Aceleração de negociações para acordo entre UE e Mercosul antes da posse de Jair Bolsonaro foi destaque da semana em veículos alemães. Biografia de Sócrates em inglês e sua militância contra ditadura também foi tema.
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Frankfurter Allgemeine Zeitung – Livre comércio com a América do Sul ao alcance das mãos, 13/11/2018
O lema é "agora ou nunca". Dos dois lados do Atlântico, há esforços frenéticos para finalizar, ainda este ano e antes do início do novo governo no Brasil, o há muito discutido acordo de associação entre a União Europeia e a aliança sul-americana Mercosul. Otimistas esperam que, durante a cúpula das 20 maiores economias e emergentes do mundo (G20) em Buenos Aires, no final do mês, possa haver o anúncio de um arremate preliminar das negociações.
Jair Bolsonaro não tem pressa. O populista de direita, que vai assumir o mandato presidencial em 1o de janeiro, ainda não declarou de forma decisiva sua posição sobre o acordo planejado. O futuro ministro da Economia de Bolsonaro, Paulo Guedes, disse logo após a eleição que prefere uma abertura veloz da economia brasileira com o maior número possível de acordos comerciais bilaterais, a exemplo do Chile e do México. O Mercosul, que além do Brasil é integrado por Argentina, Paraguai, Uruguai e Venezuela (suspensa), não seria "prioridade" para o novo governo.
Na Comissão Europeia, há cautela sobre um acordo rápido. Se não houver termo agora, as articulações continuarão, diz a Comissão em tom lapidar.
Não é só no Brasil que há interesse em fechar mais pactos bilaterais. Também na Argentina, há quem apoie uma flexibilização da união aduaneira Mercosul, que permitiria aos países-membros fazer exatamente isso – ao contrário do que acontece hoje em dia.
Com a UE, isso não seria possível sem mais nem menos. O mandato de negociação da Comissão Europeia inclui exclusivamente um acordo com o Mercosul como um todo. Se, de repente, os sul-americanos quiserem negociar individualmente, a Comissão teria de pedir um novo mandato junto ao Parlamento Europeu e aos países-membros do bloco. O novo governo brasileiro não vai querer esperar por isso, especialmente porque, após as legislativas europeias em maio de 2019, a maioria favorável às negociações com a América do Sul poderia ser perdida. Mas uma proposta de compromisso excluindo alguns temas poderia dar margem para negociações posteriores ao governo brasileiro.
Der Tagesspiegel – Opinião: Sem acordos incondicionais com racistas, 08/11/2018
Até agora, o acordo com o Mercosul corresponde ao modelo clássico da Comissão Europeia para pactos comerciais: estabelece simplesmente a liberalização para a economia, mas poucas regras para a proteção do meio ambiente, dos direitos humanos e dos consumidores. Depois da eleição de Jair Bolsonaro a presidente do Brasil, para nós é inconcebível continuar nesse mesmo curso.
Especialmente agora, a UE poderia apoiar e proteger a população civil brasileira se repensasse sua política comercial e fizesse da imposição dos direitos humanos, dos direitos dos trabalhadores e da proteção ambiental a condição de seus acordos comerciais.
Em muitos pactos comerciais europeus, há cláusulas de direitos humanos. Com elas, a UE pode aumentar a pressão no caso de graves violações dos direitos humanos no país parceiro e retirar benefícios comerciais como taxas alfandegárias mais baixas.
Por outro lado, a UE mal fez uso dessas cláusulas até agora. Isso precisa mudar. Se o novo governo do Brasil violar os direitos de homossexuais, opositores políticos ou minorias étnicas, a UE deverá suspender partes ou a totalidade do acordo.
Diferentemente de outros pactos comerciais, regras para a proteção ambiental ou dos direitos dos trabalhadores devem ser vinculativas e sancionáveis. Se Bolsonaro realmente se despedir do Acordo de Paris sobre o clima ou permitir mais desmatamento na Amazônia, isso deverá ter consequências para as relações comerciais com a Europa.
Na nossa visão, chegou a hora de finalmente usar a política comercial europeia como aquilo que ela poderia ser: como instrumento para fazer do mundo um lugar um pouco mais justo. Continuar negociando o acordo UE-Mercosul com esse presidente brasileiro como vem sendo feito até agora é o caminho errado.
Süddeutsche Zeitung – Liberdade de pensamento, 13/11/2018
Só seu nome já soa como um monumento: Sócrates Brasileiro Sampaio de Souza Vieira de Oliveira.
