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O Brasil na imprensa alemã (14/09)

14 de setembro de 2022

Mídia alemã aborda o que aconteceria se Bolsonaro perdesse a eleição, o "sequestro" das comemorações da Independência pelo presidente e a Floresta Amazônia chegando mais perto do "ponto de inflexão".

Apoiadora de Bolsonaro segura um cartaz com foto do presidente e um terço durante o 7 de Setembro em Copacabana
Apoiadora de Bolsonaro segura um cartaz com foto do presidente e um terço durante o 7 de Setembro em CopacabanaFoto: RICARDO MORAES/REUTERS

Der Spiegel – Com Deus e armas (10/09)

[...] "Estamos passando por um momento de imenso perigo", gritou o ex-juiz Flávio Bierrenbach. Suas palavras ecoaram através do pátio [da Faculdade de Direito da USP, quando ele leu uma das cartas em defesa da democracia, em meados de agosto]. "Ataques infundados e desacompanhados de provas questionam a lisura do processo eleitoral e o estado democrático de direito tão duramente conquistado pela sociedade brasileira." [...]

Quase mil pessoas se aglomeram entre as arcadas nesta manhã. O que os une é a raiva contra um presidente que vem pisoteando o Estado há quase quatro anos. Ele cospe, zomba e o estripa com "desvarios autoritários", afirma Bierrenbach, citando a invasão do Capitólio, em Washington, em 2021.

Como todos os outros que leram a carta, ele não menciona Jair Bolsonaro pelo nome, mas é claro que ele se refere ao presidente quando diz que, no Brasil de hoje, não há mais espaço para pensamentos golpistas. "Ditadura e tortura pertencem ao passado", frisa Bierrenbach.

Esse é o cenário nas últimas semanas antes das eleições presidenciais. Trata-se novamente de questões fundamentais e de em que tipo de país os brasileiros querem viver no futuro.

Tudo indica que esta eleição será um teste de estresse para ver quão forte é a maior democracia da América Latina após quatro anos de Bolsonaro. [...] Quase todos os institutos de pesquisa relevantes mostram Lula na liderança, e alguns até apontam uma possível vitória do adversário de Bolsonaro no primeiro turno.

Mas o que preocupa as pessoas é outra coisa. Elas se perguntam como Bolsonaro reagiria se perdesse a eleição: se ele reconhecerá a derrota ou mergulhará o país no caos. A exemplo de Donald Trump, Bolsonaro vem trabalhando há meses para minar a confiança no processo eleitoral. [...]

Ninguém sabe como as forças de segurança reagiriam se os cidadãos radicalizados realmente invadissem o Congresso ou o Tribunal Superior Eleitoral (TSE). Os policiais encarregados de proteger esses edifícios são, em grande parte, bolsonaristas. De que lado eles ficariam se seu candidato declarasse que a eleição foi roubada? [...] Uma incerteza paira sobre o Brasil.

Der Tagesspiegel – Floresta tropical em ponto de inflexão (08/09)

Mais de um quarto da floresta na bacia amazônica foi destruída – e, com isso, a existência de toda a floresta está em jogo. É o que diz um relatório apresentado na Cúpula da Amazônia, em Lima, no Peru. O detalhe: o texto não foi escrito e apresentado apenas por cientistas, mas por um consórcio de povos indígenas. [...]

O documento se baseou em trabalhos científicos anteriores, nos relatórios do IPCC e em outros documentos. "Ele resume de forma abrangente várias fontes de dados", afirma Kirsten Thonicke, do Instituto Potsdam para Pesquisa de Impacto Climático (PIK, na sigla em alemão). O foco é a perspectiva indígena e, diz Thonicke, "o apoio tardio aos modos de vida indígenas que protegem de forma sustentável o habitat e sua biodiversidade". [...]

A floresta tropical é ameaçada de duas maneiras. Uma delas é através do desmatamento pelo fogo e motosserra para obter mais área. Mas parte dela também foi destruída pelas secas de 2005, 2010 e 2015. "Dentro de uma década houve três secas, que estatisticamente só deveriam acontecer uma vez por século", afirma Niklas Boers, da Universidade Tecnológica de Munique e do PIK. A Floresta Amazônica está, portanto, próxima de um "ponto de inflexão" que tem sido temido há algum tempo – um ponto de inflexão no qual todo o ecossistema poderia entrar em colapso e a floresta poderia se tornar uma savana dentro de décadas. [...]

