generosas).

Nos anos da presidência Lula, de 2003 a 2011, na verdade os militares não tiveram más experiências com o político de esquerda. Ele ampliou generosamente, por exemplo, os benefícios sociais para os soldados. Diante da resistência das elites militares, desistiu do plano de instituir uma Comissão da Verdade para investigar crimes de tortura. Desse modo, Lula manteve a paz com os generais.

Justamente isso poderá agravar ainda mais a ameaça à democracia brasileira no ano 2022: parte da sociedade deseja a volta da ditadura simplesmente por não ter se esclarecido o suficiente sobre os horrores dessa época. Seja como for, o resultado apertado do primeiro turno aumenta a possibilidade de que a saudade de um governo militar cresça nas próximas semanas. Pois uma coisa parece previsível: numa campanha dura e suja antes do segundo turno, a democracia vai mostrar sua cara mais feia.

Neues Deutschland – Brasil expande a extração de petróleo em massa (06/10)

Há pouco o megafuração Ian voltou a demonstrar ao mundo como é importante reduzir o aquecimento global e pôr fim à utilização de combustíveis fósseis. Apesar disso, a companhia petroleira estatal brasileira Petrobras pretende elevar sgnificativamente sua extração.

Pouco antes da eleição presidencial, a empresa anunciara que ia mais do que triplicar a produção de petróleo do mar no litoral de Búzios, a leste da metrópole Rio de Janeiro. Até 2030, pretende-se elevar a extração diária da camada pré-sal, dos atuais 600 mil para 2 milhões de barris. Búzios é considerado o maior campo petrolífero de águas profundas do mundo, já responsável por cerca de 30% da produção da Petrobras.

Ao todo, o Brasil pretende elevar em 73% a produção do "ouro negro" nos próximos dez anos e investir mais de 400 bilhões de dólares nos setores de petróleo, gás e biocombustível, informou no fim de setembro o atual ministro de Minas e Energia, Adolfo Sachsida, na feira Rio Oil & Gas, o maior evento do setor da América Latina.

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O resultado do segundo turno das eleições no Brasil para o cargo de presidente, em 30 de outubro, muito provavelmente não alterará em nada esse quadro. Ambos os candidatos – tanto o atual mandatário, Jair Bolsonaro, quanto Lula da Silva, do Partido dos Trabalhadores – apostam, em seus programas de campanha, numa ampliação da produção petrolífera pela Petrobras. "Nosso plano de investimentos não depende do resultado eleitoral", afirmou um porta-voz da Petrobras na feira especializada no Rio.

Entretanto o aumento da extração e a resultante elevação das temperaturas globais poderá ter consequências graves também para o Brasil. O mais tardar desde o furação que em 2004 causou sérias devastações no estado de Santa Catarina, os brasileiros estão cientes de que também seu litoral não está imune a ciclones.

Até então, tais intempéries extremas eram consideradas impossíveis no Atlântico Sul, devido às temperaturas marítimas relativamente baixas. Contudo os modelos climáticos mais recentes não excluem novos furações na costa leste da América do Sul. As cidades litorâneas do Sul e Sudeste do Brasil, como o Rio de Janeiro com seus milhões de habitantes, não estão, nem de longe, preparadas para tal.

av/ek (ots)

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