A biografia Doctor Sócrates: Footballer, Philosopher, Legend, do jornalista da agência Reuters Andrew Downie, descreve o jogador que concluiu também os estudos de medicina, com ênfase em pediatria. E faz um retrato do revolucionário Sócrates, filho de uma família de classe média; dois de seus irmãos se chamavam Sóstenes e Sófocles.
O homem de orientação hedonista era, ao mesmo tempo, um defensor aguerrido da liberdade de pensamento num país que ainda não era livre. O Brasil era uma ditadura militar quando, em 1982, Sócrates desenvolveu um sistema de participação decisória no seu clube, o Corinthians. Goleiro, gandula, diretor: todos podiam decidir o que faria parte do cardápio, a que horas seria o treino no dia antes do jogo e que transferências faziam sentido.
Sócrates morreu em 2011, aos 57 anos. Ele tomou a liberdade de arruinar seu corpo cedo. Desde então, faz falta ao seu país. A biografia fala de um futebolista que tinha a força de desestabilizar a ditadura militar. Era muito diferente de hoje, quando o ex-capitão de extrema direita Jair Bolsonaro foi eleito presidente, um antidemocrata que coloca a liderança severa e militar no lugar de liberdade e pensamentos – e é apoiado por heróis do futebol como Ronaldinho, Rivaldo e outros.
O futebol, assim como mostrou a Copa do Mundo este ano na Rússia, corre o risco de se tornar instrumento do totalitarismo. E, assim, a biografia do maravilhoso Sócrates se lê como o posfácio de outros tempos, de um futebol menos temeroso e de um Brasil mais feliz.
RK/ots
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Treze candidatos se apresentaram para disputar o Planalto. O líder das pesquisas acabou fora da corrida, e vários nomes tentam contornar isolamento partidário. Veja os principais episódios da disputa.
Foto: Reuters/A. Machado
Bolsonaro é eleito presidente
Em segundo turno, os brasileiros elegeram Jair Bolsonaro (PSL) como presidente. Após uma campanha eleitoral polarizada, o militar reformado de extrema direita recebeu 55,13% dos votos, contra 44,87% de Fernando Haddad (PT). Com bandeiras do Brasil e vestidos nas cores verde e amarelo, eleitores comemoram pelo país. No discurso da vitória, Bolsonaro prometeu um governo constitucional e democrático.
Foto: picture-alliance/AP Photo/S.Izquierdo
TSE abre investigação contra Bolsonaro
A pouco mais de uma semana do segundo turno, o Tribunal Superior Eleitoral abriu uma ação para investigar suspeitas de compra de disparos de mensagens antipetistas no WhatsApp por parte de empresários aliados a Bolsonaro. O pedido de investigação foi feito pelo PT, após uma reportagem do jornal "Folha de S. Paulo". A PF também abriu inquérito para investigar a disseminação em massa de "fake news".
Foto: Reuters/R. Moraes
Bolsonaro e Haddad vão ao segundo turno
Numa das eleições mais polarizadas da história, em 7 de outubro os brasileiros levaram ao segundo turno os dois candidatos que, segundo sondagens, são também os mais rejeitados: Bolsonaro (PSL) e Haddad (PT). Favorito no Sul e Sudeste, o ex-militar teve 46% dos votos válidos contra 29% do petista, que foi o mais votado em oito estados do Nordeste e no Pará. Em terceiro, Ciro Gomes (PDT) teve 12%.
Foto: Reuters/P. Whitaker/N. Doce
Bolsonaro cresce nas pesquisas
Já líder nas pesquisas, o candidato do PSL ampliou sua vantagem no início de outubro, ultrapassando pela primeira vez a marca de 30% em sondagens do Ibope e do Datafolha. Ao longo da semana que antecedeu as eleições, o ex-capitão foi subindo e, na véspera do pleito, cruzou a barreira de 40% dos votos válidos. Após ser esfaqueado, a campanha do candidato se concentrou nas redes sociais.
Foto: Reuters/P. Whitaker
A troca de Lula por Haddad
Após meses de suspense e com aval de Lula, Fernando Haddad foi oficializado candidato à Presidência pelo PT em 11 de setembro, a menos de um mês do primeiro turno, após se esgotarem as chances de o ex-presidente concorrer. Preso e virtualmente inelegível pela Ficha Limpa, Lula era líder nas pesquisas de intenção de voto. O desafio agora será transferir votos para o ex-prefeito.