O futuro da floresta tropical será provavelmente decidido em 2 de outubro. O presidente Jair Bolsonaro se colocou na corrida eleitoral para obter um segundo mandato de quatro anos. Sob Bolsonaro, a destruição da floresta no Brasil progrediu mais rápido do que nunca. Niklas Boers afirma: "Sem uma mudança política no Brasil, a Floresta Amazônica não terá mais chance."

Süddeutsche Zeitung – Caipirinha, cerveja e Bolsonaro (09/09)

É início de tarde em Copacabana. [...] Há horas, uma multidão se move ao longo da Avenida Atlântica. Há dezenas de milhares de pessoas, muitas delas com bandeiras nas cores verde e amarelo em suas mãos. É possível ler "Bolsonaro 2022" e "Intervenção militar agora!" em muitas delas. A música ecoa de trios elétricos, e vendedores ambulantes vendem cerveja e caipirinha. [...]

Em todo 7 de Setembro o Brasil comemora sua independência de Portugal, neste ano pela 200ª vez. Pelo menos na teoria. Isso porque, no Rio, como em muitas outras cidades do país, trata-se neste ano de algo completamente diferente – ou melhor: de alguém completamente diferente, porque Bolsonaro transformou as comemorações numa festa popular em sua homenagem.

No ano passado, o presidente já havia convocado seus apoiadores para realizar comícios em massa no Dia da Independência. [...] Havia receios de que as manifestações pudessem se tornar violentas, e até mesmo uma tentativa de golpe foi considerada possível por alguns, com radicais invadindo o Congresso.

Não chegou a isso, mas Bolsonaro incitou o público contra o Supremo Tribunal Federal e semeou dúvidas sobre o sistema eleitoral. "Eu tenho três alternativas para o meu futuro: estar preso, ser morto ou a vitória", disse o presidente [em agosto de 2021]. "Pode ter certeza: a primeira alternativa, estar preso, não existe."

Agora, um ano depois, o clima no Brasil está ainda mais tenso: eleições serão realizadas no início de outubro, o presidente de direita disputa um segundo mandato e está atrás de Lula nas pesquisas.

Nas últimas semanas, porém, Bolsonaro tem se recuperado, e a distância está ficando cada vez menor. E, agora, ele fez das celebrações do Dia da Independência – a apenas três semanas das eleições – uma peça central de sua campanha e símbolo de apoio popular.

Neues Deutschland – Bolsonaro sequestra o Dia da Independência (09/09)

Antes do final do show aéreo, Jair Bolsonaro desceu do palco, deixando generais e políticos sentados. Ele correu para seus apoiadores, que haviam comparecido às dezenas de milhares. Afinal de contas, é tempo de campanha eleitoral no Brasil – e Bolsonaro está atrás nas pesquisas.

As comemorações do 200º Dia da Independência do Brasil haviam sido planejadas há muito tempo. Porém, em curto prazo, o presidente transferiu o habitual desfile militar do centro da cidade do Rio para Copacabana, presumivelmente para gerar melhores imagens para a sua campanha eleitoral. [...]

Mesmo antes do Dia da Independência, o clima era tenso. Bolsonaro estava atrás nas pesquisas: na maioria delas, mais de 10 pontos percentuais atrás de seu adversário Lula.

Seus apoiadores acham que o presidente está sendo prejudicado na campanha eleitoral, e que "comunistas" estão no Judiciário, na mídia, por toda parte. Em aplicativos de mensagens, eles fantasiavam um golpe de Estado no feriado nacional e exigiam um "segundo Dia da Independência" – "agora ou nunca".

O presidente inflamou ainda mais o clima. Ele chamou membros do Supremo Tribunal Federal de "bandidos" e do Tribunal Superior Eleitoral de "vagabundos". Ele apelou a seus apoiadores para que se manifestassem contra eles "pela última vez". Tais exageros são típicos do populista de direita mais importante da América do Sul. Mas mesmo os especialistas mais experientes não tinham certeza de até onde ele iria desta vez. [...]

Não é apenas o entusiasmo patriótico que leva os apoiadores de Bolsonaro às ruas: foram organizados ônibus de todo o país – muitas vezes pagos por doações anônimas de empresas – para as marchas no Rio e em Brasília. E as poderosas igrejas evangélicas também estão ajudando o presidente. [...]

As chances de Bolsonaro são ruins, mas, nas últimas semanas, ele tem conseguido recuperar parte das intenções de voto. Nos debates na TV, nem Lula nem Bolsonaro têm sido convincentes até agora. Presumivelmente, logo o tom vai subir.

fc/lf (ots)

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