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O Brasil na imprensa alemã (19/01)

19 de janeiro de 2023

Imprensa alemã destaca desdobramentos políticos após violência bolsonarista em Brasília e volta a comparar ex-presidente brasileiro com Trump

Brasilien Bundespolizisten bewachen das Gebäude des Obersten Gerichtshofs nach Protesten
Policiais federais vigiam prédio do STF após protestosFoto: Sergio Lima/AFP

Die Zeit - Bolsonaro admite "alguns deslizes" durante sua gestão (17/01)

O ex-presidente de extrema direita [Jair Bolsonaro] deixou o Brasil dia 30 de dezembro, dois dias antes da posse de seu sucessor da esquerda, Luiz Inácio Lula da Silva. Ele venceu Bolsonaro por uma pequena margem de diferença nas eleições presidenciais de outubro. Bolsonaro nunca reconheceu oficialmente sua derrota eleitoral e está atualmente nos Estados Unidos. No entanto, ele anunciou recentemente que voltaria ao Brasil.

Em trecho de vídeo publicado [pelo portal de notícias Metrópoles], apoiadores do ex-presidente aconselham Bolsonaro a não fazer isso. No Brasil, o Supremo Tribunal Federal está investigando o papel do ex-presidente na invasão violenta ao Palácio do Planalto, Congresso Nacional, e Supremo Tribunal Federal. Os manifestantes se recusam a reconhecer o resultado da eleição e alguns pedem um golpe militar.

"Lamento o que aconteceu", disse Bolsonaro, chamando o acontecido de "inacreditável". No entanto, tanto antes quanto depois das eleições, ele sistematicamente alimentava dúvidas sobre o sistema eleitoral brasileiro e alertava contra fraudes eleitorais.

Süddeutsche Zeitung – Entender melhor o Brasil com Lygia Fagundes Telles (18/01)

Como é ser livre? Após os ataques a prédios do governo, vale a pena redescobrir a obra da escritora Lygia Fagundes Telles. 

São Paulo, 1973. A ditadura militar atinge o auge quando Lia, Ana Clara e Lorena se conhecem em um prédio de estudantes. As três alunas se tornam amigas, embora dificilmente pudessem ser mais diferentes. Além da experiência de serem expostas à violência de um estado repressivo quando jovens, elas compartilham acima de tudo uma coisa: a solidão.

Esse é o ponto de partida de As meninas, terceiro romance de Lygia Fagundes Telles, que faleceu ano passado com mais de cem anos de idade. Agora que a situação política no Brasil é particularmente tensa, definitivamente, deve-se reler a obra. Nela, Fagundes Telles critica um regime repressivo como o que a direita de hoje almeja novamente quando ataca prédios do governo brasileiro e exige intervenção militar, como fizeram há uma semana. Assim como neste livro, muitos de seus escritos fornecem um vislumbre do que está em jogo quando as instituições democráticas são minadas. Mais irritante ainda é que seus escritos não são mais publicados na Alemanha.

[...]

Além de formas mais sutis de opressão, que Fagundes Telles torna visíveis em suas histórias, ela descreve em As meninas um episódio de tortura de forma explícita. Apesar da censura, Fagundes Telles retratou em detalhes a brutalidade do Estado. As autoridades teriam considerado a obra apolítica por causa de sua apresentação. Ainda hoje, a capa da atual edição brasileira é rosa e estampada com flores coloridas.

Embora o potencial subversivo do livro pudesse ser ocultado com esse disfarce, é de se supor que atualmente Lygia Fagundes Telles se incomodaria com as atribuições associadas a ele. Ela costumava se irritar com o mundo literário, por exemplo, quando uma editora queria colocar seu rosto na capa de um de seus livros. Ela trocava regularmente impressões sobre os homens do mundo literário com uma grande amiga carioca: Clarice Lispector, também ícone da literatura brasileira. "E o estímulo do leitor? E daí? 'As glórias que vêm tarde já vêm frias', escreveu o Dirceu de Marília. Me leia enquanto estou quente", disse ela em entrevista na década de 1970.

Frankfurter Rundschau - Opinião: Trump, Bolsonaro e o neonazifascismo na América do Norte e do Sul (18/01)

Os ataques em Brasília tinham o objetivo de preparar um golpe militar. Jair Bolsonaro segue o roteiro de seu modelo norte-americano, Donald Trump, e deixa um país marcado.

Jair Bolsonaro e Donald Trump em março de 2019Foto: Pool/ABACA/picture alliance

Infelizmente, muito do que é condenável no Brasil sempre esteve e ainda está relacionado aos Estados Unidos. Seja com intervenção direta ou orientação, como durante a ditadura militar brasileira entre 1964 a 1985, amplamente apoiada e financiada pelos EUA (não só no Brasil, mas também em outros países latino-americanos). Ou quando o exemplo ou influência de eventos políticos negativos em Washington foram suficientes para serem rapidamente "importados" pelo Brasil. É o caso do bolsonarismo, que muitos acreditam que nem teria emergido sem o trumpismo.

[...]

Dois meses após as eleições, em 1º de janeiro de 2023, Lula assumiu a presidência pela terceira vez na vida, saudado por seus apoiadores e sob o olhar odioso de uma parcela dos bolsonaristas. A situação de fato parecia estar se agravando e, dada a lógica Trump-Bolsonarista, não era de se descartar que algo semelhante à invasão ao Capitólio em Washington, em 6 de janeiro de 2021, também fosse tentado na capital brasileira.

E foi o que aconteceu. Bolsonaro deu a próxima cartada em sua imitação da ação absurda de Trump. No dia 8 de janeiro, cerca de 4 mil seguidores do ex-presidente invadiram e profanaram os três prédios do poder do Estado brasileiro (Congresso, Palácio do Planalto e Supremo Tribunal Federal), demoliram monumentos e símbolos significativos. A ação provavelmente foi planejada para provocar uma intervenção militar. Mas Bolsonaro nunca teve esse apoio do alto escalão das Forças Armadas, então essa tentativa de golpe fracassou.

fa (ots)

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