Foto: Agencia Brasil/R. Rosa
Ataque a Bolsonaro
O candidato do PSL foi esfaqueado durante um ato de campanha em Juiz de Fora, um ataque que prometia mudar os rumos da corrida presidencial. Seus adversários condenaram a agressão, e alguns chegaram a mudar o tom da campanha. Não houve, contudo, um impacto decisivo sobre o eleitorado. Ele segue líder das intenções, mas com percentual praticamente igual. A rejeição a ele, por outro lado, aumentou.
Foto: picture-alliance/dpa/Agencia O Globo/A. Scorza
O "plano B" do PT
Com Lula virtualmente inelegível, a escolha do seu vice passou a ser encarada como um trampolim para um candidato substituto. No início de agosto, o PT acabou indicando Fernando Haddad, que desde o início do ano era cotado como "plano B". Manuela D'Ávila (PCdoB) ficou com a curiosa posição não oficial de "vice do vice", assumindo a posição com Lula candidato ou não.
Foto: Agência Brasil/F.Rodrigues Pozzebom
A novela dos vices
A fase de convenções começou no fim de julho sem que a maioria dos pré-candidatos tivesse um vice. Bolsonaro teve três convites recusados até fechar com o general Mourão (PRTB). Henrique Meirelles (MDB) e Ciro Gomes (PDT) se contentaram com nomes do próprio partido. Alckmin teve convite recusado pelo empresário Josué Alencar, cuja família é ligada a Lula, antes de optar por Ana Amélia (PR).
Foto: Agência Brasil/F.Frazão
Os candidatos isolados
A jogada de Alckmin com o "centrão" acabou isolando outros candidatos. Jair Bolsonaro (PSL) tentou negociar com o PR, mas teve que se contentar com o nanico PRTB. Ciro Gomes (PDT) também viu suas investidas no grupo naufragarem. Marina Silva (Rede) e Ciro também não conseguiram apoio do PSB, que ficou neutro numa manobra do PT. Os três terminaram a fase de convenções com pouco apoio e tempo de TV.
Alckmin fecha com o "centrão"
Em julho, o tucano Geraldo Alckmin ainda patinava nas pesquisas, mas criou um fato novo na campanha ao conseguir o apoio do "centrão", as siglas que costumam emprestar seu apoio a governos em troca de cargos e verbas. Ao se aliar com PR, PP, PSD, DEM e SD, Alckmin passou a dominar 44% da propaganda eleitoral na TV. Sua coligação também recebe 48% do novo fundo de campanhas.
Foto: Getty Images/AFP/E. Sa
Candidaturas descartadas
A eleição de 2018 parecia destinada a superar o número de candidatos de 1989, quando 22 disputaram. Em abril, 23 manifestavam interesse em concorrer, entre eles o presidente Michel Temer, o presidente da Câmara, Rodrigo Maia, e o ex-presidente Fernando Collor. Mas eles logo desistiram ou foram abandonados por seus partidos. Outros aceitaram ser vices. Em agosto, só 13 permaneciam na corrida.
Foto: Marcelo Camargo/Agência Brasil
Os "outsiders" saem de cena
A possibilidade de Lula ficar de fora e o sentimento antipolítico entre a população sinalizavam que esta seria a eleição dos "outsiders". O ex-ministro do Supremo Joaquim Barbosa e o apresentador Luciano Huck chegaram a ser incluídos em pesquisas. O empresário Flávio Rocha anunciou candidatura. Em julho, todos já haviam desistido, e a disputa ficou restrita a velhos nomes da política.
Foto: Imago/ZUMA Press/M. Chello
Lula é condenado e preso
Quando anunciou, em 2016, a intenção de disputar a eleição, Lula se tornou o líder nas pesquisas. Em janeiro, porém, sua situação se complicou após uma condenação em segunda instância que o deixou virtualmente inelegível. Em abril, foi preso. Com a possibilidade de a candidatura ser barrada, o PT passou a ter dificuldades em formar alianças, e o desfecho do pleito ficou ainda mais imprevisível.
Foto: Reuters/L. Benassatto
Entra em cena o fundo de campanhas
Diante da proibição das doações por empresas, o Congresso criou em outubro de 2017 um novo fundo de R$ 1,7 bilhão para financiar candidaturas, já definindo a capacidade financeira de várias campanhas. Quase 60% do valor ficou concentrado em seis legendas: MDB, PT, PSDB, PP, PSB e PR, deixando candidatos à Presidência de pequenas e médias siglas com menos recursos na largada.